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A CAUSA REAL NO DISTRITO DE AVEIRO

A CAUSA REAL NO DISTRITO DE AVEIRO
Autor: Nuno A. G. Bandeira

Tradutor

sábado, 2 de fevereiro de 2013

NÃO, NÃO FORAM A INQUISIÇÃO, O TERREMOTO NEM OS FRANCESES

A VERDADEIRA ORIGEM DO ATRASO PORTUGUÊS, MUITO INCÓMODO PARA QUEM NÃO QUER VER
Persiste a cómoda lenda de imputar à Inquisição, ao terremoto e aos franceses o atraso cultural e científico do país. Lenda bela, apaziguadora que não deixa melindres, impoluta para bons portugueses, aquietadora de fantasmas. Porém, há um véu espesso cobrindo a verdade histórica, há responsáveis facilmente enumeráveis, há actos deliberados, legislados até, que qualquer historiador honesto pode desvendar sem grande dificuldade. O descalabro de Portugal não aconteceu, como alguns ingenuamente repetem, quando Pombal - figura sinistra - ascendeu ao poder, como não aconteceu quando a corte rumou ao Brasil perante a iminência da entrada de Junot. O verdadeiro pesadelo aconteceu depois, no início da década de 1830, quando todo o país foi submetido aos "freedom fighters" de então, recrutados no Havre e em Bristol para libertarem Portugal da "tirania" e do "absolutismo". 
Não, Portugal de D. João V não era, como diz a historiografia oitocentista, um país bisonho, um "reino cadaveroso", "supersticioso" e fora das grandes correntes do pensamento ocidental do tempo. Para contrariar tais estórias, leia-se a obra de Henrique Leitão, que vai ano após ano lapidando as fanadas mentiras que se foram acastelando desde há mais de século e meio sobre aquele monarca a quem Lisboa deveu dois observatórios astronómicos e a mais persistente política de mecenato cultural, tecnológico e científico da nossa história. Portugal era, ainda no século XVIII e graças à Companhia de Jesus - verdadeira internacional de conhecimento - um país tocado pelas musas do engenho, do experimentalismo e da curiosidade.
O atraso, o desinteresse pelo estudo e pela leitura, o desprezo pela cultura e pela promoção pelo mérito das canseiras do espírito começou naquele fatídico 1834 com a confiscação por atacado dos bens das Ordens Religiosas, acompanhado pelo saque, queima e venda de um património riquíssimo em terras, alfaias, paramentos, aparelhos científicos, pintura, estatuária, cartografia e bibliotecas existentes em mosteiros e conventos que cobriam a geografia do país. O insuspeito Ernesto José Caldas (ver História de um fogo morto (...), Porto, Imprensa Moderna, 1903) afirmava: "livrarias a monte. Tudo roubo. Primeiro acudiam os que se tinham na conta de autoridades; depois os curiosos; por último a canalha rara que roubava para vender a peso. As mercearias encheram-se de missais, de breviários, de sermonários (...)". Nessa hecatombe perderam-se para sempre incunábulos, códices, arquivos, impressos, mas perdeu-se, até hoje, a quadrícula de ensino, a selecção dos mais inteligentes e das elites naturais que permitiam à sociedade portuguesa nutrir-se dos seus melhores, indiferentemente da sua origem social.
Paulo Barata publicou há anos um importante estudo intitulado Os livros e o Liberalismo (2003), verdadeira história de terror que deve ser lida, meditada e divulgada. Barata faz o inventário do colapso de um país e de uma sociedade, oferecendo copiosa safra de testemunhos arquivísticos - recitativo abracadabrante - que explica, sem devaneios, sem "teoria" e sem preocupações literárias o saque e destruição das livrarias conventuais portuguesas, política de quase terra-queimada e latrocínio que Portugal viveu ao longo da década de 1830. Tudo o que existia desapareceu num curto período. As elites locais foram privadas de poder e substituídas por "funcionários públicos" pagos por Lisboa, os centros de decisão local decapitados, os viveiros de gente letrada assassinados. Entre 1833 e finais da década de 1870, ou seja, durante meio século, a província regrediu, perdeu o contacto com o ensino, esqueceu-se das letras, das artes, foi culturalmente decapitada. O atraso da província data dessa época. Em Lisboa, uma nova elite (política, mas não social] passou doravante a mandar, mas o país deixara de ser, a liberdade proclamada nas constituições, nas leis e nas tribunas deixou de corresponder as gentes que, alheando-se, estupidificado-se, remeteram-se ao cinismo, à acrimónia e à desesperança. Assim tem sido Portugal desde então, um desfiar de mentiras institucionalizadas, com os portugueses de costas voltadas, desconfiados e embrutecidos por um crime cometido contra a nossa terra pelos avós dos nossos bisavós.

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