♔ | VIVA A FAMÍLIA REAL PORTUGUESA! | ♔

♔ | VIVA A FAMÍLIA REAL PORTUGUESA! | ♔

A CAUSA REAL NO DISTRITO DE AVEIRO

A CAUSA REAL NO DISTRITO DE AVEIRO
Autor: Nuno A. G. Bandeira

Tradutor

quarta-feira, 16 de agosto de 2023

RECORDAR EÇA

Na efeméride de hoje assinala-se a morte de Eça de Queirós. Mais do que o analista da sociedade foi o cultor primoroso do verbo, o perfeccionista da palavra, o esteta da língua. Eça esteve para Portugal como Flaubert esteve para a França. Mais do que um Zola, que ambicionou ser sem alcançar a monumentalidade: enquanto o autor da coletânea genealógica dos “Rougon-Macquart” escrevia de rajada e acumulava lombadas na ânsia de perscrutar ao ínfimo detalhe a psicologia e natureza da sociedade burguesa, como outrora Balzac também o fizera; Eça, por sua vez, trabalhava como um pintor no seu estúdio a analisar as cores, as formulações, os traços e medidas necessários para que a obra alcançasse a pureza e a sublimidade, mesmo sabendo que a perfeição é inalcançável para os comuns mortais.

Independentemente daquele primeiro Eça, absorto no positivismo, o relativista que tudo descredibilizou, há um outro Eça consagrado e realizado que novamente encontrou um sentido à sua escrita. E não tivesse morrido naquele ano (com 54 anos), tivesse assistido à pérfida transformação que se seguiria, talvez, como Ramalho em "Carta de um Velho a um Novo", tivesse finalmente consumado a transição para um patriotismo sereno, lúcido e congruente e que, na realização dos princípios, novamente reencontrasse o fio condutor do destino português.

Contrariamente ao Eça que abjurou a religião em "O Crime do Padre Amaro" e delapidou a sociedade romântica e burguesa penetrando nos vícios venéreos e psicoses, "O Primo Basílio" e "Os Maias", outro Eça emergiu. O patriota que procurou reencontrar o destino e fim do espírito português ("A Ilustre Casa de Ramires") e, ao cosmopolita internacional, que tudo vilipendiava, agora o homem reconciliado com a terra e com a província ("A Cidade e as Serras"), que nem deixou de escrever um livro sobre a vida dos Santos, sepultando um jacobino anacrónico que anunciava já a morte das certezas absolutas do cientismo de oitocentos.

Era também a evolução de uma geração. Uma evolução não apenas constatada na geração "velha", mas vivificada também na geração "nova", que cresceu entre o ultimatum e a República. Esses que seriam os "Filhos de Ramires" sentiriam no seu âmago uma igual transição - nasceu ali o Integralismo Lusitano. Mas de resto, Eça não deixou de ser um filho do seu tempo, para o qual emprestou talento e audácia. Foi um revolucionário na arte ao mesmo tempo que conseguiu ser um esteta primoroso. Um grande artista não é aquele que petrifica no seu tempo, mas sim aquele que consegue alcançar uma elevação completa do esprito e ultrapassar a modorra da mortalidade. Assim foi Eça. 

DANIEL SOUSA



16 de Agosto de 1900: Morre o escritor e diplomata português José Maria Eça de Queiroz, autor de "Os Maias"

Escritor português, José Maria Eça de Queiroz nasceu a 25 de Novembro de 1845, na Póvoa de Varzim, filho de um magistrado, também ele escritor, e morreu a 16 de Agosto de 1900, em Paris. É considerado um dos maiores romancistas de toda a literatura portuguesa, o primeiro e principal escritor realista português, renovador profundo e perspicaz da nossa prosa literária.

Entrou para o Curso de Direito em 1861, em Coimbra, onde conviveu com muitos dos futuros representantes da Geração de 70, já então aglutinados em torno da figura carismática de Antero de Quental, e onde acedeu às recentes ou redescobertas correntes ideológicas e literárias europeias: o Positivismo, o Socialismo, o Realismo-Naturalismo, sem, contudo, participar activamente na que seria a primeira polémica dessa geração, a Questão Coimbrã (1865-1866).

Terminado o curso, iniciou a sua experiência jornalística como redator do jornal O Distrito de Évora (1866) e como colaborador na Gazeta de Portugal, onde publicou muitos dos textos - indiciadores de uma nova estilística imaginativa - postumamente reeditados no volume das Prosas Bárbaras. Em 1867 fundou o jornal O Distrito de Évora. No final desse ano, formou-se o "Cenáculo", de que viriam a fazer parte, nesta primeira fase, além de Eça, Jaime Batalha Reis, Ramalho Ortigão, Oliveira Martins e Salomão Saragga, entre outros. Após uma viagem pelo Oriente, para assistir à inauguração do canal de Suez como correspondente do Diário Nacional, regressou a Lisboa, onde participou, com Antero de Quental e Jaime Batalha Reis, na criação do poeta satânico Carlos Fradique Mendes e escreveu, em 1870, em parceria com Ramalho Ortigão, o Mistério da Estrada de Sintra. No ano seguinte, proferiu a conferência "O Realismo como nova expressão da Arte", integrada nas Conferências do Casino Lisbonense e produto da evolução estética que o encaminha no sentido do Realismo-Naturalismo de Flaubert e Zola, com influência das doutrinas de Proudhon e Taine. No mesmo ano, iniciou, novamente com Ramalho, a publicação de As Farpas, crónicas satíricas de inquérito à vida portuguesa. Em 1872, iniciou também a sua carreira diplomática, ao longo da qual ocuparia o cargo de cônsul sucessivamente em Havana (1872), Newcastle (1874), Bristol (1878) e Paris (1888). O afastamento do meio português - aonde só ia muito espaçadamente - não o impediu de colaborar na nossa imprensa, com crónicas e contos, em jornais como A Atualidade, a Gazeta de Notícias, a Revista Moderna, o Diário de Portugal, e de fundar a Revista de Portugal (1889), dando-lhe um critério de observação mais objectivo e crítico da sociedade portuguesa, sobretudo das camadas mais altas. Aliás, foi em Inglaterra que Eça escreveu a parte mais significativa da sua obra, através da qual se revelou um dos mais notáveis artistas da língua portuguesa. Foi, pois, com o distanciamento crítico que a experiência de vida no estrangeiro lhe permitiu que concebeu a maior parte da sua obra romanesca, consagrada à crítica da vida social portuguesa, de onde se destacam O Primo Basílio (1878), O Crime do Padre Amaro (2.ª edição em livro, 1880), A Relíquia (1887) e Os Maias (1888), este último considerado a sua obra-prima. Parte da restante obra foi publicada já depois da sua morte, cuja comemoração do seu centenário teve lugar no ano 2000.

Na obra deste vulto máximo da literatura portuguesa, criador do romance moderno, distinguem-se usualmente três fases estéticas: a primeira, de influência romântica, que engloba os textos posteriormente incluídos nas Prosas Bárbaras e vai até ao Mistério da Estrada de Sintra; a segunda, de afirmação do Realismo, que se inicia com a participação nas Conferências do Casino Lisbonense e se manifesta plenamente nos romances O Primo Basílio e O Crime do Padre Amaro; e a terceira, de superação do Realismo-Naturalismo, espelhada nos romances Os Maias, A Ilustre Casa de Ramires e A Cidade e as Serras.

Bibliografia: Da imensa bibliografia de Eça de Queiroz salientam-se O Mistério da Estrada de Sintra, 1870 (romance); O Primo Basílio, 1878 (romance); O Crime do Padre Amaro, 2.ª ed., 1880 (romance); O Mandarim, 1880 (conto); A Relíquia, 1887 (romance); Os Maias, 1888 (romance); Uma Campanha Alegre, 1890-1891 (crónicas); A Correspondência de Fradique Mendes, 1900 (romance, edição póstuma); A Ilustre Casa de Ramires, 1900 (romance, edição póstuma); Prosas Bárbaras, 1903 (crónicas, edição póstuma); Cartas de Inglaterra, 1905 (folhetins, edição póstuma); Ecos de Paris, 1905 (folhetins, edição póstuma); Notas Contemporâneas, 1909 (crónicas, edição póstuma); Últimas Páginas, 1912 (crónicas, edição póstuma); A Capital (romance, edição póstuma)




Eça de Queirós. In Infopédia [Em linha]. Porto: Porto Editora, 2003-2011.
wikipedia (Imagens)


Sem comentários:

Enviar um comentário