Jornal “Correio do Minho” de 28 de Novembro, pág. 15
O
nosso país atravessa, como sabemos, problemas económicos, que implicam a
tomada de medidas radicais por parte do Governo. No meio do vendaval
destas políticas, económica e socialmente repressivas, vou centrar-me
apenas na proposta de extinção de feriados, ou a sua colagem ao domingo
seguinte.
Sendo
republicano, nada me impede de pensar numa vertente monárquica, uma vez
que, presume-se, o Governo pretende mexer com o feriado que celebra a
implantação da República no nosso país (5 de Outubro), exactamente um
ano após a celebração do seu centenário.
Se for de facto verdade, o Governo até poderá ter razão, ao decidir alterar os festejos da implantação da República, uma vez que ao longo destes 101 anos, mas com mais incidência no pós-25 de Abril de 1974, têm surgido de uma forma assinalável, muitos nobres em pleno regime republicano!
Se for de facto verdade, o Governo até poderá ter razão, ao decidir alterar os festejos da implantação da República, uma vez que ao longo destes 101 anos, mas com mais incidência no pós-25 de Abril de 1974, têm surgido de uma forma assinalável, muitos nobres em pleno regime republicano!
Ao
longo dos 767 anos de regime monárquico (1143-1910), existiram centenas
de famílias nobres, que desempenharam um papel determinante na
afirmação da nossa independência e da nossa soberania e, posteriormente,
na afirmação universal da nossa cultura, cujo resultado ainda hoje é
bem visível, uma vez que há vestígios da presença portuguesa um pouco
por todo o mundo. Esses vestígios, não sendo exclusivamente fruto do
trabalho dos nobres, tiveram deles uma acção muito vincada.
As
gerações de nobres portugueses foram-se mantendo ao longo de todo o
regime monár-quico havendo, no entanto, alguns que não desempenharam as
suas funções da forma mais conveniente, mas cujos motivos não são aqui e
agora oportunos enumerar.
A
maioria dos nobres portugueses (com a excepção da parte final da
monarquia portuguesa, em que esses títulos eram concedidos a pessoas que
pagavam elevadas quantias ao regime, sem contudo o regime perder com
isso) tudo fez para desenvolver o nosso país, fazendo-o com
inquestionável sentido patriótico e elevada paixão pela causa lusitana.
Muitos deles não necessitavam de se envolver em esquemas menos lícitos,
uma vez que tinham suporte económico, e até grande formação intelectual,
que os dispensavam de enveredar por esse caminho.
No
entanto, nos últimos 100 anos, principalmente no pós-25 de Abril de
1974, temos assistido ao aparecimento no nosso país de um crescente
número de figuras públicas, que se tentam afirmar e viver como
verdadeiros nobres, mas da forma mais incorrecta e antipatriótica que se
pode imaginar.
Se atendermos ao facto de os nobres serem figuras de prestígio social, e com grande poder
económico, verificamos que no pós-25 de Abril surgiram republicanos que
criaram um verdadeiro império senhorial. O problema é que esse império
foi construído através de desvios de grandes quantias de dinheiro, do
envolvimento em chocantes jogos de influência política e de grandes
estratégias obscuras, aproveitando-se dos cargos políticos que ocupavam e
dos jogos de influência que podiam e podem exercer. Muitos desses nomes
conhecemo-los pelas notícias que circulam nos média.
Ora,
não podendo eu impedir que a comunicação social revele os nomes dessas
figuras, figurinhas ou figurões, limitar-me-ei apenas a identificar os
verdadeiros nobres da República Portuguesa:
Valentim
Loureiro e o seu filho João Loureiro, José Penedos e o seu filho Paulo
Penedos, Armando Vara, José de Oliveira e Costa, Dias Loureiro, Isaltino
de Morais, José Raposo ou Vale e Azevedo. Há ainda o caso mais recente
de Duarte Lima e do seu filho, envolvidos em negócios de dezenas de
milhões de euros, quando eles próprios afirmam que nasceram pobres.
Há
a acrescentar a estes nobres, outros grandes burgueses, como são os
casos de vários políticos ou ex-políticos, que recebem pensões
vitalícias de mais de dois mil euros mensais, como Assunção Esteves,
Ângelo Correia, Zita Seabra, Carlos Melancia, Joaquim Ferreira do Amaral
e muitos, muitos outros.
São
estranhas as fortunas avolumadas por estes “nobres”, uma vez que, não
herdando a maioria deles avultadas fortunas (do tipo senhorial), nem
tampouco foram bafejados pela sorte da lotaria, jamais conseguiriam
avolumar semelhantes fortunas, apenas pelo fruto do seu trabalho e do
seu salário.
Por
fim, e não menos importante, um outro nobre está preparado para se
afirmar na sociedade portuguesa republicana: Pedro Jardim, o filho de
Alberto João Jardim, que já foi convidado para assumir um cargo de
grande importância na Madeira, precisamente na gestão das quatro
Sociedades de Desenvolvimento da Madeira. E não era nesta Madeira que
diziam haver uma grave crise económica e financeira?
São
para estes verdadeiros nobres da República que vão uma parte dos nossos
impostos e dos nossos sacrifícios. São estes verdadeiros nobres da
República que envergonham a nossa sociedade, o nosso país e que nos têm
deixado praticamente na miséria. São estes verdadeiros nobres da
República que nos fazem, por momentos, pensar que, com nobres deste
género, mais vale regressarmos à Monarquia!
Joaquim da Silva Gomes
Professor e investigador
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