O Milénio português
Nenhum dos leitores deste post estará vivo para o testemunhar, mas
Portugal é um dos países que mais depressa celebrará mil anos de
independência.Independência tortuosa, fortemente enraizada nos penedos
que limitam a Europa à beira do “Fim do Mundo ” (dos gregos aos europeus
da Idade Média) que hoje aparenta desvanecer da face do Mundo.Estarão
os portugueses a desistir do espírito de 1640?
Chegaremos ao Milénio…isto se resistirmos até
2143. Ou, pelo menos, soprar 900 velas daqui a 31 anos, o que muitos de
nós irá testemunhar. Portugal pode consegui-lo, mas tem contra si tanto
problemas económicos estruturais quanto a erosão da vontade de existir
como Nação.
É neste quadro que aparece a extinção do feriado de 1
de Dezembro, que celebra o dia em que os Restauradores tendo posto fim a
60 anos de domínio Castelhano mas não lograram que os futuros
portugueses negociassem o seu feito (e o dos ascendentes de todos nós)
em troco de benefícios de crédito externo ou a mera condescendência à
nossa “óbvia incapacidade de existir enquanto Nação moderna”
Apesar da extinção burocrática da data a acção apenas
reforça a imagem da Restauração como garante último da continuidade da
comunidade (ou Estado). Afinal defender a Restauração é o protesto
popular mais genuíno , a revolta na sua forma mais absoluta contra um
regime que não só se divorciou do Estado (todos nós) como atenta contra
os fundamentos da própria sociedade que o sustenta.
«Superior aos indivíduos duma triste hora passageira, a
Pátria não é, com efeito, de modo nenhum o pretexto das nossas paixões
transitórias, nem a nós nos assiste o poder de a transformarmos segundo
os nossos caprichos e conforme as nossas ideologias. O
estrangeiro não é, portanto, unicamente aquele que nasceu de outra
comunidade com outra língua e outros costumes. É também estrangeiro o
que, insurreccionando-se contra a regra que o conformou socialmente,
realiza em si a tremenda palavra de Comte, ao condenar a Revolução como
sendo a “rebeldia do ser contra a espécie”.
Ora quando esse estrangeiro, que é bem o estrangeiro do
interior, desnacionalizado por ideias cosmopolitas, maçonizado por
interesses baixos de seita, se apodera do governo duma nação para lhe
imprimir uma finalidade adversa aos seus sentimentos fundamentais, não
haverá legitimamente, até da parte duma minoria, o direito de revolta?
– António Sardinha in A Prol do Comum.
Portugal chegará ao Milénio com certeza e
os portugueses continuarão a existir, sem republicanos ou com eles ;com
Europa ou sem ela mas certamente com um Rei a atestar a vontade comum de
sermos independentes
RGS
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