Foi
ontem derrogada a humilhação que nos tolhia a espontaneidade do coração
e a liberdade da razão. Foi ontem a enterrar esse sentimento hipócrita
de uns e a ingénua despreocupação de muitos que, cúmplices por cobardia,
foram também eles responsáveis. Foi ontem e esta gente cala, esconde,
vira os olhos para os futebóis, as troikas, as Merkel e essa crise dos
metecos que querem mais moedas quando já não há nem pão nem honra. Não
percebem que ontem nos libertámos de uma culpa, que os 300.000 que
entregámos à morte já não pesam na consciência dos que ficaram com o
futuro limpo, por escrever? Imaculados e perdoados. Hoje pensei nestes
trinta e tal anos de catacumbas e do mistério da revelação da verdade
pelo tempo histórico. Os patetas não pensam nessas coisas; as amibas
também não. Abri, do velho amigo já falecido, o Eu Fui ao Fim de
Portugal e só me saíram duas palavras: OBRIGADO, TIMOR.
Miguel Castelo-Branco
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