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A CAUSA REAL NO DISTRITO DE AVEIRO

A CAUSA REAL NO DISTRITO DE AVEIRO
Autor: Nuno A. G. Bandeira

Tradutor

sábado, 15 de abril de 2023

MANUEL MARIA DE BARBOSA DU BOCAGE

14 de Abril de 1786: Bocage embarca, como oficial de marinha, para a Índia, passa pelo Rio de Janeiro e pela Ilha de Moçambique...

Bocage, de seu nome Manuel Maria de Barbosa du Bocage, *Setúbal, São Sebastião, 15.09.1765 - †Lisboa, Mercês, 21.12.1805, era filho de José Luis Soares de Barbosa (*1728 - †1802) e de D. Mariana Joaquina Caetana Xavier Lestof du Bocage (*1725); Neto paterno de Luís Barbosa Soares (*1686) e de D. Eugénia Maria Inácia (*1693) e neto materno de Gilles Hedoix du Bocage (*1658 - †1727) e de D. Clara Francisca Joaquina Xavier (van Zeller) Lestof (*1700).
Bocage foi um um dos Maiores poetas portugueses e, possivelmente, o maior representante do Arcadismo Lusitano. Embora ícone deste movimento literário, é uma figura inserida num período de transição do estilo clássico para o estilo romântico que terá forte presença na literatura portuguesa do século XIX. Era primo em segundo grau do zoólogo José Vicente Barbosa du Bocage.
Nascido em Setúbal às três horas da tarde de 15 de Setembro de 1765, falecido em Lisboa na manhã de 21 de Dezembro de 1805, era filho do bacharel José Luís Soares de Barbosa, juiz de fora, ouvidor, e depois advogado, e de D. Mariana Joaquina Xavier L'Hedois Lustoff du Bocage, cujo pai era o Almirante francês Gil Hedois du Bocage, que chegara a Lisboa em 1704, para reorganizar a Marinha de Guerra Portuguesa. Foi seu padrinho de baptismo Heytor Botelho de Moraes Sarmento, 4º Guarda-Mor do Sal de Setúbal, Senhor da Quinta das Machadas, Fidalgo da Casa Real.
Biografia:
Bocage teve cinco irmãos. O pai do poeta, José Luís Soares de Barbosa, nasceu em Setúbal, em 29 de Setembro de 1728. Bacharel em Direito pela Universidade de Coimbra, foi juiz de fora em Castanheira e Povos, cargo que exercia durante o Sismo de Lisboa de 1755, que arrasou aquelas povoações. Em 1765, foi nomeado ouvidor em Beja. Acusado de ter desviado a décima enquanto ouvidor, possivelmente uma armadilha para o prejudicar, visto ser próximo de pessoas que foram vítimas de Pombal, o pai de Bocage foi preso para o Limoeiro em 1771, nunca chegando a fazer defesa das suas acusações. Com a morte do rei Dom José I, em 1777, dá-se a "viradeira", que valeu a liberdade ao pai do poeta, que voltou para Setúbal, onde foi advogado. A sua mãe era segunda sobrinha da célebre poetisa francesa, madame Anne-Marie Le Page du Bocage, tradutora do "Paraíso" de Milton, imitadora da "Morte de Abel", de Gessner, e autora da tragédia "As Amazonas" e do poema épico em dez cantos "A Columbiada", que lhe mereceu a coroa de louros de Voltaire e o primeiro prémio da academia de Rouen.
Apesar das numerosas biografias publicadas após a sua morte, boa parte da sua vida permanece um mistério. Não se sabe que estudos fez, embora se deduza da sua obra que estudou os clássicos e as mitologias grega e latina, que estudou francês e também latim. A identificação das mulheres que amou é duvidosa e discutível.
A sua infância foi infeliz. O pai foi preso, quando ele tinha seis anos e permaneceu na cadeia seis anos. A sua mãe faleceu quando tinha dez anos. Possivelmente ferido por um amor não correspondido, assentou praça como voluntário em 22 de Setembro de 1781 e permaneceu no Exército até 15 de Setembro de 1783. Nessa data, foi admitido na Escola da Marinha Real, onde fez estudos regulares para guarda-marinha. No final do curso desertou, mas, ainda assim, surge nomeado guarda-marinha por Dona Maria I.
Nessa altura, já a sua fama de poeta e versejador corria por Lisboa.
14 de Abril de 1786, embarcou como oficial de marinha para a Índia, na nau “Nossa Senhora da Vida, Santo António e Madalena”, que chegou ao Rio de Janeiro em finais de Junho.
Na cidade, viveu na actual Rua Teófilo Otoni, e diz o "Dicionário de Curiosidades do Rio de Janeiro" de A. Campos - Da Costa e Silva, pg 48, que "gostou tanto da cidade que, pretendendo permanecer definitivamente, dedicou ao vice-rei algumas poesias-canção cheias de bajulações, visando atingir seus objectivos. Sendo porém o vice-rei avesso a elogios,e admoestado com algumas rimas de baixo calão, que originaram a famosa frase: "quem tem c... tem medo, e eu também posso errar", fê-lo prosseguir viagem para as Índias". Fez escala na Ilha de Moçambique (início de Setembro) e chegou à Índia em 28 de Outubro de 1786. Em Pangim, frequentou de novo estudos regulares de oficial de marinha. Foi depois colocado em Damão, mas desertou em 1789, embarcando para Macau.
Foi preso pela inquisição e na cadeia traduziu poetas franceses e latinos.
A década seguinte é a da sua maior produção literária e também o período de maior boémia e vida de aventuras.
Ainda em 1790 foi convidado e aderiu à Academia das Belas Letras ou Nova Arcádia, onde adoptou o pseudónimo Elmano Sadino. Mas passado pouco tempo escrevia já ferozes sátiras contra os confrades.
Em 1791, foi publicada a 1.ª edição das “Rimas”. Dominava então Lisboa o Intendente da Polícia Pina Manique que decidiu pôr ordem na cidade, tendo em 7 de Agosto de 1797 dado ordem de prisão a Bocage por ser “desordenado nos costumes”. Ficou preso no Limoeiro até 14 de Novembro de 1797, tendo depois dado entrada no calabouço da Inquisição, no Rossio. Ficou até 17 de Fevereiro de 1798, tendo ido depois para o Real Hospício das Necessidades, dirigido pelos Padres Oratorianos de São Filipe Neri, depois de uma breve passagem pelo Convento dos Beneditinos. Durante este longo período de detenção, Bocage mudou o seu comportamento e começou a trabalhar seriamente como redactor e tradutor. Só saiu em liberdade no último dia de 1798.
De 1799 a 1801 trabalhou sobretudo com Frei José Mariano da Conceição Veloso, um frade brasileiro, politicamente bem situado e nas boas graças de Pina Manique, que lhe deu muitos trabalhos para traduzir.
A partir de 1801, até à morte por aneurisma aos 40 anos, viveu em casa por ele arrendada no Bairro Alto, naquela que é hoje o n.º 25 da travessa André Valente, freguesia das Mercês (Lisboa). Foi sepultado num jazigo subterrâneo da Igreja Paroquial de Nossa Senhora das Mercês, em Lisboa.
A 15 de Setembro, data de nascimento do poeta, é feriado municipal em Setúbal.

Autorretrato:
Magro, de olhos azuis, carão moreno,
Bem servido de pés, meão na altura,
Triste de facha, o mesmo de figura,
Nariz alto no meio e não pequeno;
Incapaz de assistir num só terreno,
Mais propenso ao furor do que à ternura;
Bebendo em níveas mãos, por taça escura,
De zelos infernais letal veneno;
Devoto incensador de mil deidades
(Digo, de moças mil) num só momento,
E somente no altar amando os frades,
Eis Bocage, em quem luz algum talento;
Saíram dele mesmo estas verdades,
Num dia em que se achou mais pachorrento.
— Bocage
E no seu Fim, Bocage dizia:
Já Bocage não sou!... À cova escura
Meu estro vai parar desfeito em vento...
Eu aos céus ultrajei! O meu tormento
Leve me torne sempre a terra dura.
Conheço agora já quão vã figura
Em prosa e verso fez meu louco intento.
Musa!... Tivera algum merecimento,
Se um raio da razão seguisse, pura!
Eu me arrependo; a língua quase fria
Brade em alto pregão à mocidade,
Que atrás do som fantástico corria:
Outro Aretino fui... A santidade
Manchei!... Oh! Se me creste, gente ímpia,
Rasga meus versos, crê na eternidade!

Cronologia da vida e obra de Bocage:
(in, Biblioteca Nacional de Portugal)

1758 Casamento de José Luís Soares Barbosa, jurista, com Mariana Joaquina Xavier du Bocage.
1765 - 15 Set. Bocage nasce na vila de Setúbal.
1774 Falecimento da mãe de Bocage.
1781 Assenta praça no Regimento de Infantaria nº 6, sediado em Setúbal.
1783 É transferido para a recém-fundada Academia dos Guardas-Marinhas.
1784 Deserta da Marinha.
1786 É enviado para Goa na qualidade de guarda-marinha. Passa pelo Rio de Janeiro e pela Ilha de Moçambique.
1787 Janta com Beckford célebre escritor inglês.
1789 É promovido a segundo-tenente e colocado em Damão. Abandona este território, seguindo para Surate na Índia. Depois de uma breve passagem por Cantão encontra-se em Macau, de onde regressa ao reino.
1790 Chega a Lisboa em Agosto deste ano. Adere de imediato à recém-fundada Academia das Belas-Letras. Publica a Elegia que o Mais Ingénuo e Verdadeiro Sentimento Consagra à Deplorável Morte do Illmo. e Exmo. Sr. D. José Tomás de Menezes.
1791 Neste ano publica o primeiro tomo das Rimas, Queixumes do Pastor Elmano contra a Falsidade da Pastora Urselina (Ecloga) e os Idílios Marítimos.
1793 Divergências na “Academia das Belas Letras”.
Publicação de Eufémia ou o Triunfo da Religião.
1794 Publica a segunda edição do primeiro tomo das Rimas e um elogio poético ao capitão Vicente Lunardi, o primeiro nauta que fez uma ascensão aerostática em Portugal.
É expulso da “Academia das Belas Letras”.
1797 Traduz As Chinelas de Abu-Casem e História de Gil Braz de Santilhana de Lesage.
Em Agosto, é preso e conduzido ao Limoeiro. Em Dezembro, é transferido para os cárceres do Santo Ofício.
1798 Em Fevereiro, foi enviado para o Convento de S. Bento, para ser “reeducado”. No mês seguinte, por ordem do príncipe regente, o futuro D. João VI, é confinado no Hospício das Necessidades, onde estão sediados os Oratorianos. Usufrui da ampla biblioteca desta ordem religiosa.
Em Abril, vivência finalmente a “liberdade querida e suspirada”.
1799 Publica o segundo volume das Rimas.
1800 Bocage republica o primeiro tomo das Rimas.
Da sua autoria é o Elogio aos Faustissimos Annos do Serenissimo Principe Regente Nosso Senhor.
Traduz Os Jardins de Delille, a Elegia ao Ilustríssimo e Excelentíssimo Senhor Ministro e Secretário de Estado dos Negócios Estrangeiros e da Marinha, etc., etc., etc., D. Rodrigo de Sousa Coutinho de José Francisco Cardoso, Canto Heróico sobre as Façanhas dos Portugueses na Expedição de Tripoli de José Francisco Cardoso e Os Jardins ou a Arte de Aformosear as Paisagens. Poema de M. Delille.
1801 Bocage traduz As Plantas de Castel e O Consórcio das Flores. Epístola de Lacroix a seu Irmão.
1802 Responde perante o Santo Ofício, acusado de pertencer à maçonaria.
Aos Annos Faustissimos do Serenissimo Principe Regente de Portugal, obra dedicada ao futuro D, João VI.
Traduz Galateia – Novela pastoril, imitada de Cervantes por Florian e Rogério e Victor de Sabran, ou o Trágico Efeito do Ciúme.
1804 É publicado o 3º tomo das Rimas e o Epicédio na Sentida Morte do Ilustríssimo, e Excelentíssimo Senhor. D. Pedro José de Noronha, Marquez de Angeja.
1805 É assolado por um aneurisma na carótida. Convivendo com o espectro da morte, escreve febrilmente numa luta contra o tempo. Até falecer, registam-se as seguintes publicações:
São publicadas as seguintes obras: Improvisos de Bocage na sua mui perigosa enfermidade, o elogio dramático A Gratidão, os Novos Improvisos de Bocage na sua moléstia, A Saudade Materna, o idílio Mágoas Amorosas de Elmano e A Virtude Laureada.
Traduz Ericia ou a Vestal.
Falece a 21 de Dezembro de 1805, com 40 anos, na travessa de André Valente, em Lisboa. É sepultado no cemitério da Igreja das Mercês.
1812 Publicação das Obras Poéticas de (…), uma iniciativa pouco rigorosa de Desidério Marques Leão.
1813 Segundo volume da responsabilidade daquele editor.
1813/1814 Nuno Álvares Pato Moniz, correligionário maçónico do escritor, impugna a edição de Desidério Marques Leão, publicando, em dois volumes, as Verdadeiras Poesias Inéditas de Manuel Maria Barbosa du Bocage.
1853 Inocêncio Francisco da Silva publica pela primeira vez, em seis volumes, a obra completa de Bocage.
1854 Inocêncio Francisco da Silva, consciente de que a obra de Bocage não está publicada na íntegra, dá à estampa, clandestinamente, as Poesias Eróticas, Burlescas e Satíricas, o livro mais proibido da literatura portuguesa. No frontispício, ostentava Bruxelas, uma forma de ludibriar as forças repressivas.
1864 Por iniciativa de Manuel Maria Portela, foi colocada uma lápide naquele que é tradicionalmente considerada a casa onde Bocage nasceu.
1871 É erigida a estátua de Bocage no centro da cidade de Setúbal, corolário de uma proposta de António Feliciano de Castilho. Grande parte dos fundos foi angariada por José Feliciano de Castilho, que se encontrava no Brasil.
1875 Teófilo Braga é o responsável literário, pela segunda vez, da obra completa de Bocage.
1902 Teófilo Braga publica Bocage – sua vida e época literária.
1905 O centenário do falecimento de Bocage é amplamente assinalado, designadamente na cidade de Setúbal. As principais personalidades republicanas –Teófilo Braga e Manuel Arriaga, entre outros – marcam a sua presença; concursos, prémios, cortejos, corridas, conferências e publicações são pretextos para se incensar o poeta.
1936 Hernâni Cidade traça a biografia e Leitão de Barros realiza um filme sobre o escritor.
1965 Comemora-se o bicentenário do nascimento de Bocage. Hernâni Cidade é o catalisador das múltiplas iniciativas que então tiveram lugar.
1968/1973 Hernâni Cidade dirige a Opera Omnia, corolário de uma equipa de trabalho da qual fizeram parte António Salgado Júnior, Herculano de Carvalho, Helena Cidade Moura, Maria Helena Paiva Joachin e Álvaro dos Santos Saraiva de Carvalho.
1999 É fundado o Centro de Estudos Bocageanos.
2003 Adelto Gonçalves publica Bocage o Perfil Perdido.
2005 O bicentenário do falecimento de Bocage é assinalado com múltiplas iniciativas na cidade de Setúbal, da responsabilidade do Centro de Estudos Bocageanos e da Câmara Municipal de Setúbal.
As universidades de Hamburgo e do Porto organizam colóquios sobre a personalidade e a obra do poeta; Ana Rosmaninho retrata profusamente a poesia erótica de Bocage; a Biblioteca Nacional expõe, de forma exaustiva, a sua bibliografia e traceja o seu percurso biográfico.

(Fontes: Investigação de António Carlos Janes Monteiro, GeneAll, Estórias da História, Biblioteca Nacional de Portugal e Wikipédia)

 

HISTÓRIA, GENEALOGIA e HERÁLDICA - António Carlos Godinho Janes Monteiro

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