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A CAUSA REAL NO DISTRITO DE AVEIRO

A CAUSA REAL NO DISTRITO DE AVEIRO
Autor: Nuno A. G. Bandeira

Tradutor

segunda-feira, 1 de maio de 2023

EM 29 DE ABRIL DE 1858 REALIZOU-SE, POR PROCURAÇÃO, O CASAMENTO DE D. PEDRO V E DONA ESTEFÂNIA

29 de Abril de 1858: Realiza-se o casamento por procuração, na igreja de Santa Hedwiges, em Berlim, de Dom Pedro V e Dona Estefânia, sendo o Rei representado pelo Duque da Terceira...

"Pedro e Estefânia"

(11 de Abril de 2009 - Jornal Público)

"...a duquesa da Terceira permaneceu junto de mim até ao momento em que fui para a cama e depois veio o Pedro, mas não consegui dormir nem um segundo durante toda a noite. Senti-me bastante embaraçada, pouco à vontade, e acho, em suma, que este costume de os esposos dormirem juntos não é muito agradável. Mas considero-o como um dever diante de Deus e, além disso, a pureza e a delicadeza extremas de Pedro tocam-me e fazem-me feliz. É uma grande felicidade para mim, pois sem isto há coisas que me seriam muito difíceis." Esta confissão nupcial lembra a correspondência entre Maria Antonieta e Maria Teresa de Habsburgo, mas foi escrito por uma rainha portuguesa à sua mãe, algumas décadas mais tarde. Estefânia de Hohenzollern-Sigmaringen tinha 21 anos quando casou com Pedro de Bragança Bourbon e Saxe Coburgo-Gotha, o jovem e sisudo monarca português. D. Pedro não estava especialmente interessado em casar, e já tinha escapado ao enlace com uma princesa belga. Mas a família real britânica exercia grande influência sobre ele, e Pedro aceitou enfim casar com a menina escolhida por Vitória e Alberto, uma filha de um príncipe Hohenzollern e de uma filha do grão-duque de Baden. O casamento com a prussiana era politicamente útil, os noivos tinham feitios compatíveis e, acima de tudo, Portugal precisava de um herdeiro. Portugal, como sabemos, não teve herdeiros desse casamento. É uma história secreta e romanesca que faz de Pedro V um dos casos sexuais mais estranhos da monarquia portuguesa (e há vários: o voraz Pedro I, o ambíguo Sebastião, o incapaz Afonso VI, e outros ainda). Pedro e Estefânia casaram em Maio de 1858. Pareciam feitos um para o outro, mas Estefânia morreu catorze meses depois, a 17 de Julho de 1859, com uma difteria contraída numa ida oficial ao Alentejo, onde tinha inaugurado um troço do caminho-de-ferro. Uma ironia trágica, pois o comboio foi (ainda é) a grande imagem do desenvolvimento fontista. Pedro, que sofreu horrores com esta segunda morte precoce (perdera a mãe aos dezasseis anos), viveu pouco mais, falecendo de tifo a 11 de Novembro de 1861, depois de uma caçada. Tinha 24 anos. Entre os seus cognomes, está um inquietante: "O Muito Amado". Amado pelo seu povo, sabemos que foi, mas terá sido Pedro de Bragança muito amado?

A felicidade conjugal de Pedro e Estefânia parecia evidente a quem via a timidez alegre com que conviviam em público e a quem os vislumbrava em privado. Mas como a rainha não engravidava, corriam boatos: de que o casamento não tinha sido consumado, ou mesmo de que o rei era impotente. E a verdade é que Estefânia morreu de facto virgem, como comprovaram os médicos que fizeram a autópsia. Escreveu Ricardo Jorge, nos cinquenta anos da morte da rainha: "[Estefânia] faleceu, como se sabe, de difteria: como as falsas membranas se propagassem à vulva, os médicos examinaram-na, ficando surpreendidos ao deparar-se-lhes o hímen". O assunto era melindroso, e obviamente não foi divulgado. E é impressionante lermos hoje os relatos da época: ela ia no caixão vestida de branco, grinalda de flores brancas, sapatos de cetim branco, luvas brancas. Uma rainha virgem para um rei virgem.

Quem era Estefânia? Um retrato feito em 1860 não nos diz muito sobre a rainha: num vestido branco e dourado, é uma mulher alvíssima, rosto redondo mas queixo afilado, um nariz direito e uma boca pequena, olhos calmos e quase inexpressivos. Sabemos que foi cosmopolita e liberal, tal como o marido, e que se empenhou em ajudar crianças pobres e doentes (daí o hospital com o seu nome, que vejo da minha janela enquanto escrevo esta crónica). Ela amou o seu rei muito amado, talvez da única maneira possível para aquelas duas criaturas, uma maneira que nós achamos inaceitável mas que felizmente não depende da nossa aprovação.

Pedro disse que procurava no casamento "alívio para uma grande ansiedade moral", ele que se angustiava tanto com o atraso do país e com as desventuras políticas. Mas também uma "amizade conjugal", expressão que faz sentido se pensarmos na sua costela puritana e nas suas escassas amizades. A felicidade conjugal de Pedro, indesmentível, era uma felicidade etérea, sem mácula, que aliás não é caso único em românticos pessimistas. A natureza de Estefânia, escreveu, "era perfeita de mais para o nosso mundo", e por isso eles viveram felizes quando viveram fora do mundo, por exemplo no Éden de Sintra. Como se à volta não existisse Portugal.

Depois da morte de Estefânia, Pedro não podia ser muito amado por mais ninguém. Rechaçou a ideia de voltar a casar. E continuou nos meses que faltavam mergulhado naquilo a que chamava, justamente, o seu infortúnio...".

(As citações de Pedro e Estefânia são retiradas da biografia D. Pedro V, de Maria Filomena Mónica, Temas e Debates 2007)

(Fontes: Investigação de António Carlos Janes Monteiro, jornal Público e Maria Filomena Mónica)
 

Associação dos Autarcas Monárquicos

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