Tendo
deixado pegadas do meu nome em dezenas de livros que são os marcos
miliários da minha obra caleidoscópica, não preciso de perguntar a
nenhum dos que estão aqui, o que, nessa obra, os trouxe aqui.
Não
foram os Poemas, nem os estudos históricos; não foram os trabalhos de
investigação erudita, nem os estudos de revisão histórica; não foram as
polémicas literárias ou filosóficas, ou as críticas teológicas. Pode
haver alguma coisa de tudo isto; mas o que principalmente vêem em mim é o
que lá fora faz de mim alvo dos aplausos delirantes, ou de pedradas
furiosas: o doutrinador político e social, o expositor da Monarquia e do
Nacionalismo integral, do Autoritarismo contra-revolucionário, do
Tradicionalismo católico e ocidental – numa palavra, o doutrinador de
Portugalidade.
Repito e insisto: de Portugalidade.
Nem da
Latinidade – termo que nada significa, por amplo de mais; nem da
Hispanidade, que nos absorve e confunde; nem da Lusitanidade, que nos
abastarda. Não somos latinos, nem somos hispanos, nem somos lusitanos,
somos portugueses!
A Latinidade é uma categoria histórica, sem base
concreta; a Hispanidade tem Castela por centro; a Lusitanidade tem por
lar a Lusitânia que não é toda nossa.
Só a Portugalidade é inteiramente nossa, característica e tipicamente nossa.
Portugalenses,
portugaleses, portugueses, assim nos chamamos e nos chamaram, ao
nascer; assim nos chamamos e nos chamaram, durante séculos, até que a
pedantaria dos humanistas nos crismou de – lusitanos.
Portugueses
nascemos, portugueses devemos morrer. Doutrinador de Portugalidade – eis
o sector da minha multiforme actividade intelectual, que, como íman
fatídico, atrai as dedicações luminosas que me cercam, aqui, e lá fora, e
encandeia os ódios e os rancores que me seguem a sombra...
Porque
doutrinador de Portugalidade – católico, não católico progressivo, à
maneira de Maritain e os seus sequazes portugueses, mas católico
português, como sempre foram os portugueses católicos que nunca se
envergonharam de o ser, e nunca se esconderam sacrílega e comodamente
atrás do termo equívoco, confuso e neutro de cristão, como nunca
aceitaram que lhes estendessem a mão os inimigos da sua Fé.
Sou católico, intemeratamente fiel ao Credo fixado na Profissão fidei tridentina, em 13 de Novembro de 1534; católico conscientemente informado no Syllabus;
católico português, empregando todos os meus esforços para que a Nação
regresse à sua missão de Fidelíssima, mas não tocada dum Fidelismo
progressivo, e anarquizante das consciências.
Porque doutrinador de
Portugalidade – monárquico, porque foi a Monarquia que fez Portugal, mas
a Monarquia pura, a Monarquia tradicional, a que vem de 1128, se afirma
em Ourique, se consolida em Aljubarrota, rasga o caminho marítimo da
Índia, cria o Império, sucumbe, devagar, em Alcácer, e ressuscita em
1640, para cair, apunhalada pelas costas, em 1834, em Évora-Monte.
Porque
doutrinador de Portugalidade – monárquico, mas da Monarquia que fez a
Nação, e não da que começou a desfazê-la; da Monarquia em que o Rei é a
síntese viva do Povo, da Monarquia que ama o Povo, que se confunde com o
próprio Povo – mas o Povo verdadeiro, e não o Povo dos Partidos, o Povo
pulverizado em indivíduos que são números; a Monarquia que é o próprio
Povo, o Povo trabalhador, – camponês, soldado, marinheiro, artífice,
doutor, padre, letrado, sábio, artista, funcionário, e não o Povo vadio e
tunante das conjuras, das alfurjas, dos apetites das facções, dos
grupos e dos clubes políticos, dos demagogos e arruaceiros.
Porque
doutrinador da Portugalidade – inimigo da Democracia que, entrando as
nossas fronteiras nas mochilas das hordas napoleónicas representativas
da Revolução Francesa, nos veio dementar, e se instalou no Poder em
1820, e tomou conta definitivamente do Estado, sob a máscara de
Monarquia, em 1834, com o Senhor D. Pedro, Imperador do Brasil, e sem
máscara, em 5 de Outubro de 1910, por obra e graça da Carbonária de
Lisboa.
Porque doutrinador de Portugalidade – inimigo do Liberalismo
político que matou as liberdades profissionais ou corporativas, e as
regalias municipais – preanunciando o Standardismo comunista.
Porque doutrinador de Portugalidade – adversário do Parlamentarismo que é a falsificação do Supremo Interesse Nacional.
Porque
doutrinador de Portugalidade – amigo do Povo, cheio de carinhos para as
suas desditas, cheio de entusiasmo fervoroso para as suas glórias,
ríspido, às vezes, para os seus desmandos, mas sempre zeloso das suas
virtudes, e, consequentemente, inimigo declarado e implacável dos
exploradores das suas paixões e dos seus instintos, dos que,
sistematicamente, fazem dele degrau para as suas ambições mais
depravadas, e para a satisfação dos seus interesses mais inconfessáveis.
Porque
doutrinador de Portugalidade – defensor do Povo contra os Mitos que o
fascinam e pervertem, contra as nuvens que o embriagam e corrompem,
contra as Miragens que o seduzem e estrangulam.
Porque doutrinador de
Portugalidade – nacionalista integral, pondo acima de tudo, e de todas
as considerações, o Interesse legítimo, o Prestígio honesto, a grandeza
eterna, e a honra Imaculada da Pátria – e por isso mesmo católico e
monárquico.
E é ainda porque doutrinador de Portugalidade, que páro, a
escutar e a interpretar as vozes que vêm de lá de fora e da distância –
pela repercussão que possam ter nos destinos da minha Pátria.
Alfredo Pimenta in Em Defesa da Portugalidade.
Alfredo Pimenta in Em Defesa da Portugalidade.
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