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A CAUSA REAL NO DISTRITO DE AVEIRO

A CAUSA REAL NO DISTRITO DE AVEIRO
Autor: Nuno A. G. Bandeira

Tradutor

sexta-feira, 5 de maio de 2023

OS PORTUGUESES NO BANGLADESH

A presença dos Portugueses e a sua influência durante certos períodos na história de muitas nações Asiáticas é um aspecto notável que reiteradamente é aludido sempre que se pretende narrar a trajectória histórica desses estados.
Um desses países onde é sabido que essa presença Portuguesa foi notória é o Bangladesh, país que situa-se no Golfo de Bengala.
O sul de Bengala, entrelaçado como é por uma rede de rios como não existe noutra parte do subcontinente Indiano, estava “talhado” á medida de exímios navegantes como era o caso dos Portugueses, para que aí desenvolvessem os seus instintos de navegação, comércio e amor pela aventura e oportunidades numa região, fortemente caracterizada por ser cenário de frequentes conflitos resultantes de intrigas e disputas pelo poder entre os vários soberanos (Reis, Rajás, etc) que constituíam um intricado sistema político de vassalagem que imperava naquela zona do subcontinente Indiano.
A segunda maior cidade do Bangladesh é Chittagong (Chattogram) que localiza-se no sudeste e que se destaca por ser a maior cidade Portuária do país.
No Século XVI, o Porto de Chittagong que os Portugueses designavam então por “Porto Grande” ou “Xatigam” / “Chatigão” foi o primeiro na região de Bengala a ser visitado regularmente por estes que chegaram a construír um forte perto de Pahartali, que situava-se a 3 km da estação civil de Chittagong.
Antes de 1517, já Fernão Peres D’Andrade que se encontrava em Pacém a caminho da China, havia enviado João Coelho aquele porto, em nome de D. Manuel, Rei de Portugal a anunciar que uma embaixada do soberano Português estava sendo preparada com o intuito de visitar a cidade, visita essa que se concretizou no ano seguinte (1518) quando os Portugueses liderados por João da Silveira foram enviados por Lopo Soares de Albergaria a Bengala.
Estes ao chegarem a Chittagong souberam que por lá se encontrava João Coelho.
João da Silveira mandou um mensageiro apresentar cumprimentos ao soberano de Chittagong e a solicitar em nome do rei de Portugal facilidades para comercializar assim como a autorização daquele para que os Portugueses fundassem uma feitoria naquela cidade.
Contudo antes de chegar a Chittagong, Silveira havia tomado 2 navios de um Mouro chamado Gromalle que era aparentado com o governador de Chittagong.
O sobrinho do piloto dum dos navios que Silveira tomou, simulou tornar-se amigo dos Portugueses, mas assim que chegaram a Bengala inteirou o governador de Chittagong acerca do sucedido, pelo que este dessa forma supôs que Silveira fosse um corsário, tendo o governador consequentemente manifestado a sua disposição de negociar somente com João Coelho o qual ele suponha ser o legítimo mensageiro do Rei de Portugal e de quem tinha boas referências por parte dos Árabes tendo em contrapartida simultaneamente encetado os necessários preparativos para lutar contra Silveira e seus homens.
Ignorando que o governador o encarava como corsário, Silveira não considerou a ideia de envolver João Coelho como intermediário, preferindo invés, ser ele próprio a conduzir directamente as negociações, tendo consequentemente contudo aguardado a anuência para tal por parte do governador.
Porém, como entretanto estava ficando desprovido de víveres, Silveira necessitou de capturar um navio com arroz, atitude essa que serviu de pretexto para que o governador abrisse hostilidades contra Silveira, tendo na sequência disso bombardeado os navios Portugueses a partir de terra.
Os Portugueses defenderam-se com dificuldade tendo no prosseguimento da sua acção imposto uma paralisação a todo o comércio marítimo na área bloqueando todos os portos do governador.
Temendo que os Portugueses capturassem uns navios aguardados pelo Governador que o mesmo já sabia estarem a caminho de Chittagong, aquele viu-se compelido a iniciar negociações com Silveira a fim de levantar o bloqueio.
Enquanto isso, após ter-se inteirado ao longo das negociações do bom relacionamento que o governador nutria por João Coelho, João da Silveira que entretanto havia obtido autorização para ir a terra, autorizou que fosse Coelho a ir a terra com os termos de paz de onde depois deveria regressar a bordo com mantimentos para Silveira e os seus homens.
Contudo assim que os navios que eram aguardados pelo governador atracaram, este traiçoeiramente reiniciou a contenda com os Portugueses.
Apesar de que os Mouros que vinham a bordo dos navios que haviam atracado, conhecessem sobejamente João Coelho e até Fernão Peres D’Andrade, tendo aqueles asseverado ao governador que tanto um capitão como outro sempre se haviam revelado amistosos com os Mouros, corroborando assim as informações já anteriormente obtidas sobre estes dois capitães Portugueses, o governador manteve-se contudo irredutível relativamente ao conflito que mantinha com João da Silveira, não tendo a este propósito surtido por conseguinte qualquer efeito favorável o empenho de João Coelho que entretanto ainda tentou interceder a favor de Silveira perante o governador.
Nesta conformidade, João Coelho zarpou para a China e Silveira para Ceilão, depois de ter tocado em Arracão onde o respectivo rei (que era súbdito do rei de Bengala) ter tentado capturá-lo.
Em 1526 o governador da India Portuguesa, Lopo Vaz de Sampaio enviou Rui Vaz Pereira a Chittagong com mercadoria.
Este ao lá chegar capturou uma galeota que pertencia a um Khajeh Shin-Ud-Din (Cojesabadim),que Sampaio havia reconhecido como sendo um mercador Persa que havia construído uma galeota ao modo das dos Portugueses para andar saqueando e imputando a culpa aos Portugueses.
Dois anos mais tarde (1528) uma expedição Portuguesa comandada por Martim Afonso de Melo Juzarte foi acometida por uma tempestade levando a que os seus navios ficassem á deriva, tendo a embarcação de Melo acabado encalhada num banco de areia perto da ilha de Negamale situada em frente á cidade de “Sodoé” (Sandway – Birmânia, actual Thandwé – Myanmar) onde surgiram uns pescadores que prontificaram-se a guiar os Portugueses até Chittagong, mas que invés, levaram-nos para Chakariã cujo governador era Khuda Baksh Khan (Codovascam) vassalo do último rei independente de Bengala (Mahmud Shah III).
O governador Codovascam mantinha um desaguisado com um chefe vizinho e por conseguinte aproveitou o ensejo para instigar os Portugueses a combater por si, tendo para o feito asseverado que caso vencesse a contenda estes seriam livres de partir.
Apesar dos Portugueses terem lutado por ele e vencido, Codovascam não cumpriu o que havia prometido e encarcerou-os em “Soré” uma cidade localizada no interior a Sudeste de Chittagong.
Entretanto dois navios Portugueses capitaneados por Duarte Mendes Vasconcelos e João Coelho que haviam ficado á deriva na sequência da tempestade que havia assolado a frota de Martim Afonso de Melo Juzarte, lograram chegar a Chakariã tendo de imediato tentado resgatar Martim Afonso e seus homens, mas sem sucesso.
Alguns meses mais tarde (já em 1529) Khajeh Shin-Ud-Din (Cojesabadim) o proprietário da galeota que havia sido capturada por Rui Vaz Pereira em Chittagong 3 anos antes, inteirou o então governador da India Portuguesa, Nuno da Cunha acerca do que havia sucedido em Chakariã tendo paralelamente se disponibilizado para resgatar Martim Afonso de Melo Juzarte por 3000 cruzados, caso os Portugueses lhe devolvessem a sua galeota.
Nuno da Cunha aceitou a proposta do Persa Cojesabadim, pelo que este enviou um seu primo Khajeh Shakr-Ulla (Coje Sukurulá), resgatar Martim Afonso de Melo Juzarte e levá-lo para Goa.
Em 1533, Nuno da Cunha enviou uma expedição comandada novamente por Martim Afonso de Melo Juzarte a Chittagong a fim de abrir comércio com Bengala.
Á sua chegada a Bengala Martim Afonso enviou á corte em Gaur (Gauda) o seu embaixador Duarte de Azevedo com 12 homens e alguns presentes para o rei Mahmud Shah entre os quais encontravam-se contudo algumas caixas de Água-de-rosas que o rei reconheceu como sendo as que um corsário Português chamado Damião Bernardes havia apreendido a um navio Mouro.
Revelando-se altamente enfurecido, com tal situação, o rei determinou que fossem passados á espada todos os Portugueses que componham a embaixada enviada a Gaur e que fôsse enviado um Guazil ao Porto de Chittagong capturar Martim Afonso e os restantes Portugueses que integravam a expedição a fim de lhes aplicar idêntica punição.
Porém, dois Mouros, um deles centenário tido como santo e outro chamado Alfu Khãn, intercederam então a favor dos Portugueses conseguindo dissuadir o Rei de lhes aplicar a pena capital, tendo invés, o rei Mahamud Shah, todavia, sentenciado que todos os Portugueses fossem encarcerados.
Para consumar o infame plano do Rei, o Guazil enviado ao porto de Chittagong para capturar os restantes Portugueses, aproveitou o ensejo para lá interferir numa oportuna disputa então surgida entre os Oficiais aduaneiros Mouros e Martim Afonso a fim de sanar essa situação e no desenrolar dessa sua intervenção ganhar a consideração de Martim Afonso tendo no seguimento, astutamente, formalizado um convite a Martim Afonso e seus homens para irem jantar a terra.
Martim Afonso de Melo e Juzarte e seus homens sem desconfiarem da traição, aceitaram o convite tendo ido a terra, onde Martim Afonso e mais 40 Portugueses foram jantar, tendo os restantes Portugueses optado por participar numa caçada ao Porco.
Durante o repasto que realizou-se num grande pátio ladeado por varandas o Guazil alegou estar indisposto para se poder ausentar momentaneamente, tendo logo de imediato surgido no topo das varandas um grupo de Mouros armados com armas, arcos e flechas que usaram para atacar os Portugueses que se encontravam jantando em baixo no pátio
Tal como havia sido perversamente planeado, os Portugueses foram perfidamente atacados durante o jantar e de nada lhes valeu terem ainda tentado defender-se com as suas espadas pois muitos foram mortos e os restantes não conseguindo conter o ataque viram-se forçados a renderem-se.
Na sequência deste infame ataque os Mouros assassinaram também os restantes Portugueses que se encontravam na cidade e confiscaram ainda todos os bens dos Portugueses.
Martim Afonso de Melo ficou ferido e dos 40 Portugueses que o haviam acompanhado no jantar, 10 foram mortos, entre os quais figurava Cristovão de Melo, sobrinho do anterior Governador da India Portuguesa, Lopo Vaz de Sampaio.
Aqueles que sobreviveram ao massacre foram colocados em masmorras.

Os que se encontravam feridos não receberam qualquer tratamento durantes dias tendo todos posteriormente que marchar uma noite inteira até a um local chamado “Mavá” situado a 6 milhas de distância de onde mais tarde foram levados para Gaur onde segundo cronistas reportam, foram tratados “não como homens, mas como bestas”.
Semelhante sorte tiveram também Duarte d’Azevedo e os outros 12 Portugueses que estavam em Gaur presos naquilo a que o grande Cronista João de Barros designou por “um Inferno”.
Na sequência desse sucedido, o Vice-Rei do estado Português da India, Nuno da Cunha jurou vingança quando soube do ocorrido e em 1534, enviou uma expedição Portuguesa de 9 navios e 350 homens comandada por António da Silva Menezes a Gaur a fim de exigir a libertação do grupo de Portugueses que lá se encontravam detidos e a pedir uma explicação ao rei de Bengala sobre a razão de este ter tratado tão mal a embaixada dos Portugueses que havia sido enviada á sua corte em boa fé para estabelecer relações de paz e amizade com ele.
Mais, Nuno da Cunha ordenou a Menezes que atacasse Mahamud Shah caso este não libertasse os Portugueses.
Nesta conformidade, assim que a frota Portuguesa chegou a Chittagong, António da Silva Menezes enviou Jorge Alcorado ao Rei Mahamud Shah com uma mensagem de Nuno da Cunha e ameaçando que caso algum mal fosse perpetrado contra Alcorado ou caso este não estivesse de regresso ao navio no prazo máximo de um mês, declararia guerra ao Rei.
Como findo o prazo de um mês, os prisioneiros não haviam sido libertados pelo Rei, os Portugueses atacaram Chittagong onde mataram e capturaram “muita gente”, não logrando contudo libertar Martim Afonso de Melo Juzarte e os outros Portugueses que permaneceram cativos em Gaur.
Quando já se preconizava um fim menos feliz para Martim Afonso de Melo e os outros Portugueses que continuavam detidos em Gaur, eclodiu uma série de acontecimentos que iriam alterar o rumo das coisas.
Com efeito, em 1535, o Rei Mahamud Shah viu-se atacado pelas forças do Afegão Sher Shah, tendo no desenrolar dessa circunstância, buscado aconselhamento Militar junto de Martim Afonso de Melo Juzarte, vendo-se ironicamente forçado a recorrer aqueles que até então tão mal tinha tratado, havendo por conseguinte enviado um embaixador a Goa a fim de implorar a Nuno da Cunha a ajuda dos Portugueses contra Sher Shah que se encontrava já a caminho de Gaur, tendo prometido aos Portugueses em contrapartida terra para construirem uma feitoria e erguerem um forte em Chittagong.
O Vice-Rei da India, Nuno da Cunha, correspondeu ao pedido do Rei Mahamud Shah e em 1536 enviou tropas em dois navios comandados por João de Vilalobos e João Correia que prestaram apoio Militar aquele.
Apesar de não ter autorizado a partida de Martim Afonso, em reconhecimento pela ajuda Militar prestada pelos Portugueses, o Rei Mahmud Shah, gratificou aquele com 45.000 reis, tendo remunerado diariamente cada um dos outros Portugueses com uma soma equivalente a 10 cruzados, havendo ainda autorizado o estabelecimento dos Portugueses em Chittagong, com o controlo da Alfândega (cuja chefia foi confiada a Nuno Fernandes Freire), feitorias, terras com casas com poder para cobrar renda sobre os Mouros e Hindus e muitos outros privilégios, tendo a cidade no decorrer dessa fase evoluído e se tornado num destacado centro de comércio da região.
O poder exercido pelo responsável da alfândega, Nuno Fernandes Freire, assumiu tal importância que invariavelmente este era chamado a intervir no sentido de resolver questões entre governadores locais que não reconheciam plenamente a autoridade do Rei de Bengala.
A presença dos Portugueses no Bangladesh foi igualmente significativa em Dacca (Dhaka), Dianga (Feringhi Bunder) e na ilha Sundiva (Sandwip) onde se estabeleceram no final do século XVI.
Os Portugueses foram os primeiros Europeus a se estabelecerem em Dacca, onde chegaram por volta de 1580 provenientes na sua maioria de Hugli (Hooghly-India) onde tinham uma base e consistiam essencialmente em missionários e mercadores tendo por lá permanecido até o início do século XVIII
Durante esse período, os Portugueses compraram duas aldeias em Bhowal e terras na atual Narinda, tendo os Padres Portugueses Agostinhos fundado algumas igrejas na região onde em 1616 foi oficialmente fundada por estes a Missão de Dacca.
Algumas décadas mais tarde, os Portugueses fundaram ainda um assentamento na margem do Rio Ichamati, a cerca de 25 quilómetros (16 milhas) ao sul de Dacca, localizado na atual área de Muktarpur-Mirkadim de Munshiganj que ainda é conhecida como "Firingibazaar"
No final do século XVI os Portugueses expandiram-se (extenderam as suas actividade) para Dianga onde se instalaram em grande número
Entretanto, pela mesma altura (1590), na sequência de algumas escaramuças com o Rei de Arracão (Arakan-Birmânia ou seja no actual Myanmar) que na época era quem exercia a autoridade na Região, os Portugueses liderados por António Sousa Godinho capturaram o forte de Chittagong e com isso tornaram por subordinação Sundiva tributária (embora a ilha não ficasse totalmente na posse dos Portugueses).
A ilha pertencia a Kedar Rai (Bengalês) mas quando os Mogóis conquistaram Bengala, privaram-no da ilha .
Foi quando os Portugueses liderados por Domingo Carvalho aproveitaram a situação tendo capturado o forte de Sundiva.
A posse total da ilha só se consumou contudo em 1602 quando a população se levantou contra os Portugueses, levando a que Domingo Carvalho pedisse ajuda a Manoel de Matos que era capitão de Dianga que com 400 homens o ajudou tendo derrotado o inimigo pelo que a ilha a partir daí “ficou dividida” por Carvalho e Matos, tendo este último escrito para o Rei de Portugal informando que estavam mantendo a autoridade na ilha sob a Coroa de Portugal.
Entretanto o rei de Arracão dando conta do crescente poder e influência que os Portugueses começavam a ter na região juntou-se a Kedar Rai (antigo soberano de Sundiva) a fim de atacarem os Portugueses.
Pressentindo isso, a maioria dos Portugueses em Dianga e Caranja zarparam dessas cidades com os seus haveres pois não possuíam meios suficientes para suster o ataque. Idêntica atitude / motivo tiveram também os Portugueses de Chittagong que na época era governada por um parente (tio) do Rei de Arracão.
Dando prosseguimento ao seu plano, os Arracaneses atacaram por mar, Dianga onde nesse momento estava Manoel de Matos.

A fusta de Matos suportou o ataque mas o inimigo logrou capturar 4 navios o que os fez jubilar.
Contudo passados dois dias, chegou de Sundiva, Domingo Carvalho cuja frota juntou-se aos navios de Matos, tendo as forças concertadas dos Portugueses atacado o inimigo no amanhecer seguinte, destroçando-os completamente e apoderando-se dos navios e munições dos Arracaneses.
Tendo chegado essas novas a Chittagong, instalou-se o pânico na cidade tendo as pessoas começado a fugir com os seus bens temendo um ataque dos Portugueses que na altura podiam facilmente atacar e apoderarem-se do forte de Chittagong mas que na altura optaram por não o fazer por terem falta de homens para depois mantê-lo devidamente guarnecido.
Ferido no seu orgulho, o rei de Arracão desforrou-se contra os Portugueses que viviam no seu reino ordenando que se saqueasse suas casas e fossem encarcerados num forte, homens, mulheres e crianças que foram submetidas a várias crueldades, tendo ainda os missionários Jesuítas e Dominicanos Portugueses que desde 1598 se encontravam em Bengala desenvolvendo um trabalho de sucesso, sofrido também imensas retaliações.
Porém um tratado celebrado entre Portugueses e aquele rei restaurou novamente a paz.
Entretanto os Portugueses começaram novamente a evidenciar cada vez mais influência e poder na região, visto que liderados por Filipe Brito e Nicote celebraram contratos com alguns reis (Tangu, Siam, Praem) e que após a conquista de Sundiva haviam delineado um grande projecto para o controle de toda a costa leste da baía de Bengala tendo como bases Chittagong e Pegu (na Birmânia-actual Myanmar) o que causou grandes inconvenientes aos navios Muçulmanos que dessa forma ficavam inibidos de comercializar na região
Nessa conformidade, o receio do rei de Arracão que os Portugueses o derrubassem, agravou-se, tendo este resolvido atacar Sundiva pela segunda vez enviando para tal efeito uma grande frota contra Carvalho, mas foi novamente derrotado pelos Portugueses.
Todavia, na sequência desse combate, a frota Portuguesa ficou fragilizada (navios ficaram gravemente atingidos).
Por estar consciente que não conseguiria dessa forma suportar novo ataque do rei de Arracão (que possuía recursos ilimitados), Carvalho e os seus homens evacuaram Sundiva e foram para Sripur (Sreepur), Bakla e Chandecan (Iswaripur), tendo a ilha ficado na posse dos outros Portugueses liderados por Manoel de Matos que na época acumulava as funções de Capitão dos Portugueses em Dianga.
Quando se encontrava em Sripur, Carvalho foi atacado por uma frota Mogol que na época estavam alastrando o seu poder por toda a Bengala e Arracão e que era comandada por um Mandarai, mas, Carvalho destruiu a frota e matou Mandarai.
A retirada de Sundiva nunca deixou de “atormentar” Carvalho que mais tarde (1605) viria a ser morto traiçoeiramente na corte de Chandecan, a mando do seu raja (o Raja Pratapaditya) a fim de agradar o rei de Arracão que nessa época constava estar planeando atacar Chandecan.
Em 1607 Manoel de Matos necessitando de deslocar-se a Dianga, confiou a governação provisória de Sundiva a um seu empregado Muçulmano chamado Fateh Khan.
Porém, durante a sua estada em Dianga, a cidade foi atacada por forças de Min-Razagri, Rei de Arracão que nunca havia digerido o facto de os Portugueses terem tomado Sundiva em 1602, tendo no decurso desse ataque massacrado os Portugueses residentes na cidade (na época eram cerca de 600) havendo nessa altura também morrido, Manoel de Matos não sem antes ter apontado Pêro Gomes para ser o seu sucessor como governador da ilha de Sundiva
Entretanto Fateh Khan o empregado Muçulmano a quem Matos havia confiado a governação provisória de Sundiva, tendo-se inteirado que Manoel de Matos havia falecido em Dianga, ignorou a determinação de Matos relativamente a quem deveria suceder-lhe na governação de Sundiva e apoderou-se traiçoeiramente da ilha tendo ordenado a morte de todos os Portugueses e cristãos nativos que lá se encontravam.
Quando Min-Razagri (Rei Arracanês) atacou os portugueses em Dianga em 1607, alguns dos Portugueses fugiram para a floresta e nove ou dez navios conseguiram fazer-se ao mar. Um dos Portugueses que conseguiu fugir foi Sebastião Gonçalves Tibau, que havia chegado a Dianga pouco antes do ataque dos Arracaneses vindo do rio Meghna com sal para vender.
Passados dois anos (em 1609) os Portugueses comandados por esse Sebastião Gonçalves Tibau aliado ao rei de Bacala (Bakla) reconquistaram a ilha de Sundiva a Fateh Khan que foi morto na sequência do ataque.
Os habitantes da ilha (Hindus) que já estavam acostumados aos Portugueses desde o tempo de governação de Manoel Matos, receberam bem Tibau, tendo este retribuído sob a condição daqueles entregarem todos os Mouros que vivessem na ilha o que os Hindus fizeram de bom agrado, tendo os Mouros sido todos mortos.
Os navios Portugueses começaram entretanto a frequentar as costas de Arracão, tendo o consequente bloqueio Português do comércio marítimo com base em Sundiva ao longo da costa Arracanesa vedado o acesso dos Arracaneses aos dividendos resultantes desse comércio que agora estava inviabilizado.
Com efeito, as forças de Gonçalves bloquearam a costa Arracanesa, incluíndo Chittagong e a capital Arracanesa Mrauk-U (Mrohaung no actual Myanmar), tendo inclusive atacado por duas vezes a cidade real (Mrauk-U) e destruído navios mercantes que ali se encontravam.
A estratégia de Sebastião Gonçalves Tibau consistia basicamente em forçar todos os capitães de navios da área a se submeterem ao seu controle, impondo por conseguinte dessa forma que todos os navios mercantes fossem desviados para a ilha Sundiva.
Os Portugueses, aparentemente consumaram o que pretendiam, pois, num documento real Português da época, diz-se que Sebastião Gonçalves Tibau e seus homens "sujeitou toda a costa de Bengala, incluindo Arracão” e com "estas fortalezas ele controla o comércio dessas partes"
Sebastião Gonçalves Tibau manteve-se como senhor independente de Sundiva até 1617, quando o rei de Arracão Min-Kamaun o atacou e o derrotou.
Gonçalves e o resto dos sobreviventes dedicaram-se desde então á prática da pirataria, pirateando os comerciantes Arracaneses e vendendo os correspondentes saques nos portos do Rei de Bakla com quem mantinham uma relação de amizade.
Mais tarde, Portugueses e Arracaneses reconciliaram-se, tendo então o Rei de Arracão inclusive permitido aos Portugueses que construíssem outros fortes no seu reino caso estes assim o pretendessem.
No início do século XVII a região foi palco dum conflito entre o Rei de Arracão e o imperador Mogol.
Mercenários Portugueses desempenharam então um importante papel no desenrolar desse conflito cujo desfecho revelou-se favorável ao soberano de Arracão, pelo que em reconhecimento pela ajuda recebida, aquele, garantiu aos Portugueses novamente o controlo da cidade de Chittagong.
Em 1615, mercenários Portugueses estabeleceram-se em Dianga com a sanção do rei de Arracão, tendo a presença e acção daqueles contribuído decisivamente para o combate e extermínio da pirataria e pilhagens na região.
Em suma pode-se afirmar que, embora o aspecto militar tenha sido essencialmente ao longo dos séculos XVI e XVII o factor determinante que caracterizou a acção dos Portugueses na história do Bangladesh, a sua presença deixou também contudo notórios legados ao nível da Etnologia (Descendentes Euro-Asiáticos resultantes de matrimónios entre Portugueses e Bangladeshianas), Lingua (existem pelo menos 28 palavras no vocabulário Bengali que são de origem Portuguesa), Arquitetura (Fortificações, Igrejas e Edifícios), toponímia (foram/são “inúmeras” as designações geográficas legadas pelos Portugueses) e da introdução de plantas novas.

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