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A CAUSA REAL NO DISTRITO DE AVEIRO

A CAUSA REAL NO DISTRITO DE AVEIRO
Autor: Nuno A. G. Bandeira

Tradutor

sábado, 13 de maio de 2023

OS PORTUGUESES NO IRAQUE

Em 1990, no decorrer do conflito militar travado entre o Iraque e forças da coligação internacional, liderada pelos Estados Unidos com a aprovação de Conselho de Segurança da ONU, através da Resolução 678, que autorizou o uso da força militar para libertar o Kuwait que havia sido ocupado e anexado pelas tropas Iraquianas sob as ordens de Saddam Hussein, causou alguma perplexidade no seio da comunidade Internacional as inusitadas declarações de Tarek Aziz, Ministro dos Negócios Estrangeiros do Iraque ao “ameaçar” então que "Os Portugueses retidos no Iraque poderiam regressar a Lisboa somente quando o Primeiro-Ministro Português retirasse o navio de guerra que havia enviado para o Golfo Pérsico” tendo nessa ocasião o Ministro Iraquiano paralelamente questionado se Portugal com tal atitude pretendia transparecer as suas ambições coloniais em relação ao Iraque.
Embora a proferição e a lógica de tal ideia se afigurasse na altura absolutamente desenquadrada do contexto histórico e geo-político então vigente, era contudo concerteza o reflexo da memória que a presença dos Portugueses na história daquele país, ainda extraordinariamente suscitava.
Presença essa que embora seja raramente referida, foi um facto e começou a manifestar-se quando em Setembro de 1515 Seyyid Muhamed, emissário do Seyh de Baçorá foi a Ormuz propôr uma aliança a Afonso de Albuquerque tendo-se doravante instituído os contactos/relações entre Portugueses e Iraquianos.
Posteriormente, os Portugueses retribuíram a visita enviando em 18 de Junho de 1517 a Baçorá João de Meira.
Em Fevereiro de 1520, o surgimento de um primeiro de uma longa série de projetos reais visando a construção de uma fortaleza Portuguesa no Shatt-al-Arab, infere o crescente interesse que a coroa Portuguesa já nutria por essa região.
O comando (alcaidaria) da mesma, caso a construção fosse bem-sucedida, deveria ser confiado a João de Meira, que, graças ao sucesso de sua viagem a Baçorá em 1517, recebeu em 1519 a exclusividade de funções de emissário e mediador para contactos com Baçorá.
Para a prossecução de tal plano, no dia 15 de Agosto de 1521, João de Meira foi ao Shatt-Al-Arab afim de impelir o início de relações comerciais entre esta e Ormuz e de tornar Baçorá tributária dos Portugueses, tendo a cidade desde então ficado vinculada aos Portugueses.
Não admirando por conseguinte que Baçorá mais tarde tivesse inclusive sido incluída por Pedro Barreto de Resende na revisão do Livro do Estado da India Oriental completado em 1636, cuja elaboração havia sido ordenada pelo então Rei de Portugal, D. Filipe III que dessa forma pretendia inteirar-se do mapeamento das principais cidades, povoações e fortalezas existentes nos seus domínios Portugueses na África Oriental, Arábia e Médio-Oriente.
O desenvolvimento do comércio entre Baçorá e Ormuz justificou o crescente intervencionismo dos Portugueses nas lutas internas que se opunham às chefias locais.
Já em 1529, no seguimento a um pedido de ajuda de Râsid Ibn Maqâmis, governador de Baçorá que mantinha uma desavença com o Seyh dos Gevâzires que lhe havia tomado dois fortes, os Portugueses enviaram uma pequena frota comandada por Belchior de Sousa Tavares.
Como consequência dessa intervenção militar Portuguesa, Maqânis pôde recuperar os ditos dois fortes e ainda exigir também aos Gevâzires o pagamento de um tributo
O compromisso de ceder aos Portugueses fortalezas ou local para sua construção em território Iraquiano a título de gratidão pelas intervenções militares dos Portugueses foi um aspecto que invariavelmente esteve subjacente sempre que essas intervenções eram instigadas conforme se pode constatar quando em 1546, o Xeique Haya Hayat de Baçorá, achando-se ameaçado pelos Turcos pediu auxilio militar aos Portugueses a quem prometeu fortalezas nas suas terras ou quando cerca de uma década depois (1555-1561), o soberano de Baçorá e os Gizares solicitaram assistência militar aos Portugueses, tendo em contrapartida oferecido uma fortaleza sobre o mar e metade dos rendimentos da alfândega de Baçorá ou mesmo no momento em que posteriormente (em 1607 e 1608) o rei de Hawiza pediu ao Governador da India alguns navios de guerra, condescendendo ser vassalo do Rei de Portugal e dar fortaleza aos Portugueses.
Portugueses que segundo reportou o emérito professor Norte Americano da Universidade de New York, Alexander Melamid, no seu excelente estudo intitulado “The Shaṭṭ al-'Arab Boundary Dispute” possuiram no Século XVI um forte em “Al-Fãw” em pleno território Iraquiano.
No início de 1624 e na sequência de um pedido de ajuda militar contra os Persas que ameaçavam conquistar Baçorá, solicitado pelo então Paxá de Baçorá (Afraziyab Paxá), o grande Almirante Rui Freire de Andrade deu instruções a D. Gonçalo da Silveira para que com uma armada, fôsse até Baçorá ajudar a impedir que o Xá Persa se apoderasse do comércio desta cidade, que era já então de relevante importância para o estado da India, tendo no decurso dessa expedição bombardeado o campo Safávida do rio Karun, impedindo consequentemente que Qubban caísse nas mãos dos Persas e assim evitado que estes conquistassem Baçorá.
A armada Portuguesa manteve-se no estreito de Baçorá até o ano seguinte, para grande satisfação de Afraziyab Paxá, que entretanto faleceu no Verão de 1624.
Contudo na primavera do ano seguinte (1625) os Persas enviaram uma nova força de cerca de 30.000 homens, contra Baçorá.
Os Portugueses reagiram, tendo enviado uma força de 3.000 homens para reforçar a defesa da cidade que ficaram acantonados na Fortaleza de Al-Qurna, localizada a 75 km ao norte de Baçorá, na confluência dos rios Tigre e Eufrates e de fulcral importância estratégica para a segurança de Baçorá, Bagdade e todos os distritos do Tigre e do Eufrates.
Porém, quando se antevia uma batalha entre Portugueses e os Safávidas (Persas), estes subitamente” retiraram alegadamente porque haviam sido destacados para atender a missões mais prementes nomeadamente defender Kandahar que os Persas haviam recentemente tomado aos Mogóis, evitando-se consequentemente graças a esse reforço militar Português que Baçorá tivesse caído nas mãos dos Safávidas
Fruto dessa decisiva influência que na época os Portugueses exerciam na região, em 1624–25, estabeleceu-se um convento Carmelita, a primeira representação oficial da fé cristã em Baçorá
Como conclusão, podemos atestar que embora os contactos comerciais e a presença religiosa tenham também desempenhado um papel assinalável nas relações históricas entre Iraquianos e Portugueses, a verdade é que a presença Militar dos Portugueses em território Iraquiano sempre foi o aspecto que mais pesou para o alicerçamento das relações entre ambos ao longo dos séculos XVI e XVII.



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