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A CAUSA REAL NO DISTRITO DE AVEIRO

A CAUSA REAL NO DISTRITO DE AVEIRO
Autor: Nuno A. G. Bandeira

Tradutor

terça-feira, 15 de agosto de 2023

AINDA A BATALHA DE ALJUBARROTA

A coragem e a bravura num campo de Batalha, foram sempre determinantes no seu desfecho; e têm que estar sempre associadas a causas justas e colectivas, como a ameaça contra a liberdade de um povo, o risco de cair no esclavagismo ou de perder a própria Nação, como foi o caso de Aljubarrota a 14 de Agosto de 1385.

Os grandes confrontos medievais, movem paixões e admiração mas também deslumbramento; pela entrega de homens e mulheres a causas que muitas vezes ultrapassaram o concebível e o racional, quando leva voluntariamente à entrega das próprias vidas.

O grande impacto do combate estava reservado às linhas da frente de Batalha; por isso eram escolhidos os melhores para suportarem a primeira carga inimiga; ao contrário das guerras actuais eles sabiam que existia uma grande probabilidade de serem mortos, mas algo muito mais forte os transcendia; o sentido do dever e o patriotismo que foram sempre uma incontestável motivação para a entrega total onde não foram raras as vezes, em que a esperança já perdida no desenrolar do combate, dava lugar a um sentimento muito mais forte e profundo a Fé, que foi sempre a grande arma do “Santo Condestável” D. Nuno Álvares Pereira.

Joaquim Vitorino 


A BATALHA

14 de Agosto, dia da batalha de Aljubarrota. Que eu vi assim, pelos olhos, por vezes pela boca, de Fernão Lopes. (Gheke Pepe)

"O ímpeto da carga da cavalaria é afrouxada por uma chuva contínua de flechas e de farpões, que obriga os cavaleiros a protegerem-se sob os escudos, cavalos e homens tombam por terra, relinchos, gemidos, gritos horríveis dos feridos dão lugar à jactância anterior, acorrem os peões a socorrer a seus senhores, mas também eles se vêem empecidos pelo tombar constante de setas e virotões e não poucas vezes se mistura ali o sangue vilão com o nobre e o animal. Os archeiros ingleses, calmos como a morte, já não disparam sincronizados à voz nuvens de setas contra o céu, antes visam os alvos próximos, o cavalo de um, a perna deste, o olho daquele se acaso levanta o bacinete para encontrar caminho por entre as nossas covas de lobo. Desorientados com esta guerra viloa, tão contrária às leis da cavalaria, os inimigos partem as lanças, demasiado compridas para combater a pé, apeiam para enfrentar a nossa peonagem que, se os derruba, prontamente lhes levanta o elmo e faca no olho dá a escolher: resgate ou morte. E sempre, sempre, os frecheiros ingleses a visar alvos que logo tombam, atroa o chão a queda das pesadas armas, eis os inimigos que se aproximam, empurram os nossos, penetram no campo e julgando mais fraca a nossa ala, sobre ela carregam ferozmente. O meu jovem escudeiro, que o anterior, Antão Enes, morrera de peste em Lisboa, lança na mão, treme como varas verdes, outros jovens fidalgos fazem tenção de recuar, foi, vejo-o agora, um erro permitir que estes jovens inexperientes nos sofrimentos da guerra tivessem uma ala à sua responsabilidade, acode meu primo, sempre destemido: — A mim, portugueses! A mim! E lança-se brioso contra o próprio mestre de Santiago, com poderoso golpe de facha o derriba — para sempre, saberemos depois. A seu lado, também eu me atiro aos mais nobres do inimigo, para isto nascemos, não para enganar judeus e mouros por um prato de sardinhas. Que os nossos nos admirem, que os inimigos nos receiem. Dizia meu avô: quando a batalha degenera em corpo a corpo, sempre de sorte incerta, não interessa a técnica, não importa a vida, nossa ou dos nossos inimigos. Só há uma coisa a fazer, carregar sobre eles, bater com todas as forças do corpo e da alma, romper cotas de malha, cortar armaduras e corpos, decepar membros, perfurar olhos, pisar a vilanagem que os protege, matar, matar, cavalos, cavaleiros, peões — até que o estandarte inimigo tombe também ele por terra.
Mas por cada um que derribávamos dez ou vinte caíam sobre nós e nos cercavam. Contra o número não abasta a coragem e empurraram-nos para o centro do quadrado, rota a nossa ala, tantos, tão fortes, tão valentes eram os castelhanos e tão esforçados os fidalgos portugueses que a seu lado se batiam galhardamente, contra a própria terra embora.
Então, vendo o desespero de tão poucos esmagados por tantos, acudiu-nos o próprio Rei, que galopou em nosso socorro: — A mim, irmãos, cá sou el-rei, bradava, para que o seguíssemos. E na confusão de corpos vivos, mortos, de homens e de bestas, lançou fora a lança, que de pouco préstimo era naquele caos, e começou a ferir de facha, derribando inimigos como se fora simples cavaleiro desejoso de cobrar glória. E a batalha recrudesceu renhida, cruel, entre relinchos de cavalos, gritos de cavaleiros, gemidos de feridos, pedidos de misericórdia agora inúteis, que não se faziam já prisioneiros pelo resgate, e a terra empapou-se de sangue nosso, dos nossos mercenários, dos nossos inimigos, todos feitos irmãos na mesma morte. E quando caía já o Sol atrás do outeiro vizinho, tombou por terra, não sei como, o estandarte castelhano e o meu escudeiro, ardido guerreiro passado o pavor inicial, deu em gritar: — Já fogem! Já fogem!
E os castelhanos, desorientados, não compreendendo o que se passava, sem se aperceberem de que estavam a ganhar, deram em fugir e nós, antes que reorganizassem, demos em cima deles, acossando-os sem piedade. Depois foi a matança ignóbil, aquele momento de todas as batalhas em que os cobardes chacinam os valentes que se rendem, nem os feridos que agonizam por terra poupam, para os roubar, para vingar a sua própria cobardia. E na noite que se seguiu, até mulheres, soube-se mais tarde, mataram a espanhóis com quem se haveriam deitado alegremente houvessem sido eles os vencedores…
Vae victis!" 

José De Almeida Basto

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