O
1.º de Dezembro é o feriado civil mais antigo: sobreviveu à I República
austera em festividades, ao Estado Novo que só recuperou os "dias
santos" em 1952 e à chegada da democracia, que nunca aboliu feriados mas
acrescentou vários ao calendário.
Menos
de uma semana após a revolução republicana de 1910, um decreto acabou
com os feriados religiosos e institui apenas cinco dias de 'folga
nacional': o 1.º de Janeiro (transformado em Dia da Fraternidade
Universal), o 31 de Janeiro (data da revolta republicana no Porto, em
1891), o 5 de Outubro (Dia da República), o 1.º de Dezembro (Dia da
Independência e da Bandeira) e o 25 de Dezembro (que passou a Dia da
Família).
O mesmo decreto permitia aos municípios escolherem um dia de celebração local, estando aqui a origem dos feriados municipais.
Os
republicanos só aceitavam uma celebração civil vinda da monarquia: o
1.º de Dezembro, que celebra a restauração da Independência em relação a
Espanha em 1640.
Este
é um feriado nascido na segunda metade do século XIX, pela mão da então
Comissão Nacional 1.º de Dezembro, mais tarde Sociedade Histórica da
Independência Nacional, criada em 1861 como reacção "a um movimento
iberista".
Com
a chegada da República, reduzem-se assim a cinco os feriados nacionais.
Mas esta austeridade durou pouco e, lentamente, foram-se acrescentando
dias de ócio ao calendário, até aos actuais 13 (seis civis e sete
religiosos).
Logo
em 1912, os republicanos criam o 3 de Maio, para celebrar a descoberta
do Brasil. E em 1929, já sob a ditadura que levaria ao Estado Novo, o
feriado municipal de Lisboa passa a nacional, nascendo aqui o 10 de
Junho, que começou por ser o Dia de Camões e Portugal, passou a Dia de
Camões, de Portugal e da Raça em 1944 e é, desde, 1978, o Dia de
Portugal, de Camões e das Comunidades.
"Curiosamente",
sublinha Reis Torgal, o Estado Novo demorou décadas a mexer nos
feriados e, em particular, a recuperar os religiosos, os "dias santos".
Só o faz depois da assinatura da Concordata com a Santa Sé, em 1940, e o
Ano Santo de 1951.
Mesmo
o feriado da Imaculada Conceição, que é formalizado em 1948, é
celebrado durante anos como o Dia da Consagração de Portugal a Nossa
Senhora.
"Não
se celebrava o dogma. O salazarismo manteve sempre a separação entre
Estado e Igreja, apesar da grande influência da Igreja. Os feriados eram
sempre celebrações cívicas", afirma o historiador.
Em
1952, Salazar acaba com o 31 de Janeiro e o 3 de Maio e junta três
festas católicas à Imaculada Conceição (8 de Dezembro), ao Natal e ao
1.º de Janeiro, assim nascendo o Corpo de Deus (móvel), o 15 de Agosto
(Assunção de Maria) e o Dia de Todos os Santos (1 de Novembro).
Os
responsáveis pelo 25 de Abril de 1974 foram ainda mais rápidos do que
os primeiros republicanos e, dois dias depois da Revolução dos Cravos, a
data do golpe militar já era feriado, assim como o 1.º de Maio, o Dia
do Trabalhador.
A democracia fez nascer mais dois feriados nacionais religiosos: a Sexta-feira Santa (em 1976) e o Domingo de Páscoa (em 2003).
Religiosos
ou civis, republicanos ou monárquicos, os feriados mantêm uma
característica: foram sempre associados a dias de ócio, sem trabalho,
segundo Reis Torgal.
Fonte: Diário de Notícias
Sem comentários:
Enviar um comentário