As declarações do presidente da república surpreenderam os mais incautos
e provocaram uma onda de indignação. Afirmou, o chefe da nação
“democraticamente” escolhido por 23% dos portugueses, que uma das suas
reformas, no valor de 1300 euros, não dava para pagar as suas despesas
(sendo que o dito tem mais algumas que somam cerca de 10.000 euros). E
ainda teve o descaramento, ou a ingenuidade (quero acreditar que foi
ingenuidade), de acentuar o número “ouviram bem, 1300 euros!”. Nós
ouvimos, ouvimos bem, não queremos é acreditar que, num país onde
existem reformados que não ganham 200 e num país onde o ordenado médio
(não a reforma, o ordenado mesmo para viver a “juventude”) não chega aos
900 o seu chefe da nação afirme que 1300 euros é pouco. E não digo com
isto que seja muito, o que digo é que, no contexto deste país, no
“contexto Portugal”, 1300 euros é um rico ordenado e uma fantástica
pensão de reforma... É triste que assim seja, mas é. E a última pessoa
que pode afirmar o contrário é aquele que representa a república. Afinal
de contas as repúblicas são-no para que tenhamos o “privilégio” de ter a
representar-nos “um de nós”, alguém que vem do povo e depois envereda
na vida política e torna-se naquilo que um presidente é, um
representante do povo que deixou de compreender, em vez de alguém que é
ensinado, desde pequenino, a representar e compreender esse mesmo povo
e, desde pequenino, convive com o mesmo, nunca precisando de se afastar
porque nasce aquilo que é, sem disfarces, nem manias, nem necessidades
de mentir para ter aprovação, porque já nasce o que é.
Mas é isto que temos. Temos um representante do povo que vive num
alheamento total, para quem 1300 euros são uma pensão miserável que nem
dá para pagar as suas despesas... o que faria este senhor com o ordenado
mínimo? Será que sabe quanto é?
O que choca nas declarações acima nem são tanto os valores da queixa e
sim a alucinação na qual vive o presidente da república, a queixa em si.
Choca que o chefe de estado, aquele que deveria ser o representante
máximo do povo, não faça a mais pequena ideia dos sacrifícios que esse
povo está a passar. É caso para perguntar: Afinal para que elegemos “um
de nós”?
Sara Jofre
Fonte: Noticias do Ribatejo
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