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A CAUSA REAL NO DISTRITO DE AVEIRO

A CAUSA REAL NO DISTRITO DE AVEIRO
Autor: Nuno A. G. Bandeira

Tradutor

sexta-feira, 18 de agosto de 2023

O ÚLTIMO MONARCA DA VELHA GUARDA

A vida do Kaiser Franz Joseph (Francisco José) consubstanciou os dramas e vicissitudes que tanto apoquentam um enredo ao estilo romântico, e, contudo, tão verdadeiro que a ficção raramente encontra tão largo sentido inspirador. Casado com a sedutora princesa Sissi, depois Isabel da Áustria e rainha consorte da Hungria, é uma felicidade construída sobre terreno movediço. A princesa, minada pela depressão e fragilizada pela anorexia, acabaria assassinada por um anarquista, roubando para sempre um amor que encantou a mitologia do romantismo. Do matrimónio resultaram quatro filhos, um dos quais pôs fim à vida num pacto suicidário com a amante (ainda hoje envolto em mistério) e, na esteira das grandes tragédias, um irmão que seduzido pelas ambições de Napoleão III acabou Imperador no México, lá morrendo fuzilado. Nesta genealogia de desgraças resta um sobrinho e herdeiro cujo destino permanece tragicamente associado ao conflito que devastaria a Europa de 1914 a 1918, o arquiduque Franz Ferdinand, assassinado em Sarajevo, vitimado pela ebulição dos ódios eslavos e do nacionalismo exacerbado que desmembraria, no futuro, a "monarquia dual".
Francisco José foi o modelo de estadista europeu que desapareceria no rescaldo da Primeira Grande Guerra e das revoluções do século XX, produto de um mundo refinado de grandeza aristocrático, tão poderoso e frágil como o sumptuoso brilho dos cristais que sobrevivem periclitantes no cuidado das gerações até que finalmente se estilhaçam.
O próprio qualificava-se como um "Monarca da velha guarda", indissociável da imagem que a posteridade guardou de um homem digno e sério, austero e majestático, tradicionalista e ao mesmo tempo moderado, reformista e cauteloso. Ao modelo tão elogiado por Renan, na Prússia, encontraríamos também na Áustria-Hungria os traços desse "antigo regime adaptado e renovado". A ideia da instituição monárquica na Europa assentava nesses pilares fundamentais que implicavam igualmente uma profunda influência política e social reconduzida a uma organicidade perpétua. Até à Primeira Guerra Mundial os regimes europeus sustentavam-se na manutenção da tradição ao mesmo tempo que procuravam o progresso. O reformismo encontrava no Kaiser um modelo a prosseguir, assim como Alexandre II da Rússia, ou a rainha Vitória e o Príncipe Alberto Saxe-Coburg-Gotha em Inglaterra, ou entre nós D. Pedro V e mais tarde o rei D. Carlos.
No seu longo reinado tentou conciliar as divergências e ódios, entre culturas tão discrepares e territórios que, mal sucumbida a coroa, edificariam fronteiras entre si, desde o norte da Itália à Ucrânia, alcançando as montanhas da Transilvânia, 50 milhões de súbditos pertencentes a onze nacionalidades diferentes. A sua autoridade paternal de inspiração cristã era sensível às divergências religiosas que procurava congregar, onde judeus, muçulmanos, protestantes gozavam de ampla liberdade. É um império aberto às artes e à cultura de que Viena fazia furor, um verdadeiro cosmopolitismo que Budapeste e Praga também acompanhavam, produzindo nomes como Freud, nas ciências, Klimt nas artes, Kafka ou Stefan Zweig, na literatura, Mahler, na música; ou mesmo quem não conhece a valsa vienense que uma família de músicos, da família Strauss, legou à humanidade? Todo um mundo se desvaneceria como se arrasado pelas forças de um furacão. Felizmente o velho Kaiser não assistiria ao desfecho trágico: a ascensão do bolchevismo, nazismo, fascismo e outras loucuras que o século desvelaria na aniquilação completa da velha Europa. Podia bem aplicar aquela máxima atribuída a Madame de Pompadour: "Depois de mim, o dilúvio".
Com a morte de Francisco José morria também um último vestígio dessa velha Europa.

DANIEL SOUSA



18 de Agosto de 1830: Nasce Francisco José I, imperador da Áustria

Imperador da Áustria de 1848 a 1916 e rei da Hungria entre 1867 e 1916. Neto do imperador Francisco I da Áustria (ou Francisco II, último imperador do Sacro-Império Romano-Germânico, entre 1792 e 1806), era filho do arquiduque Francisco Carlos, segundo filho de Francisco I da Áustria e irmão do sucessor deste, Fernando I (1835-1848), o qual sofria de problemas mentais e abdicou a favor do sobrinho em 1848. Nasceu Francisco José I em Viena, a 18 de Agosto de 1830, no palácio de Schönbrunn. Adoptou um estilo de vida austero, apesar do luxo do palácio Schönbrunn, embora mantivesse na corte um ambiente fausto de uma etiqueta estrita e de grandiosas cerimónias. Não possuindo a envergadura de um homem de Estado, demonstrou parcialidade na sua governação do império.

Em 1849 restabeleceu a dominação austríaca na Lombardia e na Hungria, beneficiando do apoio da Rússia. Tentou reorganizar o seu império sob o sistema do federalismo. Aliou-se à Alemanha na guerra dos Schleswig-Holstein e Duchés (1863-1865). O triunfo da Prússia (1866) eliminou definitivamente os Habsburgos da política alemã e obrigou Francisco José a fazer concessões substanciais à Hungria. Em 1867 o império ficou sob o regime dualista, no qual a Hungria era reconhecida como Estado igual ao da Áustria, unidos sob o mesmo monarca.

O esforço de manter unido o império refletiu-se nos acontecimentos familiares: a execução do seu irmão Maximiliano no México (1867); a morte em circunstâncias mal conhecidas do seu único filho, o arquiduque Rodolfo, herdeiro do trono (1889); o assassinato da sua mulher, a imperatriz Isabel (a famosa e trágica Sissi) por um anarquista em Genebra (1898) e o assassinato do arquiduque Francisco Fernando, seu sobrinho e herdeiro, por um sérvio quando visitava Sarajevo. Este último acontecimento viria a desencadear a Primeira Grande Guerra.

Francisco José, último grande monarca da grande família aristocrática germânica dos Habsburgos, morreu em Viena a 21 de Novembro de 1916, dois anos depois de o seu império entrar em derrocada total, no decurso da Primeira Guerra Mundial.



Francisco José I. In Infopédia [Em linha]. Porto: Porto Editora, 2003-2011.
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