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A CAUSA REAL NO DISTRITO DE AVEIRO

A CAUSA REAL NO DISTRITO DE AVEIRO
Autor: Nuno A. G. Bandeira

Tradutor

segunda-feira, 6 de fevereiro de 2023

PARABÉNS, PRINCESA SANTA!


Hoje completam-se 571 anos do nascimento da nossa Beata Joana de Portugal (Santa Joana Princesa)
6 de fevereiro 1452

[Imagem: Museu de Aveiro/Santa Joana, Antiga sala de lavor, “O nascimento da Princesa D. Joana”, Óleo sobre tela, autor anónimo, escola portuguesa, c. 1734, inv. 392/A]

O NASCIMENTO DA PRINCESA D. JOANA


«Reinando o mui cristianíssimo e completo de todas as virtudes senhor e rei dom Afonso V nestes reinos de Portugal e dos Algarves etc., no ano do Senhor de mil quatrocentos e cinquenta e dois, prouve a clemência divina dar-lhe uma primogénita filha de sua mulher a rainha dona Isabel, outrossim muito ornamentada de excelência de virtudes e nobreza de bons costumes e grande amor de Deus e discrição em todas as coisas. A qual com muito fervor e devoção oferecia continuamente ao alto Deus preces e devotos sacrifícios de oracões, pedindo-lhe tivesse por bem lhe dar fruto de bênção para seu santo serviço e suceder o reino Isto era porque eram passados alguns tempos sem haver filhos.

Ouvindo o Senhor Deus os seus justos desejos e petições e outorgando-lhe o que pedia, concebeu. E em todos os nove meses que andou prenha sempre foi com tanto prazer e sem nenhuma gravidade nem pejo e dor como que (fol. 49 r a) não trouxesse em seu ventre carrego algum, que bem dava a demonstrar qual havia de ser a que dela havia de nascer.

Vindo o tempo do parto e alumiando a Deus pariu uma filha, a mais formosa e bela criatura que neste mundo pudesse ser achada e vista, a qual na fonte do santo Batismo foi posto por nome Joana, pela singular devoção e afeição que a devota rainha sua mãe havia ao apóstolo e evangelista São João, por cujo amor dizia que se cem filhos houvesse a todos havia de mandar pôr este nome. Nasceu esta infanta na muito nobre cidade de Lisboa aos seis dias do mês de fevereiro da era do Senhor de mil quatrocentos e cinquenta e dois e foi batizada aos oito dias. Depois do Batismo na dita cidade, por todas as dignidades eclesiásticas e seculares e principais pessoas e assinadas do reino e povos e oficiais das cidades que para isto já eram vindos e juntos com grandes festas, prazer e alegria que por todo o reino (fol. 49 r b) se fazia, e mormente na mesma cidade, elevaram a dita infanta menina por sua princesa jurada, todos lhe beijando a mão e havendo-a por sua senhora e herdeira do reino.

Daí a três anos concebeu a sobredita senhora rainha dona Isabel e pariu um filho ao qual mandou pôr o nome de João. E, passados não muitos dias, faleceu a dita rainha na era do Senhor de mil quatrocentos e cinquenta e seis, a dois dias do mês de dezembro.

Mandou logo el-rei que toda a sua casa da rainha, assim damas, donzelas e todos os outros oficiais ficassem em toda a ordenação de corte e paço com a senhora infanta princesa filha sua, na maneira e modo tão inteiramente e sem em coisa se mudar como era em vida da rainha. Crescia a dita senhora e passava a sua meninice, sendo no seu paço criada e servida com todo estado e tratamento como uma rainha. E ela e o menino príncipe seu irmão ambos juntamente foram por el-rei seu pai entregues sob especial guarda e cuidado da muito ilustre (fol. 49 v a) senhora dona Brites de Meneses, que àquele tempo era das principais senhoras deste reino e em virtude e discrição muito perfeita».

Memorial da Infanta Santa Joana e Crónica da fundação do Convento de Jesus (fol. 48 v - 49 v r), Aveiro, Diocese de Aveiro, 2021, 24-26. 



SANTA JOANA PRINCESA, PATRONA DA REAL ASSOCIAÇÃO DA BEIRA LITORAL



6 de Fevereiro de 1452: Nasce Santa Joana, Princesa de Portugal...

Santa Joana, Princesa de Portugal, *Lisboa, Lisboa, 06.02.1452 - †Aveiro 12.05.1490, era filha de Dom Afonso V, Rei de Portugal e de Dona Isabel de Portugal; Neta paterna de Dom Duarte, Rei de Portugal e de Dona Leonor, Infanta de Aragão e neta materna de Dom Pedro, Regente de Portugal, 1º Duque de Coimbra e de Dona Isabel de Aragão, Condessa de Urgel.
Santa Dona Joana de Portugal, (também chamada Santa Joana Princesa embora oficialmente apenas seja reconhecida pela Igreja Católica como Beata) (6 de Fevereiro de 1452 — 12 de Maio de 1490) foi uma princesa portuguesa da Casa de Avis, filha do rei Dom Afonso V e da sua primeira mulher, a rainha Dona Isabel.
Membro da monarquia portuguesa , nasceu em Lisboa e tinha três anos quando a sua mãe faleceu, tendo sido entregue, juntamente com seu irmão, futuro D. João II, aos cuidados de D. Brites de Meneses. Recebeu uma educação humanista com a sua tia Dona Filipa. A princesa, para além de contar com uma boa biblioteca, usufruiu da companhia de importantes letrados. Enquanto o seu pai e irmão combatiam em Arzila, foi-lhe confiada a regência do reino (1471). Quando regressaram, a princesa pediu ao rei para professar num mosteiro da sua escolha e entrou no mosteiro de Odivelas.
0 nascimento desta princesa causou o maior entusiasmo e alegria, por não haver sucessor, e logo no berço foi jurada em cortes por princesa herdeira do reino, titulo que pela primeira vez se dava em Portugal. 0 nome de Joana, que recebeu no baptismo, fora em memória de S. João Evangelista, a que sua mãe consagrava cordial afecto. Desde muito criança mostrou tendências para a vida religiosa.
Tinha 3 anos quando faleceu a rainha sua mãe, e Dom Afonso V logo lhe deu casa com a mesma grandeza e fausto, e por mordomo, primeiramente a Fernão Telo de Menezes, do seu conselho, e depois a D. João de Lima, 2.º visconde de Vila Nova da Cerveira. A princesa continuou na sua vida religiosa, tornando-se digna da admiração de todos pelas suas elevadas virtudes, e pela forma com que ao decoro da sua pessoa unia os rigores da maior austeridade, porque no público ostentava pelas galas a pompa e fausto senhoril, e no interior ocultava por baixo delas a estamenha grosseira, o cilício e outros instrumentos de penitencia. Não faltava nas festas e nas danças com o semblante alegre, mas não perdia um só momento de se entregar com humildade ao jejum, à oração, e sobretudo às muitas esmolas que repartia com largueza, e por sua própria mão aos pobres. Chegou a ter por divisa, pela sua grande devoção, e a mandar pintar uma coroa de espinhos em todas as salas do seu paço, fazendo-a gravar em sua prata, e esmaltar em todas as suas jóias. Alguns príncipes desejaram tê-la por esposa; Luís XI, rei de França, pediu-a em casamento para o delfim seu filho (Carlos VIII); Maximiliano, rei dos romanos, filho do imperador Frederico III; Ricardo III, rei de Inglaterra; porém a santa princesa todos rejeitou, porque o seu maior desejo era consagrar-se a Deus.
Em 1471, voltando Dom Afonso V da tomada de Arzila e de Tanger; determinou Santa Joana cortar por tudo que se oferecesse contra a sua vocação, e tomar o hábito de religiosa. Esperou o pai, vestida ricamente e adornada com as melhores jóias, beijou-lhe reverente a mão, declarou sua vontade, requereu como paga do mesmo triunfo que ele ganhara, instou, e conseguiu, ainda que contra vontade de Dom Afonso, o que ela mais desejava, a entrada no claustro.
Passou primeiro ao mosteiro de Odivelas para a companhia de Dona Filipa de Lencastre, sua tia; sentindo, porém, abraçar-se em desejos de mais austera observância, resolveu recolher-se no convento de Jesus de Aveiro da ordens de S. Domingos, por ter fama de grande austeridade, preferindo-o ao de Santa Clara, de Coimbra, que seu pai lhe apontava.
Fez a sua entrada solene no referido convento de Aveiro com a mesma, Dona Filipa, sua tia, a 3 de Agosto de 1472. Desejosa de professar, passados dois anos e meio depois da sua entrada, a 25 de Janeiro de 1475, vestiu o hábito com todas as cerimónias da religião. A deliberação da piedosa princesa causou o maior desgosto a Dom Afonso V e a seu filho, o príncipe Dom João, que se opuseram energicamente, assim como os grandes do reino, levando os povos a protestar por seus procuradores à porta do mosteiro contra aquela resolução, de que podiam resultam graves perigos para o reino em vista da falta de sucessores à Coroa, mas esses rogos, nem a doença, de que esteve quase sendo vitima antes de terminar o ano de noviciado, fizeram desistir a princesa do seu propósito. Não pôde, contudo, professar, porque uma junta de teólogos congregada na presença do soberano para decidir tão importante assunto, resolveu que a princesa estava obrigada em consciência a deixar essa pretensão. Dona Joana, vendo que não podia realizar o seu desejo, contentou-se em ficar no convento como secular, não havendo meio de a resolver a voltar à corte.
No ano de 1479, porém, sobreveio-lhe nova tribulação com a peste que se desenvolveu em Aveiro, e a santa princesa foi constrangida a sair do convento a 7 de Setembro e a retirar-se à vila de Avis, e depois a Abrantes. Cessando o mal, passados 11 meses, recolheu-se outra vez ao seu convento.
O rei Dom Afonso V proveu o mosteiro de muitos bens e em 1485 Dom João II doou o senhorio de Aveiro à infanta, que por sua vez promoveu o alargamento dos bens pertencentes ao mosteiro.
Com a morte do rei seu pai em 1481 e tendo sido aclamado seu irmão Dom João II, fez voto solene de castidade a 25 de Novembro do referido ano, continuando com maior fervor os seus costumados exercícios com todos os rigores de religiosa, até que faleceu.
Foi sepultada no coro, onde em 1577 D. Ana Manique de Lara, duquesa de Caminha, lhe mandou fazer um túmulo de ébano, marchetado de bronze dourado.
Pelas suas virtudes o povo principiou a considerá-la santa, culto que já lhe rendia em vida, mas que aumentou em devoção depois da sua morte. No ano de 1626 começou-se com grande empenho a diligência da sua beatificação. Abriu-se o túmulo, e encontrou-se o corpo como se tivesse ali sido depositado naquela hora; tiradas as inquirições de seus milagres pelo bispo de Coimbra D. João Manuel, se lhe mandou pendurar diante uma lâmpada de prata.
Foi beatificada a 4 de Abril de 1693, por Inocêncio XII, concedendo que no reino e seus domínios se pudesse rezar desta virgem, e pudessem ser veneradas as suas imagens, e invocar a protecção, como bem-aventurada, a rogos do rei Dom Pedro II e de todos os prelados e magistrados do reino. 0 referido monarca Dom Pedro II lhe mandou fazer um sumptuoso mausoléu de jaspe finíssimo lavrado com variedade de embutidos, mas só depois da sua morte, é que as santas relíquias para ali foram trasladadas, a 25 de Outubro de 1711. Sobre o mausoléu estão as quinas portuguesas, e na face a coroa de espinhos que a santa adoptara por divisa. 0 mausoléu estava cercado de lâmpadas, e o duque de Aveiro, D. Gabriel de Lencastre, lhe ajuntou 5 primorosos candeeiros de prata de grande valor, que doou ao mosteiro. Santa Joana foi senhora da vila de Aveiro e seu termo, menos a jurisdição que não quis nunca, e de todas as rendas, direitos reais dízimos de pescado, com a sisa e imposição do sal da mesma vila; e dos lugares de Mortágua, Eixo, Requeixo, a quinta de Vilarinho e de Balsaime, com todos os seus reguengos de que se lhe fez mercê a 19 de Agosto de 1485, como consta do Arquivo Real.
A princesa morreu em Aveiro no dia 1 de Maio de 1490.
Advento da morte iniciou o culto:
Longe de tudo acabar com a morte de Dona Joana, bem pelo contrário, teve início um culto popular em volta do local onde foi sepultada, junto aos degraus do coro baixo do Convento de Jesus. E o culto teve tal expansão que, no dia 4 de Abril de 1693, o Papa Inocêncio XIII sancionou-o canonicamente pela emissão de uma bula. Mais tarde, foi aprovada a missa e o ofício litúrgico para Portugal e toda a Ordem Dominicana.
Já em 1749, foi tentado o processo de canonização da Infanta Dona Joana, aprovado pelo Papa Bento XIV, a 17 de Março de 1756, que no entanto, por motivos desconhecidos, não chegou a ser formalizado.
A lenda da morte da Princesa
Naquele mês de Maio, os jardins e o pomar do Mosteiro de Jesus, em Aveiro, estavam floridos e verdejantes como nunca se vira.
Muitas plantas tinham sido dispostas e regadas carinhosamente pelas mãos da Princesa Santa Joana, que nesse Mosteiro vivia.
O melhor recreio da filha de Dom Afonso V era deixar a sua cela e passear com as outras freiras à sombra daquelas árvores e no meio daquelas flores.
Chegara, porém, o fim da Santa Princesa. Todos os sinos das igrejas dobravam a finados, e no Mosteiro ia um choro alto, porque ela deixara de viver.
Preparam-lhe o túmulo no coro da igreja e organizam o cortejo funerário desde a cela, passando pelos jardins, para que a vissem pela última vez as plantas que ela estimara tanto.
Deu-se então um caso maravilhoso! À passagem do enterro, começaram a murchar todas as ervas e a desfolhar-se as flores. As folhas e os frutos novos secaram nas árvores e foram caindo tristemente sobre o caixão.
Ninguém pôde conter as lágrimas, ao ver que a própria natureza tomava parte no sentimento que, pela morte da Santa, encheu a Corte e o Reino de Portugal.


(Fontes: Investigação de António Carlos Janes Monteiro, Estórias da História, Visita Guiada - RTP, GeneAll, Padre Moreira das Neves, Wikipédia e blog Família Real Portuguesa)

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