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A CAUSA REAL NO DISTRITO DE AVEIRO

A CAUSA REAL NO DISTRITO DE AVEIRO
Autor: Nuno A. G. Bandeira

Tradutor

sexta-feira, 17 de março de 2023

🏰 O PAÇO REAL DE BELAS

Casa-torre original construída em meados do século XIV.
A estrutura mais antiga do conjunto à qual seriam adicionadas novas alas adjacentes nos séculos seguintes. As obras de remodelação do paço, levadas a cabo na década de 1990 permitiram a descoberta de alguns elementos de cantaria que se encontravam escondidos como os vãos de janelas ogivais de arco quebrado, a uma altura que corresponderia ao piso nobre da torre. As restantes janelas e a porta do piso térreo foram já abertas desde a centúria de 1500 para a frente.
 
O PAÇO REAL DE BELAS (Um tesouro medieval às portas de Lisboa).

Como tantos outros monumentos medievais em Portugal mais ou menos desconhecidos do grande público, mostramos-vos uma pérola histórica a apenas 15 km de Lisboa: o Paço Real de Belas, no concelho de Sintra. De casa-torre a palácio de reis, de solar a cenário para casamentos, este é um dos magníficos exemplares de arquitectura civil do período gótico, que, como sempre aconteceu no nosso país, acabou alvo de uma mistura de estilos artísticos que se foram sobrepondo ao longo dos séculos.
(Mais informações no texto das fotos).
ORIGENS DO PAÇO (meados - fins do século XIV):
Embora seja pacífica a sua datação de meados da centúria de 1300, as origens deste paço estão ainda envoltas em algumas dúvidas dado que a iniciativa da construção da torre mais antiga do conjunto pende entre duas hipóteses: ou seria uma casa-torre pertencente a Lopo Fernandes Pacheco (1289-1349), meirinho-mor, mordomo-mor e chanceler do rei D. Afonso IV (1325-1357), ou, ao invés, teria sido erguida a mando do monarca D. Pedro I (1357-1367) após ter confiscado as ditas terras a Diogo Lopes Pacheco, filho do supracitado Lopo - e um dos suspeitos do assassinato de Inês de Castro. A Arqueologia não foi ainda chamada para dar parecer definitivo sobre a cronologia desta torre pelo que estas duas possibilidades continuam em cima da mesa. O que se sabe com toda a certeza é que a partir da década de 1360 estava na posse do rei D. Pedro I, que o usava como paço de caça, tendo-lhe seguramente ordenado obras de ampliação. Nas suas deslocações a Belas entre 1364 e 1366, o rei não descurava os assuntos da Coroa, tendo inclusivamente procedido ali à redação de alguns documentos.
AS OBRAS JOANINAS (1ª metade do século XV):
Depois da morte do monarca, em 1367, tanto as terras da quinta como o paço foram sendo sucessivamente devolvidas e confiscadas pelo seu sucessor D. Fernando I ao já citado Diogo Lopes Pacheco, fruto das lealdades pouco seguras que este tinha, visto que se passou para Castela duas vezes na década de 1370. O seu regresso definitivo em 1384, como apoiante da causa do Mestre de Avis, resultou na devolução da totalidade do património da família Pacheco até aí nas mãos da Coroa ou de outros nobres. Dessa forma pôde Diogo Lopes instituir o morgado de Belas a título póstumo como herança para o seu filho João Fernandes Pacheco, em 1389, testamento esse confirmado pelo próprio rei D. João I. Mas, em nova volta do destino, estas propriedades regressam novamente às mãos da Coroa em 1398, quando o mesmo D. João I expropria todos os bens de João Fernandes Pacheco, seu vassalo e membro do Conselho Régio, por este o ter atraiçoado, jurando lealdade ao rei de Castela (tal pai, tal filho!).
Esses bens foram assim doados a Gonçalo Peres Malafaia, escrivão da Chancelaria, que não usufruiu deles por muito tempo, visto que em 1412 a sua viúva, Maria Anes, revendia a quinta e o paço novamente ao rei D. João I. Este monarca efectuou então algumas estadias em Belas nos anos seguintes: em 1414, aquando da preparação para a campanha de Ceuta, e no início de 1417. Por sua vez, em 1424, o rei faz a doação da propriedade ao seu filho, o Infante D. João, como dote de casamento com Isabel de Barcelos, neta de Nuno Álvares Pereira. Foi neste período em que o paço esteve na posse do monarca e do infante (entre 1412 e 1442) que se realizaram as obras e alargamentos que contribuíram em grande parte para a sua arquitectura e aspecto que ainda hoje se podem observar, mesmo após as alterações feitas nos séculos seguintes. Assim, sendo que muitos desses elementos arquitectónicos ainda hoje visíveis parecem corresponder à primeira metade do século XV, não podemos deixar de imaginar este paço quatrocentista de Belas como uma versão reduzida do mais famoso Paço Real de Sintra. Para mais, recebia a presença assídua do rei D. Duarte, como quando, pouco depois da sua aclamação em Lisboa a 15 de Agosto de 1433, aí se encontrava com o irmão, o infante D. Pedro.
NA POSSE DA CASA VISEU-BEJA (2ª metade do século XV):
Após a morte do Infante D. João em 1442, Belas passaria a fazer parte do património da filha D. Isabel até à data do seu casamento com o rei João II de Castela, em 1447. Nessa mesma altura Afonso V comprou a propriedade à prima e doou ao seu irmão, o Infante D. Fernando, Duque de Viseu e Beja, novamente como dote de casamento, desta vez com D. Beatriz, irmã de D. Isabel, permanecendo assim na linhagem dos seus anteriores proprietários.
Este paço passou assim a fazer parte de um conjunto de outros palácios que a família Ducal detinha pelo reino como a Quinta da Bacalhoa e o Paço de Beja, infelizmente demolido em 1894. Contrariamente ao que antes se defendia, a mãe de D. Manuel (futuro rei de Portugal) não fez de Belas uma residência habitual ou sequer momentânea, tendo morado a maior parte do tempo em Beja, acabando por rentabilizar a quinta com toda a sua jurisdição, rendas, casas, paços, fornos de pão, pomares, vinhas e azenhas, aforando-as em 1499 a Rodrigo Afonso de Atouguia.
Foi, portanto, já no século XVI, que se fizeram mais campanhas de obras ao novo gosto quinhentista (conforme atestado por Custódio Vieira da Silva), nomeadamente a sua maravilhosa capela de estilo Manuelino, hoje em ruínas, quando a quinta estava aforada à família dos Atouguia Correia (nomeadamente quando lá viveu Pêro Correia, embaixador de D. Manuel I a Roma em 1514 e membro do Conselho régio de D. João III). Campanhas estas que tiveram continuação nos séculos XVII e XVIII, quando novos gostos artísticos e decorativos de cada época foram sendo adicionadas ao conjunto mais antigo do paço.
O PAÇO ACTUALMENTE:
Em 1994, parte da quinta foi expropriada por parte do Estado para a construção do viaduto da Cintura Regional Exterior de Lisboa (CREL), encontrando-se hoje em dia na posse da Sociedade Agrícola e Abastecedora Sagrial, que reabilitou o paço. Sendo propriedade privada, serve actualmente como palco para eventos, recepções e festas de casamento, uso que permitiu o seu restauro e manutenção nos últimos anos. Como se encontra correntemente à venda em diversos sites de imobiliárias de luxo, nós no Repensando, não querendo tomar posição sobre se deveria estar em posse do Estado ou de privados, também não queremos deixar passar a oportunidade de lançar um desafio e uma esperança para o presente e futuro deste paço e da quinta adjacente: que seja possível, independentemente dos seus proprietários, preservar e respeitar a História e a arquitectura do monumento, pois o seu valor intrínseco é incomensurável, não só por ser um exemplar espectacular de um paço de caça medieval, mas também por ter pertencido à Coroa portuguesa em diversos períodos nos séculos XIV e XV.
Exactamente devido ao seu valor histórico, deixamos também uma sugestão aos actuais proprietários, à Câmara Municipal de Sintra e à DGPC: porque não negociar a abertura do palácio a visitas públicas quando não estiver reservado para casamentos ou eventos? Seria certamente a solução ideal para todos e talvez este artigo ajude a criar maior consciência para essa possível solução de rentabilização do espaço ao mesmo tempo que cria igualmente maior consciência patrimonial entre os cidadãos, pois se tais tesouros históricos não são conhecidos ou estimados, é como se não existissem. A administração do Repensando deseja assim que se possa continuar essa e outras actividades lúdicas, evitando que o paço fique fechado, o que levaria, sem sombra de dúvidas, à sua ruína. Vamos todos evitar isso, e, da parte que nos toca, estamos totalmente disponíveis para ajudar os actuais e futuros proprietários a manter este preciosíssimo monumento medieval às portas de Lisboa.
- Pedro Alves.
Ligação para a transcrição do documento de instituição do morgado de Belas, confirmado pelo rei D.João I: http://arquivoonline.cm-sintra.pt/viewer?id=51567...
Ligação para o vídeo do Youtube com imagens do paço: https://www.facebook.com/watch/?v=480418903315817

FONTES BIBLIOGRÁFICAS:
- BARROCA, Mário Jorge, “Torres, Casas-Torres ou Casas-Fortes. A concepção do Espaço de Habitação da Pequena e Média Nobreza na Baixa Idade Média (séculos XII-XV)”, Revista de História das Ideias, Coimbra, Instituto de História e Teorias das Ideias, Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, Volume 19, 1997, pp. 39-103.
- DIAS, João José Alves (org.), Chancelarias Portuguesas: D. João I, 1.ª Edição, Lisboa, Centro de Estudos Históricos Universidade Nova de Lisboa, 2004.
-FERNANDES, Fátima Regina, “Diogo Lopes Pacheco. Acción Política y Diplomacia Entre Portugal y Castilla en el Siglo XIV”. Ediciones Universidad de Salamanca. Stud. Hist., H.ª mediev., 18-19, 2000-2001, pp. 211-224. ISSN: 023-2060.
- GOMES, Saul António, D. Afonso V: o Africano, “Reis de Portugal”, Lisboa, Temas e Debates, 2009.
- PONTE, Teresa Cristina Rôssas da, “Estruturas Residenciais dos Condes de Pombeiro: O Paço de Belas” (Volume I). Dissertação de Mestrado em História da Arte, Património e Turismo Cultural. Departamento de História, Arqueologia e Artes da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, Julho de 2013. PDF online: https://eg.uc.pt/.../Estruturas%20Residencias%20dos...
- VIEIRA DA SILVA, José Custódio, “Paços Medievais Portugueses” [1ª Edição]. Editora IPPAR - Instituto Português do Património Arquitectónico e Arqueológico. Lisboa. 1995.

Capela Manuelina antes das obras da década de 1990.

Sala abobadada na ala sul.
A data concreta da construção desta maravilhosa sala, com as suas pedras de fecho da cruzaria ogival desalinhadas do arco frechal, é ainda uma incógnita, pois se antes se acreditava que poderia ter sido resultado das obras patrocinadas por D. Pedro I ou mesmo pela família Pacheco (quando retoma a posse de Belas após a morte do rei), hoje dá-se como mais provável ter sido erguida na primeira metade do século XV.

Detalhe do interior do paço.

Arcos góticos da “loggia” do Paço.
A ala sul trecentista foi alvo de uma nova campanha de obras na primeira metade do século XV, ao tempo do rei D. João I ou do seu filho, o Infante D. João. Foi quando se abriram grande arcos ogivais, criando uma “loggia”, que poderia suportar também, eventualmente, um segundo piso (como se pode verificar na foto), à semelhança da fachada principal do Paço Real de Sintra ou dos Paços Novos de Leiria. As duas estruturas salientes à esquerda e à direita da fachada são posteriores, já de inícios do século XVI, pois encostam directamente na parede. Sendo assim, esta “loggia” inicial teria ainda mais semelhanças com a de Sintra, mas, ao invés de ser aberta numa só frente, percorria também as fachadas sul e nascente do paço. Esta arcaria quatrocentista seria emparedada mais tarde, em meados de 1500.

Muro do pátio interior e arco de acesso à sala abobadada (fotos 7 e 8 ).
O arco ogival aberto no muro à esquerda não é originalmente gótico, mas sim um revivalismo da década de 1940 projectado pelo arquitecto Raúl Lino, por encomenda dos proprietários do paço naquela época.

Detalhe dos arcos da “loggia”.

Entrada do Paço.
Como se pode verificar na foto, a arcaria do lado direito criava um corredor aberto, semelhante ao Paço Real de Sintra, mas que ficou fechado quando os arcos foram emparedados no século XVI.

Estrutura saliente na fachada interior do paço.
Adicionada em inícios do século XVI, depois da propriedade ter passado para a família dos Atouguia Correia, cuja pedra de armas podemos ver numa das arestas.

Fachada do paço iluminada

Outra perspectiva da sala abobadada.

Arcos “chanfrados” da Sala Grande.
No interior da ala principal do paço, a chamada “Aula Régia”, construída na época de D. Pedro I, encontram-se uma série de arcos ditos “chanfrados”, abertos na primeira metade do século XV, visto que os seus vestígios decorativos vegetalistas são semelhantes aos arcos da “loggia” na fachada principal.

Fachada interior do Paço.
Durante o reinado de D.Pedro I (1357-1367) é atribuída a construção de uma ala térrea a sul da casa-torre original, a “Aula Régia”, seguindo a fórmula típica da divisão de um palácio da época: sala, antecâmara, câmara e trescâmara. Para além destas podiam encontrar-se edifícios de apoio como a capela, estrebarias, cozinhas, alojamento para os criados, etc. Mas, ao contrário do paço propriamente dito, construído em pedra, estes alojamentos secundários (tirando a capela) seriam em madeira, pelo que não sobreviveram vestígios.

Fachada exterior do Paço.
Esta fachada, que também apresentava no piso térreo o mesmo tipo de arcos góticos que ainda se podem ver no lado interior, foi remodelada no século XVI - com a adição de duas estruturas saliente de cada lado - e no final do século XVIII - com a construção de uma pequena arcaria, de linhas altas e esbeltas, numa aplicação feliz do estilo neogótico que então despontava.

Capela Manuelina.
Esta magnífica capela de estilo Manuelino foi construída nas primeiras décadas do século XVI, quando o paço se encontrava na posse de Pêro Correia, embaixador do rei D. Manuel I a Roma, em 1514.

Detalhes do paço.
As constantes obras e remodelações sofridas pela estrutura taparam e modificaram muitos dos seus elementos medievais, no entanto, as campanhas de reabilitação mais recentes trouxeram de novo à luz do dia um pouco desses vestígios.

Arcos neogóticos de finais do século XVIII.
Na fachada nascente foram adicionados uma série de arcos ogivais nos últimos anos da centúria de 1700, durante as várias campanhas de reconstrução após o terramoto de 1755. Esta tentativa de revivalismo da arquitectura original do paço, foi, na nossa opinião, extremamente feliz.

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