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A CAUSA REAL NO DISTRITO DE AVEIRO

A CAUSA REAL NO DISTRITO DE AVEIRO
Autor: Nuno A. G. Bandeira

Tradutor

quarta-feira, 24 de maio de 2023

BRUNEI E OS PORTUGUESES

Brunei, oficialmente Estado de Brunei Darussalam ou Darussalã, é um país localizado na costa norte da ilha de Bornéu, no Sudeste Asiático.

Os primeiros contactos que os Portugueses tiveram com os naturais daquele país remontam a 1514 quando 2 juncos de Luções (nome então dado pelos Portugueses aos naturais do Brunei) foram a Malaca (Malásia), então possessão Portuguesa, vender mercadoria e entregar um presente do seu soberano para o rei de Portugal .

Esse primeiro contacto pautou-se por extrema cortesia de parte a parte, deixando Portugueses e Luções satisfeitos, tendo estes últimos partido de Malaca suscitando nos Portugueses uma imagem de pessoas sérias, responsáveis e pacíficas, iniciando-se desde então uma promissora fase de relações comerciais, particularizada pela condição de os Luções ficarem isentos de pagar quaisquer direitos aduaneiros em Malaca aos Portugueses mediante o acordo de alternativamente entregarem um presente sempre que lá aportassem para comercializar.

O Português Lourenço Gomes é apontado como tendo sido em 1518 o primeiro Europeu a ter visitado o Brunei

Quatro anos mais tarde ( Maio de 1522), o Capitão geral das Molucas, António de Brito ordenou a Dom Garcia Henriques que partisse de Ternate com 4 navios e os levasse para Malaca devendo contudo navegar por uma nova rota , ou seja pelo Borneo (que deveria contornar pelo norte onde se situa o Brunei) invés de por Banda como até então era prática corrente, afim de dessa forma encurtar a rota usualmente utilizada (por Banda teria que navegar 600 léguas, enquanto que se navegasse contornando Bornéo pelo norte somente necessitaria de navegar 400 léguas).

Contudo essa primeira tentativa de explorar a rota proposta, fracassou, tendo Garcia de Henriques tido que regressar a Ternate, onde chegou no final desse ano

No ano seguinte (Maio de 1523), Antonio de Brito, enviou seu primo Simão de Abreu a Malaca ordenando a este que o fizesse devendo explorar a rota via norte da ilha de Bornéu.,

António Galvão (cronista e administrador colonial Português nas ilhas Molucas) reportou no Séc. XVI, que essa expedição rumou para as ilhas de Manada (Menado) e Panguensove (Likupang), tendo passado pelos estreitos de Treminao e Taquy e pelas ilhas de St. Michael, as ilhas de Bornéu e avistando Pedra Branca passaram pelo Estreito de Singapura tendo atingido a cidade de Malaca adquirindo por conseguinte conhecimento de”muitas ilhas, mar e terra” ( incluindo o Brunei )

Entretanto, tendo chegado ao conhecimento de Jorge de Albuquerque, Capitão geral de Malaca, que os Espanhois haviam enquanto isso, chegado ao Brunei, resolveu este enviar António de Pina ao Brunei em 1524 com uma carta para o respectivo Sultão que em resposta não só expressou a sua verdadeira amizade pelo Rei de Portugal como assegurou ser sua intenção zelá-la para sempre

Afim de cimentar essa amizade entre Portugueses e o sultão do Brunei, o novo Capitão-geral das Molucas, ’’Dom Jorge de Menezes” enviou em 1526, Vasco Lourenço numa “Kora Kora” (embarcação típica das Molucas) ao Brunei portando uns presentes para o Sultão e sua nobreza.

Á chegada no Brunei, Vasco Lourenço encontrou Afonso Pais, um Português que tinha ido para lá de Malaca com um Junco carregado de mercadorias, do qual o sultão fez um grande lucro, pelo qual ele (Afonso) era muito favorecido por ele.

Afonso Pais apresentou Vasco Lourenço ao sultão e revelou-lhe que o capitão das Molucas queria “fazer-lhe honra e cortesia” e dizendo que ele lhe havia enviado vários presentes entre os quais figurava uma tapeçaria representando o casamento de Henrique VIII de Inglaterra com Catarina de Aragão onde era possível ver aquele rei rodeado de muitos homens e mulheres sentado numa cadeira com uma coroa na sua cabeça.

Ao contemplar a tapeçaria, o sultão, pediu uma explicação sobre o significado da cena reproduzida na tapeçaria

Depois de lhe ter sido explicado que aquele que estava sentado no trono era o rei de todas as outras pessoas, a representação de tal cena gerou uma inusitada e inesperada reacção por parte do sultão do Brunei, que encarou a tapeçaria como traição, visto suspeitar que os Portugueses estavam enganando-o, eram feiticeiros e que a tapeçaria eram figuras mágicas que eles queriam introduzir na sua corte, pois acreditava que todas as figuras lá reproduzidas tornar-se-iam vivas durante a noite para que pudessem matá-lo e tomar o seu reino.

Revelando-se apavorado, ordenou que essas coisas fossem imediatamente retiradas e que os Portugueses saíssem do seu porto, pois ele não teria em seus domínios nenhum outro rei a não ser ele mesmo e que, caso os Portugueses permanecessem lá, ele os castigaria.

Perplexos com tal episódio, os Portugueses tentaram através de Afonso Pais e alguns mouros suprimir tal suspeita da mente do sultão, tendo inclusive queimado a dita tapeçaria, mas não foram bem sucedidos tendo Afonso Pais regressado a Malaca, indo Vasco Lourenço com ele.

As relações só foram retomadas quatro anos mais tarde quando Gonçalo Pereira (recém nomeado Capitão geral das Molucas) partiu de Cochin em Maio de 1529 com instruções para viajar para as Molucas via Malaca e Brunei.

Gonçalo Pereira chegou ao porto da cidade de Brunei em Agosto de 1530, tendo enviado um presente ao sultão através de Luiz de Andrade, que estava indo como comandante (alcaide mor) da fortaleza de Ternate havendo-lhe ainda determinado que informasse o sultão que o rei de Portugal e seu governador na Índia tinham enviado ele (Gonçalo) ordenando-lhe que se disponibilizasse para “servir” o sultão em qualquer assunto que esse julgasse conveniente.

Gonçalo Pereira informou ainda o sultão que havia sido incumbido pelo Vice-Rei da India para lhe inteirar que o Rei de Portugal desejava estabelecer relações amigáveis com ele e que era sua vontade que os mercadores do Brunei fossem a Malaca e a outros Portos da India onde seriam bem tratados e poderiam comercializar livremente, pedindo ainda permissão para que paralelamente os mercadores Portugueses também pudessem ir comercializar ao Brunei, o que anuiu o sultão, tendo este manifestado o seu prazer e expectativa no sentido que tais relações amigáveis se viessem a estabelecer.

Notoriamente as relações entre o Brunei e os Portugueses retomaram-se com sucesso, conforme se pode constatar quando três anos mais tarde, em Agosto de 1533 , Tristão de Ataíde (recém nomeado capitão Geral das Molucas) na sua viagem rumo a Ternate (Molucas), partiu de Goa (20 de Abril), e depois de ter escalado Malaca (no início de Julho), aportou no Brunei no final desse mês. Lá enviou em nome do Rei de Portugal um presente “muito bom” para o sultão e entregou-lhe uma carta do Governador (de Malaca).

O Sultão deu ordens para que o presente fosse recebido com muita estima, tendo declarado que o valorizava muito e que ele sempre consideraria Sua Alteza o Rei de Portugal estando acima de si “e muito mais disse para demonstrar seu grande afeto” pelos Portugueses, inferindo-se daí aquilo que poderá já ser uma ténue assunção de vassalagem perante Portugal.

Revelador dessa vassalagem poderão também ser alguns episódios, factos ou documentos que se sabe terem existido.

A existência duma carta do Rei D. Sebastião de Portugal, datada de 1573 dirigida ao rei (sultão) em que aquele manifesta o seu agrado e apreciação ao sultão por ter recebido uma carta de João Gago de Andrade em que este lhe informa que aquando da escala que havia efetuado no porto de Brunei na sua viagem a caminho das Molucas, havia sido chamado pelo sultão afim de conversar sobre certas coisas tocando o serviço com o rei de Portugal o que levou D. Sebastião “a rogar” ao sultão que sempre que este necessitasse de conversar “no que diz respeito aos assuntos que ele discutiu com o dito João Gago ou em relação a outras coisas, e tudo o que se oferece para seu serviço”, que o fizesse enviando petição em nome do Rei D. Sebastião mas para o seu governador de Malaca, e nessa conformidade o que quer que solicitasse; o governador de Malaca deveria responder apropriadamente e sem demora de forma a proteger os seus assuntos.

Mas mais sintomático dessa vassalagem, poderá ser o facto ter ocorrido presença militar Portuguesa em território do Brunei conforme se atesta não só pelo diverso armamento (incluindo canhões) com as quinas de Portugal gravadas lá encontradas anos mais tarde pelos Espanhóis das Filipinas mas sobretudo pela existência de um forte Português em território do Brunei, cujas ruínas (2 bastiões e respectiva cortina) eram ainda visíveis no início do século XIX e o qual foi inclusive assinalado num mapa do Brunei de 1787 da autoria de William Kirton.


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