Li em tempos, da pena de um místico
italiano já falecido, que o doente não se cura mudando-o de cama. O que
o cura é o boa prescrição que o médico lhe receita. Porém, antes da
medicação, há que saber fazer o diagnóstico correcto. Assistindo aos
últimos tumultos da paupérrima vida política portuguesa - que perdeu o
rumo e desbaratou as últimas três semanas num risível folhetim - surge
de manifesto que o mal de que padece Portugal e o regime não pode ser
corrigido sem o diagnóstico correcto. Que cada um tire as ilações e
reflicta sobre isto.
O problema, meus caros, foi diagnosticado há quase 20 anos por Richard
von Weizsäcker, para não referir outras autoridades menos consensuais.
Para Weizsäcker, que na altura levantou imenso coro de protestos, a
democracia foi pervertida e substituída pela partidocracia. Os partidos
políticos transformaram-se num quinto poder e destruíram lentamente a
autonomia dos restantes quatro poderes: ocupam o legislativo, o
executivo, o judicial e até os poderes moderadores. O problema é que
esta forma corrupta de democracia se transformou numa nomenclatura
fechada, incapaz de discernir a medida justa, o bem-comum e os
interesses gerais da sociedade. Sendo os partidos um elemento
fundamental da democracia, não são a democracia.
É esta, fundamentalmente, uma das
razões pelas quais sou monárquico. O reforço do poder moderador - que
por ser aquele que maior consenso reúne - pode permitir que o Estado e a
sua maquinaria se libertem do clientelismo dos partidos; que os juízes
que velam pela imparcialidade não sejam cooptados entre gente de
partidos; que o critério de competência para o exercício de funções
técnicas e executivas não passe por acordos entre partidos. Enquanto
daqui não sairmos, não vamos a parte nenhuma.
Miguel Castelo-Branco
Fonte: Combustões
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