Um
pai está a tentar impedir que a filha de oito anos aprenda Português
com as novas regras do Acordo Ortográfico (AO). «Já falei com o
professor e expliquei à directora que não aceito que ela seja ensinada
assim», explicou ao SOL José Manuel Bom, que acredita que o AO não está
em vigor.
«Nada revogou o decreto-lei de 1945 que define as regras da
ortografia que usamos», defende o consultor, que ainda não obteve da
escola qualquer reacção. «Até ao momento, ainda não tive resposta». De
resto, o SOL tentou também sem sucesso ter uma resposta do Agrupamento
de Escolas Eugénio dos Santos, em Lisboa, que não fez qualquer
comentário.
Pais à procura de apoio jurídico
José Manuel Bom acredita, contudo, que não está sozinho.
«Há
na internet vários pais que anunciam em blogues que não querem os
filhos a aprender regras absurdas», conta o encarregado de educação que
se queixa de não perceber a forma como a filha pronuncia as palavras
escritas com a nova ortografia. «Há palavras que ficam irreconhecíveis.
Por exemplo: deixa de haver uma maneira de diferenciar 'para' e 'pára',
porque o acento do verbo desaparece».
João Pedro Graça, um dos
activistas anti-acordo, explica que há «muitos pais que querem evitar
que os filhos aprendam segundo o AO».
O problema, conta, é que
quando procuram apoio no seu movimento Iniciativa Legislativa de
Cidadãos contra o Acordo, este não pode fazer nada.
«Não somos uma instituição. Não podemos dar apoio jurídico. Tem de ser cada um por si».
Ainda
na semana passada, num evento de recolha de assinaturas contra o AO, em
Lisboa, foi esta a resposta que teve de dar a um pai «que queria saber
como poderia travar o Acordo».
António Emiliano, professor de
Linguística da Universidade Nova de Lisboa, acredita, porém, que o facto
de haver pais a organizar-se pode fazer com que a resistência ao Acordo
seja mais eficaz.
«Foi o que aconteceu com a TLEBS, uma
terminologia nova para a gramática que não fazia sentido nenhum», conta,
lembrando que «o Governo acabou por recuar no essencial, graças à
pressão das associações de pais».
Já a resistência por parte dos
professores pode ser muito mais difícil. «Têm-me chegado denúncias de
professores que anunciaram que não iriam aplicar o Acordo e que, por
isso, começaram a ter as piores turmas e os piores horários e a ser alvo
de verdadeiras perseguições por parte das direcções», revela João Pedro
Graça.
O Ministério da Educação e Ciência (MEC) assegura,
contudo, não ter conhecimento de qualquer situação em que pais se
estejam a recusar a que os filhos estudem com a nova ortografia
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