Agostinho Baptista da Silva (Porto, 13 de Fevereiro de 1906 — Lisboa, 3 de Abril de 1994) |
(…) “numa prefiguração da Commonwealth, haver uma
companhia de republicas unificadas por uma Coroa; uma Península que
tivesse conservado aquele gosto de conversação, de “vida conversável”,
como diria mais tarde um navegador, para cristãos, judeus e árabes, essa
Península, para lá de todas as contingências económicas, teria dado
modelo a mundo.” Agostinho da Silva, Ensaios sobre Cultura e Literatura Portuguesa e Brasileira I, pag. 30
Ainda que possa parecer contraditória, esta visão agostiniana de uma
federação de repúblicas encabeçada por um rei, esta fusão de
republicanismo com monarquismo, ainda que não seja algo novo no modelo politico português estando mesmo escrita em documento do sec XVII o principio da Igualdade que formaliza o ideário republicano,
bebe diretamente na capacidade sincrética que caracteriza a maneira
lusófona de estar perante o mundo. As “repúblicas” de Agostinho da Silva
são não somente as nações ibéricas como Portugal, Galiza ou a Catalunha
e o Pais Basco, mas também os municípios que compõem estes
Estados e que o professor sonhava constituírem “repúblicas livres e
autónomas”, unidas pela reunião periódica em “cortes” e pela figura um
tanto simbólica, mas plenamente unificadora de um rei eleito (na forma
pura que Agostinho da Silva via na I Dinastia)
Em 1957 e 1959, surgem as grandes formulações da doutrina
providencialista de Portugal (ideia intimamente ligada ao pensamento de
Agostinho da Silva), em dois livros aparentemente dedicados a matérias
literárias: Reflexão à Margem da Literatura Portuguesa e Um Fernando Pessoa.
Como o estudo sobre ‘um’ (note-se, não pretendia reduzir o complexo
Pessoa àquele que ali era apresentado) Pessoa pretende encontrar na
especulação desenvolvida por este sobre o V Império a confirmação do
pensamento do próprio Agostinho da Silva sobre o “Império do Espírito
Santo”, temos aqui um caso claro de como a variedade de experiências de
formação de Agostinho se plasmou na sua obra de maturidade. Em rigor, há
que ter em conta uma outra influência, a da visão da história de
Portugal do genro de Agostinho, Jaime Cortesão, fortemente
marcada por uma idealização da monarquia medieval e da expansão marítima
do início da idade moderna que não resistiu aos avanços da
historiografia e das ciências sociais portuguesas da segunda metade do
século XX (por Orlando Ribeiro, Vitorino Magalhães Godinho, e vários outros, sobre isto cf. na Bibliografia Leone, espec. Parte II).
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