Na questão económica, o que
mais choca é este totalitarismo deslocado de exigir a adopção do AO num
momento tão complicado para as famílias, devido à diminuição substancial
do rendimento disponível são agora forçados a fazer uma despesa
adicional desnecessária na compra de novos manuais escolares, o que só
revela o requinte de perversidade da decisão.
Nos países africanos sobretudo em Angola e em Moçambique que ainda
não ratificaram o “monstro”, logo juridicamente ainda não está em vigor,
há um digno trabalho de reflexão sobre as vantagens e desvantagens.
Primeiro, a língua portuguesa é vista nesses países como um factor de
unidade, já que são um mosaico de culturas e de outras línguas, e a
modificação do sistema linguístico vem atrasar o ensino da língua
oficial e convergente de todo o seu território. Para além dos custos
muito consideráveis desta “brincadeira” que poderiam ser canalizados
para outras áreas sociais mais carenciadas, e segundo Zeferino Martins,
ministro da educação de Moçambique, a despesa prevista para a
implementação do AO está estimado em cerca de 70 milhões de euros.
Apesar da minha aversão a esta “coisa” quero tentar compreender a sua
finalidade pura, isto é, de ter uma ortografia uniforme no espaço dos
países de língua oficial portuguesa, só que este propósito é meramente
IMPOSSÍVEL de cumprir sem desvitalizar a língua, pois é a sua genuína
diversificação geográfica e cultural é que vem enriquecê-la.
Outra crítica apontada pelos opositores desta “coisa” é o facto de
não se tratar de um real acordo, onde há cedências significativas das
partes, mas sim a uma espécie de submissão à vontade das autoridades
brasileiras, conquanto as implicações na sua ortografia são bastante
residuais, ao invés dos restantes países que usam a mesma ortografia, em
parte devido à reforma ortográfica de 1968.
É claro que também há vantagens comerciais no mercado editorial, pois
o mercado brasileiro apenas corresponde a 3 vezes e meia do português, e
com as disparidades do custo de produção torna-se num factor muito
apetecível para a sua uniformização, porém este interesse não pode ser
decisivo para uma transformação de hábitos de escrita tão relevantes.
Em relação à concepção política, o Palácio do Planalto é o único
interessado na consumação desta “coisa”, que sobre o pretexto da dita
unidade lusófona está alicerçando um género de imperialismo cultural que
tanto criticam outros países de o exercer, nomeadamente os Estados
Unidos, o seu grande rival, o que revela um contra-senso inexplicável.
Existem questões mais prementes do que esta alarvidade, mesmo dentro
do campo linguístico como seja a activação efectiva do Instituto
Internacional da Língua Portuguesa (IILP) que está sedeado em Cabo
verde, ou discutir novos métodos de ensino sobretudo em locais mais
deprimidos socialmente, recolocar o ensino do latim como complemento
lógico do português, pois parece que há muito esquecimento quanto à
nossa raiz linguística e base orientadora.
Com o sabor dos tempos e dos agentes políticos incultos que nem um
texto sabe escrever correctamente conforme acusa Azeredo Lopes, antigo
Presidente da Entidade Reguladora da Comunicação Social (ERCS) que veio
apontar vários erros no tratamento da língua portuguesa na redacção do
relatório sobre o futuro da RTP, o que é no mínimo vexatório para os
seus autores, mas é apenas o espelho da sua sociedade.
A língua portuguesa deve ser bem tratada, bem aprendida, bem estudada
e bem aplicada, pois só assim a evolução educacional e cultural pode
reflectir numa sociedade mais interessada e mais dinâmica, com os
necessários proveitos a nível do saber fazer.
Em suma, o AO é apenas a expressão máxima de um povo acéfalo, inerte e
descrente, pois mesmo que a maioria da sua população discorde desta
“coisa”, mesmo que saiba que vai produzir autênticas aberrações
linguísticas e que no futuro terá consequências desastrosas na sua
identidade, tudo aceita impavidamente para não se incomodar. Este
procedimento em curso é apenas o culminar de tantas outras coisas
nefastas que assola esta república, e que não se vislumbra no túnel da
história nenhuma luz nem nenhum anti-depressivo para este incomodativo e
sinistro imobilismo.
Congratulo um grupo de cidadãos que através das redes sociais
dinamizaram uma iniciativa legislativa de cidadãos (ILC) algo raríssimo
na nossa democracia participativa para tentar travar a adopção desta
“coisa”, porém mais uma vez a preguiça e a apatia dos portugueses é
implacável.
Na Constituição da República Portuguesa refere no seu artigo 11º os
símbolos nacionais – a bandeira nacional como representação da soberania
da república, da independência, da unidade e da integralidade da nação,
e o outro símbolo é o hino nacional, a Portuguesa. Se porventura um dia
pintarmos a nossa bandeira nacional de cor-de-rosa ou de outra cor
estrambólica, sem qualquer critério valorativo não deixará de ser uma
bandeira, mas já não é Portugal.
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