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A CAUSA REAL NO DISTRITO DE AVEIRO

A CAUSA REAL NO DISTRITO DE AVEIRO
Autor: Nuno A. G. Bandeira

Tradutor

segunda-feira, 7 de agosto de 2023

A HISTÓRIA DO "NEGRITA", EMBAIXADOR DO REINO DO KONGO

 O Papa Paulo V dando a extrema unção ao Conde Antonio Emanuele Ne Vunda, o Embaixador do Rei Álvaro II do Reino do Kongo, Roma, 1608.


No início do Século XVII reino do Kongo era um tributário de Portugal, sendo sua Igreja subordinada à Coroa Portuguesa.

Com o intuito de libertar o Kongo da tutela cada vez mais estreita de Portugal no início do século XVII, O Primo do Rei do Kongo, O Conde Ne Vunda deixou a sua terra, às margens do rio Kongo (na actual Angola), em direcção à cidade de Roma

Em correspondência com o Papa o Rei do Kongo deu muito boa conta de sua fé, alegando que havia falta de sacerdotes que os instruam. Pode-se dizer que a colheita é abundante, mas os trabalhadores são poucos. Em 1604, Antonio Emanuele Nsaku ne Vunda, primo de Alvaro, foi escolhido como o primeiro embaixador congolês na corte papal. Ne Vunda é descrito como um homem "de nobres maneiras e acima de tudo piedoso e devoto, também dotado de força e prudência na diplomacia."' Ne Vunda viajou do Brasil para a Europa com vinte e cinco assistentes; à chegada a Lisboa e Madrid, as autoridades portuguesas e espanholas bloquearam-lhes a passagem para Roma e submeteram-nos a privações extremas.

Após vários meses de detenção pelas autoridades espanholas, ne Vunda embarcou em um navio em Outubro de 1607 e chegou a Roma em 2 de Janeiro de 1608. Apenas quatro de seus assistentes sobreviveram à trágica viagem. Ne Vunda e esses assistentes foram recebidos com pompa e receberam uma recepção digna de príncipes, apesar dos protestos da coroa espanhola. Eles foram alojados em um palácio que já havia sido ocupado pelo famoso jesuíta Roberto Belarmino (um santo e doutor da igreja), mas as dificuldades da viagem já haviam afectado a saúde de Ne Vunda - ele recebeu a extrema-unção do Papa Paulo V na véspera da Epifania, 5 de Janeiro, e morreu mais tarde naquele dia." Devido aos direitos e responsabilidades eclesiásticas concedidas aos reis portugueses em 1519 pelo Papa Leão X para a administração das igrejas locais na esfera de influência portuguesa, a missão de Vunda e seus companheiros foi frustada, sendo impossíveis arranjos alternativos.

Além disso, o Kongo já era reivindicado como tributário por Portugal, que usou todos os meios para dissuadir a independência diplomática de Ne Vunda. Como o único meio de viajar para a Europa era o navio e todos os navios eram propriedade de Portugal, os embaixadores foram efectivamente detidos à chegada a Lisboa.' O Papa Paulo V não só anulou a posição da coroa espanhola sobre a recepção de Ne Vunda, mas também ordenou que missionários espanhóis fossem enviados ao Kongo.

Numa reacção ressentida a este desenvolvimento, Filipe III - cujo apoio à missão foi solicitado pelo Papa Paulo V - obstruiu activamente a iniciativa, causando "grande desgosto" ao papa, para quem a obstrução constituiu "dano irreparável" não apenas ao Kongo, mas à autoridade papal e à reputação da igreja.' Na ausência deste apoio fundamental, a missão do papado no Kongo não poderia ser bem-sucedida, e o papa foi forçado a buscar fontes alternativas de financiamento para esta e outras iniciativas missionárias independentes das coroas portuguesa e espanhola. Havia também a necessidade de recuperar a reputação da igreja e reforçar o poder do soberano espiritual sobre o soberano temporal no que diz respeito a missões e evangelização.

A Missão de Ne Vunda casou um efeito imediato nas missões Católicas pois Em 10 de Julho de 1622, o Papa Gregório XV promulgou a bula Inscrutabili Divinae Providentiae Arcano, que instituiu uma instituição que se responsabilizaria pela organização e difusão da fé católica em regiões não católicas e pela reconversão dos protestantes. Este órgão ficou conhecido como Sacra Congregatio de Propaganda Fide (O Sagrado Ministério da Propagação da Fé). Ao constituir este corpo, a igreja libertou-se dos termos do padroado e das comissões individuais.

Ne Vunda foi um dos primeiros Embaixadores de África na História da Europa. Actualmente seu túmulo está na Basílica de Santa Maria Maior em Roma. A exótica missão diplomática, bem como o esplendor dos funerais que lhe foram conferidos, atiçaram a imaginação dos romanos e coloriram as crónicas da época. O povo baptizou-o de "Negrita", nome pelo qual ainda hoje é conhecido, também em Angola, onde é considerado o precursor das relações diplomáticas ítalo-angolanas.

A pedido do Soberano Pontífice, o escultor Stefano Maderno confeccionou um busto de mármore preto do embaixador, no qual também colaborou o artista Francesco Caporale. Um retrato de Emmanuel Ne Vunda também pode ser visto na “Sala dei Corazzieri”, no Palácio do Quirinal em Roma, ao lado do retrato de 1615 do embaixador japonês Hasekura Tsunenaga .

fonte: Luis Martínez Ferrer, Marco Nocca (ed.), “Coisas do outro mundo” A Missão em Roma de António Manuel, Príncipe de N’Funta, conhecido per “o Negrita” (1604-1608), na Roma de Paulo V, Urbaniana University Press, Città del Vaticano 


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