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A CAUSA REAL NO DISTRITO DE AVEIRO

A CAUSA REAL NO DISTRITO DE AVEIRO
Autor: Nuno A. G. Bandeira

Tradutor

quinta-feira, 15 de junho de 2023

♔ 🤝🏻♚ | 650 ANOS DA ASSINATURA DO TRATADO DE ALIANÇA ENTRE OS REINOS DE INGLATERRA E DE PORTUGAL


Completam-se 650 anos sobre o Tratado de Paz, Amizade e Aliança, firmado, a 16 de Junho de 1373, na Catedral de São Paulo, em Londres, entre o Rei de Portugal Dom Fernando I e o Rei Eduardo III de Inglaterra e o Príncipe de Gales (Eduardo de Woodstock, "o Príncipe Negro"), o tratado de 'perpétua amizade, sindicato e aliança' entre as duas nações, a mais antiga aliança do mundo, e que confirmou o anterior Pacto de Tagilde. O chamado pacto de Tagilde, que o Rei D. Fernando I de Portugal assinou com os delegados de John de Gaunt, Duque de Lencastre, e 4.º filho do Rei Eduardo III de Inglaterra é considerado o preambulo da Aliança Luso-Britânica, e foi firmado a 10 de Julho de 1372, na Igreja de São Salvador de Tagilde, e marcou o exórdio da mais velha aliança diplomática do mundo, que perdura até aos nossos dias.

O início da formalização da Aliança, baseada na amizade perpétua entre os dois países, ocorreu com a assinatura do Tratado de Tagilde a 10 de Julho de 1372 (no município de Vizela, distrito de Braga) e a sua concretização, o seu instrumento jurídico, com a assinatura do "Tratado de Paz, Amizade e Aliança", a 16 de Junho 1373, em Londres, selando a Aliança:

'...haverá daqui em diante uma verdadeira, fiel, constante, mútua e perpétua paz e amizade, união e aliança e liga de sincero afeto' (Artigo I, Tratado da Aliança, Londres 16 Junho 1373)

Esta Aliança foi posteriormente reforçada de várias formas pelos Tratado de Windsor de 9 de Maio de 1386 e por outros tratados ao longo da história, no âmbito das relações diplomáticas entre os dois “Países Amigos”: 1643, 1654, 1660, 1661, 1703, 1815 e por uma declaração secreta, em 1899, entre os Reis D. Carlos I de Portugal e Eduardo VII do Reino Unido, para cessar as consequências nefastas do Ultimatum britânico de 11 de janeiro de 1890.

Em boa hora a Comunidade dos Portugueses reunidos em Cortes elegeu e alevantou Rei, Dom João I, Mestre de Avis, pois comandou, em 14 de Agosto de 1385, os Portugueses à Vitória na Batalha de Aljubarrota, um dos acontecimentos mais decisivos da História de Portugal, e que resolveu a disputa que dividia o Reino de Portugal e o Reino de Leão e Castela, permitindo a afirmação de Portugal como Reino Independente e, no campo diplomático, permitiu a aliança entre Portugal e a Inglaterra, que perdura até aos dias de hoje, pois no ano seguinte foi assinado o Tratado de Windsor.

Consumada a Vitória na Batalha de Aljubarrota sobre os Castelhanos, El-Rei D. João I informou prontamente os seus aliados ingleses através de John de Gaunt, Duque de Lencastre, e filho do Rei Eduardo III de Inglaterra.

Bem sabia Dom João I que a situação do Reino de Portugal era ainda periclitante e que certamente seria ainda acossado por Castela se não fosse encontrado um equilíbrio externo para defender Portugal de uma eventual guerra com o Reino vizinho. Importava, pois, garantir o futuro político português como Nação independente, através da consolidação dos acordos de amizade e apoio mútuo de 1373 entre Portugal e a Inglaterra.

Para isso, Dom João I enviou a Inglaterra os plenipotenciários D. Fernando de Albuquerque (Mestre da Ordem de Sant'Iago) e o chanceler Lourenço João Fogaça para negociar um acordo de aliança política e militar, favorável a ambos.

O Rei Ricardo II de Inglaterra, após as conversações iniciais, designou então três procuradores para a elaboração do texto final do Tratado de amizade com Portugal.

O Tratado foi finalmente assinado, no Castelo de Windsor, a 9 de Maio de 1386, tendo cinco procuradores testemunhado a assinatura do acordo entre o Soberano inglês e os delegados régios portugueses.

O Tratado possuía carácter quer defensivo, enquanto salvaguarda dos interesses de ambas as partes, em aliança, contra inimigos que passavam a ser comuns, quer ofensivo, porque visava uma colaboração entre Portugal e Inglaterra contra Castela e França. Todavia, era também uma aliança que visava a manutenção do bem e da tranquilidade públicos das populações dos reinos de Inglaterra e Portugal.

O comércio marítimo era também um dos objectos abrangidos no tratado. De acordo com o tratado de Windsor nenhuma das partes contratantes poderia fretar navios ou embarcações inimigas ou prestar socorros a nações que se encontrassem em conflito com qualquer um dos reinos. Se alguma das partes tomasse conhecimento de algo que fosse contra as disposições do tratado ou os interesses da outra parte, teria que intervir rapidamente para que depressa se eliminasse esse perigo ou infração do tratado. Antes do Tratado de Windsor nenhuma outra aliança concertada na Europa tinha sido tão abrangente.

A aliança consolidou-se, em 1387, pelo casamento, no Porto, d’El-Rei D. João I com a Princesa Inglesa Dona Filipa de Lencastre. Philippa of Lancaster, nasceu a 31 de Março de 1360 no Castelo de Leicester e era uma princesa inglesa da Casa de Lencastre e da Dinastia Plantageneta. Dinastia Plantageneta é o sobrenome dos monarcas ingleses, conhecidos como dinastia Plantageneta ou Angevina (de Anjou), que reinaram em Inglaterra entre 1154 e 1485. O nome tem na sua origem a giesta (plant genêt em língua francesa), que o fundador da casa Godofredo V, Conde de Anjou adoptou como símbolo pessoal.

Lady Philippa era a filha mais velha de John de Gaunt ou Gante, 1.º Duque de Lencastre iuris uxoris , i.e., "em direito de uma esposa", e de Blanche de Lancaster. Neta do Rei Eduardo III de Inglaterra, quando tinha 18 anos, Philippa foi agraciada com a dignidade inglesa de Dama da Ordem da Jarreteira.

Lady Philippa foi primorosamente educada para uma mulher da época e estudou ciências com Frei John, poesia com Jean Froissart, e filosofia e teologia com John Wycliffe.

Foi no encontro com John of Gaunt, pai de Philippa, para negociar o apoio que o monarca português D. João I poderia dar à causa do duque inglês - que se proclamava rei de Leão e Castela e queria reconquistar o trono -, em Ponte de Mouro a 1 de Novembro de 1386, que D. João I tomou a decisão de casar com Philippa of Lancaster.

Assim, D. Filipa de Lencastre como passou a chamar-se, chegou a Portugal, com 27 anos – idade avançada para a época para uma donzela contrair matrimónio – e casa com D. João I, a 2 de Fevereiro de 1387, no Paço Episcopal anexo à Sé Catedral da cidade do Porto, tornando-se Rainha-consorte de Portugal. O matrimónio, esse, foi comemorado por todo o reino durante quinze dias, cimentando a Aliança Luso-Britânica.

Em 1372, El-Rei D. Fernando de Portugal e o poderoso magnate inglês John de Gaunt, Duque de Lencastre (filho de Eduardo III de Inglaterra) firmaram uma aliança contra Castela e Aragão, que o duque se preparava para guerrear, aliança que cimentou o Tratado Anglo-Português de 1373. Foi com base neste Tratado de aliança que os ingleses, com os seus poderosos arqueiros, lutaram ao lado da Casa de Avis na Batalha de Aljubarrota, em 14 de Agosto de 1385. Depois dos ingleses lutarem ao lado dos portugueses contra os castelhanos e franceses na batalha, foi assinado o Tratado de Windsor, em 9 de Maio de 1386, com o intuito de renovar a Aliança. Foi no âmbito desta aliança que se organizou o casamento entre o Rei D. João I e a Princesa Philippa, para cimentar as relações e a aliança anglo-portuguesa.

Chegada à corte portuguesa, D. Filipa não negou a Sua estirpe, e tratou de implementar o protocolo, etiqueta e regras do seu país natal. Também, a praxe das refeições foi alterada introduzindo o hábito de se lavar as mãos antes e depois das refeições, e os alimentos passam a ser manuseados de forma higiénica. Desempenhou, também, um importante papel na política da Corte e, apesar de não mais ter pisado solo inglês, não se manteve alheia da inglesa, correspondendo-se por carta com o pai e irmão o Rei Henry IV.

Do casamento com D. João I nasceu a Ínclita Geração: D. Duarte, de seu verdadeiro nome Edouard – influência inglesa da mãe - e até aqui nunca usado em Portugal, que foi rei; o Infante D. Pedro, Duque de Coimbra, senhor de grande cultura, conhecido como o "Príncipe das Sete Partidas"; o Infante D. Henrique, Duque de Viseu, promotor e impulsionador dos Descobrimentos marítimos Portugueses; D. Isabel, mais tarde Duquesa de Borgonha, sábia administradora do território governado pelo seu marido, Filipe, o Bom; o Infante D. João, designado em 1418, Mestre da Ordem de Santiago de Espada; e o Infante D. Fernando, conhecido como o "Infante Santo", que morreu, em Fez. Ilustres filhos a que não foi alheia a educação ministrada pela Mãe.

A Rainha D. Filipa de Lencastre participou ainda com as suas ideias na idealização e construção do Mosteiro da Batalha. Não menos importante foi o seu incentivo à expedição a Ceuta.

A Rainha foi tocada pela peste em 1415, morrendo, em Odivelas a 19 de Julho, poucos dias antes da partida da expedição a Ceuta.

A 21 de Agosto de 1415 o exército Português sob o comando d’El-Rei D. João I de Portugal, desembarca em Ceuta, conquistando a cidade norte-africana.

Finda uma noite de intensa peleja, pela manhã de 22 de Agosto, Ceuta estava abduzida pelas tropas portuguesas, e coube a D. João Vasques de Almada hastear a bandeira de Ceuta, com os gomos brancos e pretos como na bandeira de Lisboa, e com o então brasão de armas do Reino de Portugal ao centro, e que perdura até aos dias de hoje.

Após a tomada da mais bela e mais florescente cidade da Mauritânia, no norte de África, El-Rei Dom João I procede ao ritual de armar cavaleiros os filhos D. Duarte, D. Pedro e D. Henrique, que se haviam ilustrado pelas armas no campo de batalha.

Após a Santa Missa, os três Infantes, usando reluzentes armaduras, foram armados cavaleiros pelo Rei seu Pai, com a espada abençoada pela Rainha Dona Filipa de Lencastre, mulher de D. João I e mãe de tão Ínclita Geração.

Em 1661, a Rainha regente D. Luísa de Gusmão, digníssima viúva d’El Rei Dom João IV, o Restaurador, declarou em Cortes o contrato nupcial, aprovado pelo Conselho de Estado, do casamento da Infanta Dona Catarina Henriqueta de Portugal com o Rei Carlos II de Inglaterra. Seguiu-se um contrato de paz, com artigos muito curiosos, publicado no Gabinete histórico, de Frei Cláudio da Conceição, onde vem a descrição do real consórcio:

«0 nosso augusto Soberano Lorde Carlos II, pela Graça de Deus, rei da Grã-Bretanha, França e Irlanda, Defensor da Fé e a Ilustríssima Princesa D. Catarina, Infanta de Portugal, filha do falecido D. João IV, e irmã de D. Afonso, presente rei de Portugal, foram casados em Portsmouth na quinta-feira, vigésimo segundo dia de Maio, do ano do N. Sr. de 1662, 14.º do reinado de SM, pelo R. R. F. in G. Gilbert, Bispo Lorde de Londres, Deão da Real Capela de Sua Majestade na presença de grande parte da nobreza dos domínios de Sua Majestade e da de Portugal.»

Dona Catarina não foi uma rainha popular em Inglaterra por não ter descendência e por ser católica - o que a impediu de ser coroada -, mas uma infanta nascida e criada no seio de uma família real ilustrada, culta; educada nos costumes e hábitos tradicionais portugueses não podia deixar de ter uma influência indelével na nação que, apesar de tudo, a não acolhera. Assim, entre muitos hábitos e práticas que levou, ficará, para sempre, como a responsável pela introdução do chá em Inglaterra. De facto, Dona Catarina levou como dote os territórios de Bombaim (actual Mumbai) e Tânger – ganhando assim a Inglaterra o início de um Império -, mas muito mais.

Natural da China, o chá foi introduzido na Europa pelos portugueses no século XVI. Assim, este foi um hábito que Dona Catarina levou de casa e que continuou a seguir em Inglaterra, organizando reuniões de senhoras a meio da tarde na qual se bebericava a famosa e reconfortante bebida.

O hábito de beber chá já existiria, num período em que a Companhia das Índias Orientais o estava a vender abaixo do preço comercializado pelos Holandeses e o anunciava como uma panaceia para a apoplexia, epilepsia, catarro, cólica, tuberculose, tonturas, pedra, letargia, enxaquecas e vertigem – um verdadeiro cura tudo e mais alguma coisa -, mas foi Dona Catarina de Bragança que o transformou na "instituição" que os ingleses hoje conhecem por “Chá das Cinco”, o tão famoso quanto imprescindível "five o'clock tea". Bom, na realidade o chá não era tomado às cinco, mas sim às quatro, e o nome chá em inglês é TEA, ora essa palavra é oriunda do português pois referia-se ao nome dos barcos que o transportavam e que eram chamados de 'Transporte de Ervas Aromáticas'.

Acresce que, o consumo deste produto era apanágio das esferas mais altas da sociedade. Em consequência, também, surgiu a expressão: “Ter falta de chá!”, dirigida a alguém que não tem educação ou que não tem maneiras, uma vez que o chá era originariamente consumido por famílias nobres, presumidamente mais sofisticadas. Hoje, claro que numa sociedade burguesa e plutocrata, em que o dinheiro é o mote, não está garantido que haja na alta-roda muito chá, até porque podem-no não ter tomado em pequeno!

Assim, Dona Catarina de Bragança deixou pelo menos a Inglaterra a rotina de beber chá que se tornou um dos hábitos tipicamente britânicos, mas que não foi o único: deixou, também, o costume do consumo da geleia de laranja. A compota de laranja que os ingleses designam de “marmelade”, usando, erroneamente, o termo português marmelada, foi levada pela Infanta portuguesa que recebia regularmente as remessas de cestas de laranjas enviadas pela mãe, algumas das quais azedavam na viagem. Dona Catarina conservara o costume português de fazer compotas e, curiosamente, a Rainha de Inglaterra servia a sua vingançazinha ao guardar a compota de laranjas doces para si, para as suas damas de companhia e amigas e a de laranjas amargas para as inimigas, particularmente, para as concubinas de Carlos II.

Mas a revolução cultural que Dona Catarina, Infanta de Portugal e Rainha de Inglaterra, operou na Corte inglesa não ficou por aqui. Também lá introduziu o uso dos talheres – pois antes disso os ingleses, mesmo a realeza e a aristocracia mais fina, comiam com as mãos, levando os alimentos à boca com três dedos (polegar, indicador e médio) da mão direita. Apesar de o garfo já ser conhecido só era usado para trinchar ou servir, ora na Corte Portuguesa, que à época ditava o bem ser, Catarina estava habituada a utilizá-lo para levar os alimentos à boca e, em breve, todos começaram a seguir o exemplo da Rainha portuguesa de Inglaterra.

Também foi Dona Catarina a introduzir o tabaco em Terras de Sua Majestade e em breve todos os ingleses passaram a andar de caixinha de rapé no bolso do colete.

Há já muito tempo que, em Portugal, se utilizavam pratos de porcelana para comer, ora em Inglaterra, ainda comiam em pratos de ouro ou de prata, muito menos higiénicos e que não conservavam a refeição quente; ora com a Infanta de Portugal a utilizar a ‘fine china', a partir de aí, o uso de louça de porcelana generalizou-se, também, por lá.

Era hábito na Corte portuguesa os saraus em que se ouvia ópera, ora como Dona Catarina levara no seu séquito uma orquestra de músicos portugueses, foi por sua mão que se ouviu a primeira ópera em Inglaterra, legando dessa forma mais uma importante herança cultural.

E não é que a Infanta e Rainha da Casa de Bragança ainda lançou moda para equitação.

E haveria Império britânico sem o fabuloso dote de Dona Catarina de Bragança que para além da uma exorbitante quantia em dinheiro incluía ainda a cidade de Tânger, no Norte de África e a ilha de Bombaim, na Índia?! Pelo que, depois de receber a importante e estratégica Bombaim dos portugueses, o monarca inglês rei Carlos II autorizou a Companhia das Índias Orientais a adquirir mais territórios, nascendo, desse modo, o Império Britânico!

Por último, deram o seu nome a um bairro da Colónia de Nova Iorque (ainda não existiam os EUA), Queens, onde existe uma estátua de D. Catarina de Bragança.

Às 19h30m do dia 16 de Fevereiro de 1909, na Capela de São Jorge, no Castelo de Windsor, Inglaterra, El-Rei Dom Manuel II de Portugal torna-se o 838.º Cavaleiro da Ordem da Jarreteira a ser investido por um Soberano inglês. Numa cerimónia de investidura com impressionante pompa e ritual, a El-Rei de Portugal foi conferida pelo primo, o Rei britânico Eduardo VII, a mais importante de todas as Ordens de Cavalaria e as suas insígnias. Dom Manuel II foi simultaneamente o último português, de um selecto e estrito clube, a receber esta honraria e, também, até hoje, o mais jovem cavaleiro de sempre da mais distinta das Ordens Honoríficas britânica e mundiais.

Excepcionalmente, a comitiva portuguesa de D. Manuel II pode assistir à cerimónia, normalmente reservada apenas aos membros Companheiros/as da Ordem, assim como ao sumptuoso Banquete de Estado em St. George’s Hall, com cerca de 200 convivas.

Se Sua Mercê o Rei Dom João I de Portugal foi o primeiro português a receber esta distinção, D. Manuel II seria o derradeiro, uma vez que não mais existiu personalidade portuguesa que pudesse ser honrada com tal distinção.

A Mais Nobre Ordem da Jarreteira, também conhecida, simplesmente, como Ordem da Jarreteira, é uma ordem de cavalaria britânica, a mais antiga de Inglaterra e do sistema de honras britânico, atribuída, exclusivamente, ‘por desejo do Soberano’: ‘Le Souverain le vault’. Fundada, em 1348, para destacar os esforços do reino e aliados, é uma ordem militar, criada pelo Rei Eduardo III de Inglaterra e baseada nos nobres ideais das demandas ao gosto do espírito do cavaleiro medieval: ‘uma sociedade, uma companhia e uma escola de Cavaleiros’, e o conceito foi seguido durante séculos por outros monarcas europeus, que constituíram as suas próprias e prestigiadas ordens de cavalaria, mas sem a relevância da Jarreteira, que nunca caiu no anedotário de certas irmandades de mantos.

‘Order of the Garter – Ordem da Jarreteira’, a tradução correcta seria antes Ordem da Garrotea ou Ordem da Liga – até porque os agraciados são contemplados com uma liga para colocar no joelho esquerdo -, com supramencionado, a Ordem da Jarreteira é a mais antiga, a mais prestigiada ordem de cavalaria, a mais restrita e a mais importante comenda do sistema honorífico do Reino Unido - e não só, pois não há par para ela em qualquer recanto do mundo - desde essa altura até aos dias de hoje.

A exclusividade é a pedra de toque da Jarreteira, pois os membros da Ordem são limitados ao Soberano, ao Príncipe de Gales e a não mais que vinte e quatro membros ou companheiros, embora também incluam cavaleiros e damas extranumerários como membros da família real e monarcas estrangeiros. ‘Conceder a honra’ é uma prerrogativa executiva remanescente do monarca inglês de carácter verdadeiramente pessoal.

O emblema da Ordem, retratado na insígnia, é uma jarreteira com a divisa em anglo-normando o dito francês antigo, que à época da criação da Jarreteira era o idioma oficial da corte inglesa: ‘Honni soit qui mal y pense’, em letras douradas sobre fundo azul-escuro. A lenda conta que Eduardo III estaria a dançar com a Condessa de Salisbury num baile da corte, quando esta deixou cair a sua liga/Jarreteira da perna. Ao gosto do cavalheiresco medieval, para evitar o constrangimento da aristocrata, o monarca decidiu apanhar a liga do chão e amarrá-la à volta da própria perna. Não obstante o gesto, o Rei reparou que os presentes os fitavam com sorrisos e murmúrios. Irado, exclamou: ‘Honni soit qui mal y pense - Envergonhe-se quem nisto vê malícia’, frase que se tornou o lema da Ordem que depois fundou. Afirmou, ainda, o Rei inglês que tornaria aquela pequena jarreteira azul tão gloriosa que todos a haveriam de desejar – assim foi. Sendo esta uma história verdadeira ou simplesmente uma estória, a Ordem da Jarreteira foi, de facto, criada por Eduardo III e o seu símbolo é uma jarreteira azul-escura, de rebordo dourado, em que aparecem inscritas, em francês as palavras, supostamente, proferidas pelo Rei inglês. Assim, os membros da Ordem recebem essa liga nas ocasiões cerimoniais de agraciamento da Ordem. Mas o uso da liga como um emblema, também, pode ter derivado de tiras utilizadas para fixar as armaduras pelos cavaleiros medievais.

Além do grão-mestre da Ordem que é sempre o Soberano inglês existem os cavaleiros reais (nos quais se inclui sempre o Príncipe de Gales podendo o monarca ainda nomear vários membros da família real), os cavaleiros estrangeiros (vários monarcas reinantes de países estrangeiros nomeados pelo monarca britânico), tidos como cavaleiros extranumerários e os cavaleiros ou damas-companheiras (24 personalidades nomeadas pelo monarca britânico). Somente o monarca pode conceder a adesão: ele/ela é conhecido/a como ‘Soberano/a da Jarreteira’, e o Príncipe de Gales é conhecido como um ‘Cavaleiro Companheiro da Jarreteira’.

Os membros masculinos da Ordem são intitulados ‘Cavaleiros Companheiros’, e os membros do género feminino são chamadas de ‘Damas Companheiras’. As nomeações são vitalícias e intransmissíveis (não são hereditárias). Os cavaleiros são nomeados em 23 de Abril, dia de São Jorge e como a cor de São Jorge é o azul é tradição vestir algo azul para a cerimónia. Nessa ocasião, deverá usar-se a jarreteira na perna esquerda, logo abaixo da cintura da mesma. A Ordem da Jarreteira realiza os seus serviços na Capela de São Jorge, no Castelo de Windsor, onde, desde o primeiro cavaleiro, no alto, estão colocados os elmos com crista, a espada e estandartes de armas dos cavaleiros.

Com a morte de um membro, o emblema e a estrela são devolvidas pessoalmente ao soberano pelo parente do sexo masculino mais próximo do ex-membro e as outras insígnias para a Chancelaria Central das Ordens de Cavalaria.

Cavaleiros e Damas companheiros usam as letras ‘KG’ e ’LG’ após o nome, respectivamente. Um membro da Ordem tem na hierarquia do sistema nobiliárquico britânico um grau inferior ao filho mais velho de barões e superior às restantes ordens e titularia.

Regressando à ligação da Ordem da Jarreteira com a Casa Real Portuguesa, sendo a Aliança entre Portugal e Inglaterra a mais antiga do Mundo, datada de 1386, altura em que foi assinado o Tratado de Windsor, e que resultou também no casamento entre El-Rei Dom João I de Portugal e a Princesa Inglesa, da Dinastia Plantageneta, Lady Phillippa of Lencastre, a nossa Dona Filipa de Lencastre, filha de John de Gaunt, Duque de Lancaster, e neta do então monarca inglês Eduardo III Plantageneta, é natural que Dom João I tenha sido o primeiro português – de uma lista muito restrita – a ser agraciado com a Ordem da Jarreteira, o que aconteceu em 1400, tornando-se o 102º Cavaleiro da Ordem. A Rainha Dona Filipa de Lencastre já era Dama da Ordem desde 1378, sendo até hoje a única portuguesa com essa distinção.

A lista de portugueses agraciados não viria a incluir mais do que 15 personalidades, sobretudo reis e infantes e um único membro da nobreza e de sangue não real confirmado: D. Álvaro Vaz de Almada, Conde de Avranches. Dom Álvaro Vaz de Almada ou Álvaro Vasques de Almada (1392-1449) foi um dos mais insignes cavaleiros da Europa do seu tempo. Alferes Mor de Portugal, Capitão Mor do Mar, Alcaide Mor de Lisboa, combateu na guerra dos 100 anos ao lado do Rei Henrique V de Inglaterra na Batalha de Azincourt (1415), onde se ilustrou pelas armas e praticou inúmeros actos de heroísmo, tendo-lhe sido atribuído, pelo monarca inglês, o título de Conde de Avranches e agraciado com o grau de Cavaleiro da Ordem da Jarreteira figurando as suas armas no exclusivíssimo St. George Hall no Castelo de Windsor. Foi ainda um dos chamados Doze de Inglaterra, e a sua vida dava uma epopeia como a de Baudolino. Assim foi porque o bravo cavaleiro português, no meio de vagas de soldados franceses, quando decorria a Guerra dos Cem Anos contra a França, auxiliou o Rei inglês Henrique VI na conquista da Normandia e fez cair a seus pés Avranches, razão pela qual foi agraciado pelo monarca inglês com o título de Conde de Avranches (Earl of Avranches), a seu favor e seus descendentes (de jure et herdade), por carta de 4 de Agosto de 1445. Entende-se que já antes, em 1415, tinha participado na batalha de Azincourt ao lado dos Plantageneta. Por isso, também, foi dos poucos estrangeiros e como se disse acima o único português que não da realeza a ser agraciado cavaleiro da Ordem da Jarreteira, da qual foi o 162° Cavaleiro.

Assim, da lista de membros portugueses da Ordem da Jarreteira, além do inaugural D. João I (102.° Cavaleiro Companheiro) e dos acima mencionados, fazem ainda parte: o Rei D. Duarte I; D. Pedro, Duque de Coimbra; o Infante D. Henrique; o Rei D. Afonso V; o Rei D. João II, o Rei D. Manuel I; o Rei D. João IV; o Rei D. João VI; o Rei D. Pedro V (investido em 1854); o Rei D. Luís I (investido em 1886); o Rei D. Carlos I (investido em 1904); o Príncipe Real D. Luís Filipe (investido em 27 de Junho de 1902 como 821.° Cavaleiro pelo Duque de York, futuro George V); e D. Manuel II, o derradeiro Rei de Portugal – o último cavaleiro Português.

Como o tratado político mais antigo da Europa, a Aliança Anglo-Portuguesa tem sido uma fonte de séculos de cooperação e amizade entre Inglaterra e Portugal. Sobre a aliança mais antiga do mundo, o Primeiro-Ministro Sir Winston Churchill, num discurso na Câmara dos Comuns, em Outubro de 1943, descreveu famosamente a amizade única e antiga entre Inglaterra e Portugal como uma aliança "sem paralelo na história mundial.”

Nesta manhã de quinta-feira, 15 de Junho de 2023, Sua Majestade O Rei Carlos III do Reino Unido recebeu S.E. O Presidente da República Portuguesa, Professor Doutor Marcelo Rebelo de Sousa, no Palácio de Buckingham onde, depois de tocados os hinos nacionais no terreiro do Palácio Real, o Rei britânico e o Presidente português passaram revista a militares ingleses e portugueses em parada. Depois recolheram-se á sla de audiencias do monarca, onde estiveram em reunião privada durante 20 minutos onde o Presidente português condecorou Sua Majestade o Rei Carlos III do Reino Unido com o Grande-Colar da Ordem da Torre e Espada, do Valor, Lealdade e Mérito, a maior ordem honorífica portuguesa, endereçando, ainda a Sua Majestade, um convite para visitar Portugal. Na audiência os dois Chefes de Estado observaram, ainda, o original do Tratado de Tagilde de 1373 do Arquivo Nacional. Em seguida saíram na limousine em direcção ao Palácio de St. James onde assistiram a uma cerimónia de acção de graças na Capela da Rainha (D. Catarina de Bragança, rainha-consorte de Inglaterra pelo casamento com o Rei inglês Carlos II), em Londres, para assinalar o 650º aniversário da Aliança Anglo-Portuguesa, a mais antiga aliança diplomática do mundo ainda em vigor. Depois da cerimónia, Sua Majestade regressou ao Palácio de Buckingham, enquanto o Chefe de Estado português seguiu para uma cerimónia privada, em Apsley House, a morada londrina dos Duques de Wellington e que fica sozinha no Hyde Park Corner, no canto sudeste do Hyde Park, virado a sul em direção à movimentada rotunda de trânsito no centro da qual se ergue o Arco de Wellington. Aí foi recebido pelo 9.º Duque de Wellington, que detém também os títulos nobiliárquicos portugueses de Duque da Vitória, Marquês de Torres Vedras, Marquês do Douro e Conde do Vimeiro, com que foi agraciado o seu antepassado, o 1.º Duque de Wellington Arthur Weslleley, títulos criados pelo príncipe-regente D. João (futuro D. João VI), a favor do general britânico que comandou os exércitos que expulsaram as tropas napoleónicas de Portugal. Foi o primeiro título de Duque português concedido a um estrangeiro.

Assim, conforme se plasmou no próprio tratado de 1373, se 'perpétua amizade, sindicato e aliança' entre as duas nações, a mais antiga aliança do mundo.

Miguel Villas-Boas | Plataforma de Cidadania Monárquica

PLATAFORMA DE CIDADANIA MONÁRQUICA






650 ANOS DO TRATADO DE WINDSOR

O Tratado de Windsor estabelecido entre Portugal e a Inglaterra, é a mais antiga aliança diplomática do mundo ainda em vigor, foi assinado em 9 de Maio de 1386, após os ingleses lutarem ao lado da Casa de Avis na Batalha de Aljubarrota e com o sentido de renovar a Aliança Anglo-Portuguesa estabelecida pelos dois países em 1373, no dia 16 de Junho.

Poderíamos, contudo, evocar outros documentos de aliança e acordos, e trazer novas datas de longevidade a esta relação diplomática, lavrada entre os dois países, tal como, o Tratado comercial, entre D. Afonso IV e Eduardo III, no ano de 1353, ou, o Tratado de Tagilde, assinado entre D. Fernando I e Ricardo II, no dia 10 de Julho de 1372, conforme escreveu o cronista Fernão Lopes, na Crónica de Dom Fernando, cap.62.

A representar o Reino de Portugal esteve Lourenço Anes Fogaça, e Dom Fernando Afonso de Albuquerque.

A decisão de Windsor contém a valorosa declaração que fiquem os reinos unidos para o futuro nos mais estreitos laços de amizade e aliança.

O primeiro Tratado de Windsor traduz a espiritualidade daqueles longínquos tempos, como escreve Pequito Rebelo: “A aliança luso-britânica nasceu em fraternidade de ortodoxia e espírito de Cristandade, sob a égide da ideia de Cruzada, que foi a própria alma da Europa e particularmente de Portugal”.

O casamento entre o Rei D. João I, primeiro da sua Casa e Dinastia, e Filipa de Lencastre, filha de João de Gaunt, e irmã do futuro Rei Henrique IV de Inglaterra, consolida a aliança, entre os dois países, reforçado à posteriori com mútuo reconhecimento diplomático. D. João I reconhece Henrique de Lencastre, como rei de Inglaterra, com a designação ordinal de quarto do nome, e por sua vez, este, concede-lhe a Ordem da Jarreteira, nascendo, desta forma, a práctica de se galardoarem os soberanos estrangeiros. Portugal recebeu na pessoa de seu rei e senhor a honra de tal mercê, por volta do ano de 1400.
Texto compilado | autor:
José A. P. S. Bastos.

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