♔ | VIVA A FAMÍLIA REAL PORTUGUESA! | ♔

♔ | VIVA A FAMÍLIA REAL PORTUGUESA! | ♔

A CAUSA REAL NO DISTRITO DE AVEIRO

A CAUSA REAL NO DISTRITO DE AVEIRO
Autor: Nuno A. G. Bandeira

Tradutor

terça-feira, 8 de agosto de 2023

QUEM FOI SÃO MANÇOS DE ÉVORA? A LENDA E A HISTÓRIA

São Manços, atribuído a Sebastião Lopes (1550-1560). Actualmente no Museu de Arte Sacra da Sé de Évora.

São Manços ou São Mâncio foi um Bispo semi-lendário, considerado santo, que terá sido o primeiro Bispo da Arquidiocese de Évora e de Lisboa.
Em 1195 surge uma referência escrita a este santo, e o seu culto difundiu-se nos finais do século XIII.
Segundo a versão mais conhecida, ainda que toda a sua história esteja envolta em lenda, teria sido um romano discípulo de Cristo, e não um dos Doze Apóstolos, que terá inclusive participado na Última Ceia e testemunhado o acontecimento do Pentecostes.
Depois terá sido enviado a evangelizar a Península Ibérica, fixando-se em Évora, onde fundaria o seu bispado. Terá sido, também, o primeiro Bispo de Lisboa no ano 36.
"A história de S. Manços para além da lenda
(26 de Maio de 2014 • Rosário Silva - RR Rádio Renascença)
Obra dedicada a santos da Idade Média traz à luz dados históricos sobre S. Manços. D. Francisco Senra Coelho (actual Arcebispo de Évora - 2023), bispo auxiliar eleito de Braga e especialista em História da Igreja, fala à Renascença sobre o livro. A obra chama-se “Santos e Milagres na Idade Média em Portugal. St. Adrião, Sta. Natália e S. Manços”.
S. Manços, padroeiro da arquidiocese de Évora, tem agora as suas fontes biográficas contidas num dos volumes de uma colecção que está a ser dinamizada pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa.
Com textos de Paulo Farmhouse Alberto, este é o oitavo volume da colecção e traz à luz as fontes narrativas e bibliográficas deste santo.
D. Francisco Senra Coelho, bispo auxiliar eleito de Braga e especialista em História da Igreja, fala à Renascença sobre a relevância da obra.
Quem foi S. Manços?
S. Manços foi alguém que sofreu o martírio nas proximidades da cidade de Évora, numa localidade designada pelo mesmo nome, anterior ao primeiro milénio. Isto vale para sabermos que é uma personalidade histórica e não uma lenda, ele que é padroeiro da Arquidiocese de Évora. Ora, segundo o documento agora publicado, Manços é apresentado como um homem rural, uma pessoa, provavelmente, de origem romana que vem para esta localidade, a 20 quilómetros de Évora, trabalhar para uma família judaica. Esta família exige que ele mude a sua fé, que não seja cristão. Há uma atitude de caracter persecutório, fazem pressão sobre ele e ele não aceita deixar de ser cristão. Fruto dos maus tratos, são descritas sevícias, judiarias, como se dizia, que provocaram nele chagas profundas. Para além disso, transportava correntes e algemas para estar preso, porque os patrões tinham medo que o seu Deus cristão o libertasse e, numa atitude supersticiosa, mantinham-no cativo. São descritas chagas que criaram larvas. Ele morreu dos maus tratos. Ao morrer, foi para os judeus uma tristeza, uma vez que o seu proselitismo não surtiu efeito, uma vez que Mançoes não mudou a sua religião. O seu corpo foi abandonado numa esterqueira - é assim dito - e coberto com pouca terra.
Estamos a falar de um homem que deu a vida pela sua fé. Como se dá o seu reconhecimento?
Depois do corpo ter sido abandonado, alguém passou e encontrou o corpo incorrupto. Era alguém que tinha um problema judicial grave e que lhe pediu uma graça. Numa espécie de sonho, obteve a resposta que, dentro de sete dias, teria o seu problema resolvido, o que veio a acontecer. Foi então construída de imediato uma capela pequena e lá colocado o corpo incorrupto de manços, com as algemas e as correntes. Mais tarde, esse terreno foi comprado por uma família cristã e transformado numa igreja grandiosa e bela, adornada com mármores, com um pavimento enriquecido por mosaicos, com colunas com árvores frondosas junto ao ribeiro que passa junto à localidade de S. Manços, onde está a actual igreja paroquial. Eu queria realçar um pormenor: é que a actual capela-mor da igreja de S. Manços é construída em pedras romanas datadas do século primeiro. Há uma relação com o aproveitamento de pedras antigas, de um torreão antigo. É dito ser esse o torreão onde foi sepultado primitivamente S. Manços.
Mas a verdade é que o corpo não permaneceu no Alentejo nem mesmo em Portugal...
Sim, isso explica-se com as invasões muçulmanas. O corpo foi transportado, por medo que fosse vilipendiada a sua sepultura e as suas relíquias, para Espanha, para uma paróquia chamada Villanueva, da arquidiocese de Toledo, e aí fez-se um grande mosteiro em seu louvor. O corpo ficou como relíquia guardada por esse mosteiro. Já no século XVI, o arcebispo D. Teotónio de Bragança - já estamos a falar no tempo humanista - fez um contacto e, atendendo às boas relações entre a Igreja de ambos os países, acabou por vir uma relíquia para Évora que ficou depositada numa capela construída junto às Portas de Moura, numa das torres da antiga muralha da cidade, numa capela transformada para o efeito e que guarda um pergaminho precioso, uma relíquia (osso do braço) que foi recebida festivamente na cidade. Nessa altura, S. Manços foi proclamado padroeiro da Arquidiocese, uma vez que é um santo a ela ligado.
Esta é a parte verdadeira da História. Mas há também uma mais fantasiosa e talvez mais conhecida. Pode contar-nos?
É uma história curiosa. André de Resende publicou uma vida dele fantástica. Passou de pastor de animais a pastor de almas, proclamou-o o primeiro bispo de Évora, associou-o ao grupo dos discípulos de Jesus que teria chegado a Jerusalém, quando Jesus entrou triunfalmente em Jerusalém, que conheceu Cristo, que ficou fascinado por ele, foi convidado para a ultima Ceia, esteve no lava-pés, serviu-o à mesa e foi enviado por Jesus para Évora. É evidente que este relato de André de Resende não tem uma base histórica. Ele tem alguns fundamentos de criatividade de alguns textos da Idade Média de que se serviu, mas atingiu uma dimensão fantasiosa e não se pode fazer ignorar a base histórica antiga que agora é publicada. Há um outro pormenor que gostaria de salientar. Esta valorização de S. Manços feita por André de Resende acontece exactamente quando a arquidiocese de Évora é criada. Cm o cardeal D. Henrique, passa de diocese a arquidiocese, passamos de bispo a arcebispo. Portanto, era preciso engrandecer a história da arquidiocese. Foi exactamente nessa época que se elevou S. Manços a freguesia, que se fez a actual igreja paroquial, que se descreve o milagre acontecido a três quilómetros e meio da vila, em que um agricultor invocou S. Manços e foi salvo de um acidente muito grave num dia de trovoada, o chamado “Sitio do Milagre”. Há toda uma exaltação, uma explosão de devoção a S. Manços a partir da descrição resendiana, num contexto de se valorizar muito Évora, porque passa a ter um arcebispo e é importante que a sede tenha um apóstolo, um discípulo de Jesus na sua base. Mas, de facto, S. Manços é outro.
E é esse outro S. Manços que se quer dar mais a conhecer…
Sim. S. Manços foi uma figura que foi ganhando uma biografia legendária com muita mitificação ao longo dos séculos e está-se a tentar ir ao cerne da verdade, fazendo o encontro com o Manços genuíno. Esta fonte agora publicada é muito importante e toda a descrição do ambiente a fórmula de fé que S. Manços professa do cristianismo, o conflito entre os cristãos e os judeus é próprio desta época. Está bem contextuado. Por outro lado, o topónimo, o lugar que nunca perdeu o nome. É muito credível esta fonte e esta narrativa biográfica como base acreditada para os historiadores.
A arquidiocese deve orgulhar-se de ter este santo como padroeiro?
Sem dúvida. Estamos a falar de um leigo, de um homem rural, de alguém que, numa hostilidade muito grande, sobrevive à fé. Nós somos uma terra aonde o laicado é muito importante. Os cristãos do Alentejo vivem muitas vezes em situações de algum isolamento. Somos uma terra com alguma desertificação. O ambiente da igreja alentejana não é propriamente fácil, sabemos que houve vicissitudes históricas muito marcantes nesta terra. Basta pensar no encerramento da Universidade de Évora, na expulsão dos jesuítas, na expulsão das ordens religiosas que aqui estiveram, quando, em 1834, todos os mendicantes, todos os mosteiros e as ordens militares foram expulsas. Eles tinham um trabalho muito grande com as populações e depois veio toda a perseguição da primeira República. Também não foi propriamente fácil a situação do Alentejo no pós-25 de Abril. Estamos a falar de uma igreja com marcas de resistência e Manços, um leigo, um homem rural e simples, resistente na fé, é uma referência muito viva para o cristão alentejano, que é chamado a testemunhar a sua fé, muitas vezes, numa circunstância de religiosidade popular cristã mas de minoria praticante da fé".

São Manços, em iluminura do século XVI

Igreja de São Manços, em São Manços, Évora


(Fontes: Investigação de António Carlos Janes Monteiro, Geneall, Rosário Silva - RR Rádio Renascença e Wikipédia)

HISTÓRIA, GENEALOGIA e HERÁLDICA - António Carlos Godinho Janes Monteiro 

Sem comentários:

Enviar um comentário