♔ | VIVA A FAMÍLIA REAL PORTUGUESA! | ♔

♔ | VIVA A FAMÍLIA REAL PORTUGUESA! | ♔

A CAUSA REAL NO DISTRITO DE AVEIRO

A CAUSA REAL NO DISTRITO DE AVEIRO
Autor: Nuno A. G. Bandeira

Tradutor

domingo, 19 de fevereiro de 2023

A PRINCESA QUE MORREU NUMA CÂMARA DE GÁS NAZI E O HORROR DAS CÂMERAS DE GÁS

Com o fim da Primeira Grande Guerra em 1918, diversas monarquias da Europa entraram em colapso, e entre elas encontravam-se os impérios alemão e austro-húngaro, desta forma, muitos membros das suas realezas fugiram para viver no exílio, enquanto outros decidiram permanecer no seu país natal, mas mal sabiam eles o que iriam sofrer com as perseguições nazis durante a Segunda Grande Guerra.
Um desses casos mais mediático foi a dura saga da princesa Maria Karoline de Saxe-Coburgo e Gota, a terceira filha de príncipe brasileiro Dom Augusto Leopoldo e da arquiduquesa Carolina da Áustria-Toscana, que nasceu na cidade de Pula, actual Croácia, a 10 de Janeiro de 1899, e foi registada como princesa brasileira no exílio, - a princesa era bisneta de Dom Pedro II, o ultimo imperador do Brasil, e da Imperatriz Teresa Cristina, portanto trineta de Dom Pedro I e da Imperatriz Leopoldina, - e que veio a morrer numa câmara de gás nazi, em 1941.


O seu pai, Dom Augusto Leopoldo, cognominado "o Príncipe Marinheiro", era filho do príncipe Luis Augusto e da princesa Leopoldina, mas além de nunca se ter acostumado a viver na Europa por sentir muitas saudades do Brasil, também no seu íntimo nutria uma secreta esperança em poder reinstalar a monarquia no Brasil e voltar para a nação com a sua família, contudo encontrava-se impedido de voltar às terras brasileiras devido à Lei do Banimento, que proibia aos descendentes de Dom Pedro II regressar ao seu País.
Segundo os historiadores é muito provável que ele se tenha estabelecido na Áustria, pátria de sua esposa, para poder beneficiar do apoio financeiro e político da linha católica Saxe-Coburgo-Koháry, que tinha sua sede no impressionante Palais Coburg, em Viena, e Dom Augusto Leopoldo por via dessa influência passou a exercer funções nas Forças Navais do Império Austro-Húngaro.


Maria Karoline era deficiente intelectual, tal como dois dos seus irmãos, Leopoldine (nascido em 1905) e August (nascido em 1895) mas que faleceram precocemente, infelizmente devido à falta de registos da época não há informações se essa condição foi decorrente de alguma questão genética, visto seus pais serem parentes próximos, ou se foi devido a alguma doença grave durante a sua infância, sabe-se, porém, que tal condição acabou por ser crucial para a princesa ter tido uma morte horrível nas mãos dos nazis.


Maria Karoline viveu grande parte de sua vida no Castelo Gerasdorf, nos arredores de Viena, na Áustria, mas a mudança mais dramática nas condições de vida da família ocorreu em 1918, quando os fundamentos do império austro-húngaro ruíram e a Áustria perdeu o seu acesso ao mar. Devido a essa mudança a carreira de Dom Augusto Leopoldo nas Forças Navais Austríacas encontrou-se definitivamente encerrada, e como consequência disso a família teve de abandonar a cidade de Pula e estabelecer-se em Schladming, no centro dos Alpes austríacos.
Contudo a condição de Maria Karoline piorava à medida que ela envelhecia, e o cenário tornou-se ainda mais complicado após a morte de Dom Augusto Leopoldo, a 11 de Outubro de 1922, tinha então a princesa 23 anos. No entanto, até aos seus 39 anos Maria Karoline sempre viveu sob os cuidados da mãe, mas após a Áustria ser anexada pela Alemanha nazi, e devido à instabilidade politica e insegurança que se vivia, as duas acabaram por se mudar para Budapeste, a pedido do príncipe Philipp Josias, um dos irmãos da princesa.
Mas devido à idade avançada de sua mãe, já na casa dos 70 anos, e ao facto da princesa necessitar cada vez mais de cuidados especiais, a sua família decidiu mandá-la para o Hospital Salzburg em Lehnen, um centro médico especializado no tratamento de pacientes com doenças neurológicas, e que era dirigido por freiras, o que dava bastante confiança à família..
O diretor médico deste hospital era Leo Wolfer, um reconhecido médico da época, enquanto o seu filho, o Dr. Heinrich Wolfer, era o chefe da ala masculina e da divisão de doenças hereditárias, porém Heinrich Wolfer era simultaneamente membro das SS e chefe do escritório local de higiene racial, um defensor acérrimo das políticas eugénicas defendidas pelos nazis, fruto da ascensão das teorias do darwinismo social que se desenvolveram no final do século XIX.
Estas políticas defendiam o aperfeiçoamento dos traços hereditários humanos, quer através de várias formas de intervenção genética manipulada, quer através de métodos selectivos, mas sempre com o objectivo de aumentar o número de pessoas mais fortes, saudáveis e inteligentes destinadas ao aperfeiçoamento duma raça superior, enquanto que para aqueles que não possuíssem essas qualidades, ou para determinadas etnias ou grupos sociais, promovia a sua não procriação até levar à sua extinção.
Sabe-se hoje que Heinrich Wolfer além dessa actividade fazia também pesquisas em asilos e instituições sociais de Salzburg destinadas a identificar os pacientes que poderiam ser esterilizados, de modo a poder evitar a sua reprodução. Entretanto, nos primeiros meses entre a primavera e o verão de 1939, os nazis colocaram em prática um Programa de Eutanásia, denominado de Aktion T4, que foi considerado o primeiro programa de extermínio em massa do Terceiro Reich, um antecessor do genocídio dos judeus que mais tarde se veio a verificar e que ficou conhecido como Solução Final.
De facto, no final de 1939 e já a preparar as operações que iriam levar à chamada Solução Final, os nazis iniciaram experiências com gases venenosos em doentes mentais, e Eutanásia foi o eufemismo utilizado na altura para justificarem que este morticínio era simplesmente o processo de eliminação sistemática daqueles que os nazis consideravam "indignos de viver", devido a alguma deficiência física ou mental, contudo internamento este projecto foi sempre referido nome de código de Aktion T4.
O programa Aktion T4 durou aproximadamente dois anos e permitiu que os médicos alemães fossem autorizados a selecionar pacientes considerados incuráveis, após exame médico mais crítico, e então administrar-lhes o que eles referiam como sendo uma morte misericordiosa,
Seis instalações foram então criadas para levar adiante o programa Aktion T4, Bernburg, Brandenburg, Grafeneck, Hadamar, Hartheim, e Sonnenstein, que iniciaram a sua macabra actividade de eliminar os doentes seleccionados, através da utilização do monóxido de carbono produzido quimicamente, contudo, anos mais tarde e após diversos “aperfeiçoamentos” da morte por inalação de gás, os nazis começaram a utilizar o gás Zyklon B, um cianeto de hidrogénio, muito mais letal que o monóxido de carbono.
O programa Aktion T4, supostamente autorizado pelo regime nazi para reduzir o número de pacientes em clínicas psicológicas, foi então realizado duma forma sistemática, mas é importante notar que o sistema funcionou de forma tão eficaz, não apenas por causa de alguns nazis convictos como Wolfer, mas também devido à ampla colaboração de muitos cidadãos normais que com eles colaboravam.
Em Maio de 1941, o centro para deficientes do Hospital Salzburg em Lehnen foi invadido por soldados alemães, Maria Karoline foi uma das 86 pacientes transferidas para o Hospital Niedernhart, e por volta de 6 de Junho de 1941 foi levada para Schloss Hartheim, um castelo em Alkoven, na Alta Austria, que ficou conhecido por ser um dos centros de extermínio para deficientes físicos ou intelectuais, parte dum programa global de extermínio idealizado pelos nazis.


No entanto, os doentes muitas vezes estavam cientes do que lhes estava a acontecer, e não por poucas vezes a força teve que ser aplicada para eles serem retirados de suas instituições e colocados nos transportes que os levariam aos seus destinos finais, transportes esses chamados em surdina de “comboios da morte”.
Ao chegarem ao seu destino os doentes eram recebidos numa recepção, onde depois de se identificarem eram instruídos para se despirem, em instalações separadas para homens e mulheres, e em seguida eram medidos, pesados e submetidos a um exame físico, tudo isso para dar a enganosa aparência duma normalidade.
Os “médicos” que os examinavam, muitos nem médicos eram, marcavam os doentes que tinham dentes de ouro ou pontes de ouro, de modo a mais tarde, após a sua morte, poderem ser extraídos, seguidamente os doentes eram então numerados e fotografados para documentar a chamada inferioridade física que possuíam e assim justificar a sua eliminação “por razões científicas.”
As pessoas nuas eram então reunidas novamente para que pudessem ser conduzidas para as câmaras de gás, que se encontravam disfarçadas para parecerem banheiros onde iriam tomar um duche, e em Hartheim como as câmaras de gás ficavam no andar térreo, o grupo movia-se directamente da sala de exames para as câmaras de gás.
Uma vez dentro da câmara de gás, a equipe fechava a porta de aço e certificava-se de que tudo estava herméticamente fechado, então a válvula do reservatório de gás era aberta, libertando o gás letal na câmara. Este procedimento em princípio deveria ser operado por um médico, mas em Hartheim, o gás era administrado por Valasta, o fogueiro sénior do castelo.
Após cerca de cinco minutos na câmara, as pessoas ficavam inconscientes e em cerca de dez minutos todas estavam mortas, a equipe esperava então uma ou duas horas antes de ventilar a câmara, depois os corpos eram removidos, os fogueiros colocavam os corpos numa palete de metal que era depois empurrada para uma grelha no forno crematório onde os corpos dos exterminados eram cremados, e posteriormente as cinzas recolhidas eram lançadas no rio Danúbio.
A princesa Maria Karoline morreu na câmara de gás deste local logo no seu primeiro dia de chegada, e para além dela, estima-se que cerce de 18.000 pessoas com deficiência física ou intelectual foram mortas em Niedernhart e Hartheim entre Maio de 1940 e Agosto de 1941.
Quando Maria Karoline morreu a sua mãe ainda se encontrava viva, e a arquiduquesa recebeu uma carta de condolências do governo alemão, informando que a princesa tinha falecido devido a causas naturais. Como facilmente se depreende, as chamadas cartas de condolências enviadas aos familiares a informá-los da morte das pessoas nesses locais nunca continham explicações verdadeiras sobre a real causa da sua morte, e geralmente quando eram pedidas mais informações sobre a causa da morte, as respostas eram sempre vagas e genéricas
Geralmente os parentes eram informados sobre a cremação dos corpos com a justificação de ser para seguir uma exigência legal de combate a epidemias, e caso uma pessoa tivesse quaisquer pertences pessoais, estes teriam sido “danificados e destruídos” no decorrer da desinfecção. Contudo uma urna com as cinzas poderia ser solicitada, embora obviamente estas nunca contivessem as cinzas dos falecidos pois todos os restos mortais eram cremados como forma de esconder as evidências das barbáries nazis.
Mais tarde, após ter sido solicitado uma urna com as cinzas da princesa esta foi enviada pelo correio, um memorial foi então realizado em sua memória a 16 de Julho de 1941, a urna foi colocada no mausoléu de St Augustine Kirche e uma placa memorial da princesa Maria Karoline foi colocada no mausoléu, mencionando que ela foi morta numa câmara de gás
Existe ainda nos arquivos da igreja paroquial de St. Augustin uma carta pela qual um representante do irmão de Maria Karoline pede à igreja para cuidar de seu funeral, mas o que chama a atenção pela sua estranheza é que o documento é assinado com a saudação “Heil Hitler“.

Após o fim da guerra o castelo de Hartheim foi transformado num memorial e museu, e os nomes dos pacientes ali assassinados estão escritos nas suas grandes paredes, uma delas mostra a referência a Maria Saxe-Coburgo.


Além de uma homenagem no mausoléu St. Augustin kirche, a memória da princesa Maria Karoline também foi homenageada pelo Memorial às Vítimas do Holocausto no Rio de Janeiro, um Memorial que visa preservar e tornar conhecidas as histórias das vítimas da perseguição e do genocídio nazi que atingiu judeus e diversos grupos minoritários durante a Segunda Guerra Mundial.


Sem comentários:

Enviar um comentário