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A CAUSA REAL NO DISTRITO DE AVEIRO

A CAUSA REAL NO DISTRITO DE AVEIRO
Autor: Nuno A. G. Bandeira

Tradutor

quinta-feira, 20 de julho de 2023

A BATALHA DE MATAPÃO


No dia 20 de Julho do ano de 1717 travou-se uma importante batalha naval no Mediterrâneo, conhecida por Batalha de Matapão, que finalizou os conflitos entre aliados cristãos e o Império Otomano.

A primeira intervenção portuguesa neste conflito foi a resposta ao pedido de auxílio realizado pelo Papa Clemente XI aos reinos católicos em 1716, e, posteriormente a participação na decisiva batalha naval foi considerada um êxito diplomático de D. João V.

Como recompensa, Clemente XI elevou a arquidiocese de Lisboa, criando o Patriarcado de Lisboa com a bula "In supremo apostulatos solio" de 7 de Novembro de 1716.


📷 "Batalha Naval do Cabo Matapan” – Óleo sobre tela, cópia de António José Ramos Ribeiro (1956) a partir do original de João Dantas (1892), Museu de Marinha. 


Associação dos Autarcas Monárquicos


Em meados do século XVII, os Turcos voltavam a ameaçar a Europa Ocidental. Após a conquista de Moreia, na Grécia, começavam a aproximar-se de outros domínios de Veneza como a ilha de Corfu, e, inclusivamente, estavam a ameaçar vários estados italianos junto ao Adriático. Perante esta situação instável e perigosa, decidiu-se pedir a intercessão do Papa, o qual, por sua vez, apelou aos países da Península Ibérica para que viessem em seu auxílio. D. João V, o monarca português de então, equipou a armada que zarpou do porto de Lisboa a 5 de Julho de 1716. Contudo, esta armada, comandada pelo conde de Rio Grande, Lopo Furtado de Mendonça, voltou ao ponto de partida sem chegar a lutar, devido à retirada dos turcos. A 28 de Abril do ano seguinte, esta esquadra portuguesa voltou a sair para o mar Mediterrâneo, onde defrontou as forças turcas ao largo do Cabo de Matapão, no Peloponeso, a 19 de Julho de 1717. Nesta batalha, a armada portuguesa, em colaboração com duas naus da Ordem de Malta e uma fragata veneziana, alcançou uma importante vitória sobre as forças turcas.


Portugal contra o Califado: 306 anos da Batalha de Matapão, quando a nossa Armada parou a expansão turca no Mediterrâneo

Exausta, esgotada em recursos e vontade combativa após a Guerra da Sucessão Espanhola, a Europa foi surpreendida em 1714 com nova investida turca. O Sultão sentira a debilidade, o cansaço, a animosidade entre os grandes poderes católicos do Ocidente, e dispôs-se a atacá-los justamente quando estes pareciam mais débeis. Marchou sobre a Moreia, na Grécia, à data província da Sereníssima República de Veneza; o Doge reagiu implorando a intervenção da Santa Sé e, através dela, a ajuda das monarquias europeias. 

Mas estas mostraram-se, em geral, desinteressadas da luta. Espanha, mal refeita das lutas da década anterior, mais não enviou para o Mediterrâneo que fraca armada; a Áustria possuía forte exército, mas nenhum poder marítimo com que confrontar o de Istambul; a França, que até 1715 travara com Viena duríssima guerra pelo controlo do trono espanhol, não quis combater ao lado dos austríacos.

Perante a indiferença geral, acudiu às súplicas de Veneza - e aos sustentados, mas até então ineficazes, pedidos do Papa - o rei de Portugal. Lisboa vivia então, com Dom João V, um período de renovada grandeza. Devolvido à sua condição natural de forte potência naval, Portugal fazia-se ouvir pela Europa; a sua marinha, acarinhada pelo Infante Dom Francisco, conhecia então vigor que não mais recuperaria, e que a colocava entre as primeiras do continente. 

O Rei Magnânimo compreendeu que a luta pelo Mediterrâneo Oriental, onde os turcos se recompunham da derrota sofrida trinta e quatro anos antes em Viena, era de importância essencial para Portugal, a Europa e a Cristandade. Percebeu, ainda, que ali se apresentava oportunidade preciosa para que Portugal recuperasse o prestígio de outrora pagando-o a pólvora, aço e sangue.

Pólvora, aço e sangue foi, pois, o que Dom João tratou de oferecer ao Turco. O Infante Dom Francisco - príncipe apaixonado, como é comum entre os Braganças, pelos assuntos do mar - armou a frota. Eram onze impecáveis naves, sete de combate e quatro de apoio, tripuladas por 3840 homens adestradíssimos, apetrechadíssimos, preparadíssimos na arte da luta no mar. Carregavam quinhentas e vinte e seis peças de forte aço português; eram duas vezes e meia as usadas por Napoleão em Waterloo. 

A comandar a frota, na nau Nossa Senhora da Conceição, ia Dom Lopo Furtado de Mendonça, Conde do Rio Grande. Acompanhavam-no à cabeça da hierarquia da expedição as naus Nossa Senhora do Pilar, de oitenta e quatro peças, em que seguia o Conde de São Vicente como vice-almirante, e a Nossa Senhora da Assunção, capitaneada por Pedro de Castelo Branco e munida de sessenta e seis peças.

A dois de Julho, as armadas da coligação cristã juntavam-se a sul da Messénia, no Peloponeso. Eram, coligadas, fortes de trinta e cinco navios, dos quais os portugueses contavam entre os maiores e mais modernos. A batalha deu-se a 19 de Julho frente ao cabo Matapão. Os turcos tinham ao seu dispor força maior, de cinquenta e cinco navios; os cristãos, apenas trinta e cinco. Possuíam, também, o que seria então um dos maiores vasos militares do mundo: o Kebir Üç Ambarlı, de cento e catorze peças, em que navegava o almirante turco Kapudan Paxá. 

Ao se encontrarem as duas armadas, e por motivo que nunca pôde ser adequadamente esclarecido, a frota veneziana afastou-se da área de combate; frente à força turca, pois, ficou apenas a de Portugal. Desenrolou-se depois feroz duelo de artilharia entre as naus cristãs, quase limitadas à armada portuguesa e a duas embarcações da Ordem de Malta, e o conjunto otomano.

Um grande navio turco foi atingido e posto em chamas; os restantes, vendo a desgraça de uma das principais naves da sua frota, deixadas sem pólvora e temendo a artilharia portuguesa, abandonaram o local e rumaram, desordenadas e batidas, a porto amigo. Travara-se grande recontro, e Portugal levara a Europa cristã à vitória sobre o Califa do Islão.

Depois da batalha, toda a armada cristã regressou à Itália. Os portugueses, vitoriosos, foram cumulados de honrarias por uma Europa agradecida. Em Messina, onde os navios de Portugal foram aportar, fizeram-se festas e fogos de artifício em celebração do Rei Magnânimo e sua armada; ao Conde de Rio Grande, Dom Lopo Furtado de Mendonça, chegou uma carta do Papa Clemente XI dando-lhe conta da gratidão papal; em Lisboa apareceria, pouco depois, grande embaixada veneziana de tributo e agradecimento. 

Maior honra se fez à Igreja portuguesa, passando a capital portuguesa a sede de um dos quatro patriarcados do Ocidente latino, juntamente com Roma, Veneza e as Índias Ocidentais. Fora uma das mais arriscadas empresas algumas vez tentadas pela marinha portuguesa, e resultara em triunfo absoluto.

A Europa actual, tantas vezes mesquinha com Portugal, nada perderia recordando este dia em que foi por ele resgatada da mão do Califa de Istambul.

RPB in 'Nova Portugalidade'


19 de Julho de 1717: Batalha do Cabo Matapão


No ano de 1717, partiu de Lisboa a 28 de Abril para a Ilha de Corfu segunda vez a esquadra naval Portuguesa, que no ano antecedente tinha ido à mesma Ilha, contra os Turcos que a sitiavam com uma grande armada, como em outra parte dizemos. Foram por Cabos desta segunda expedição os mesmos que o foram da primeira, o Conde do Rio Grande, o Conde de São Vicente, o Coronel Pedro de Sousa de Castelo Branco. Constava de catorze navios bem equipados, e guarnecidos de muita e grossa artilharia, de muita e luzida gente. No mar Adriático a estava esperando a Armanda ligeira de Veneza, de que era General André Pizani, com algumas pequenas esquadras auxiliares; e com a chegada da nossa, não duvidaram fazer logo viagem, como com efeito fizeram para o Arquipélago a unir-se com a Armada grande da mesma República de Veneza, que à ordem do Comandante extraordinário Flangini se tinha adiantado para os Dardanelos. Porém, antes que lá chegassem, encontraram nos mares de Matapão a Armada dos Turcos, neste dia do ano referido, e a investiu a nossa esquadra com grande valor, livrando a Armada de Veneza de sua total ruína, como os mesmos Venezianos, e também os Turcos, confessaram. Durou o combate nove horas com incessante fogo de ambas as partes. Foram os Turcos os primeiros que se retiraram do combate, sem embargo de terem sempre o barlavento; e até deveram a uma borrasca que se levantou, o não serem seguidos dos nossos, e poderem retirar-se, e recolher-se no seu porto de Trapano, em muito mau estado, com sete Sultanas inteiramente desmastreadas, e a sua Capitania incapaz de servir mais, com morte de mais de cinco mil Turcos, em que entrou o seu Comandante Baxá, que no mesmo combate foi morto com uma bala de mosquete, não se perdendo da nossa esquadra mais que cento e noventa e oito pessoas, em que entrou o Capitão-de-mar-e-guerra Manuel André dos Santos. O Sumo Pontífice Clemente XI celebrou muito esta vitória com grandes elogios da Nação Portuguesa, e com as lágrimas nos olhos, chamou a El-Rei Dom João V, nosso Senhor, verdadeiro Rei Católico e verdadeiro filho da Igreja. Com estas paternais e amorosas expressões escreveu a El-Rei agradecendo-lhe tão grande benefício; e ao General Conde do Rio mandou um Breve, em que lhe agradecia o zelo e valor com que a sua Armada triunfara da inimiga. Não deixou de confessar a sua obrigação a República de Veneza, como fez por seu Embaixador extraordinário, o Cavaleiro João Mocenigo, que mandou ao nosso Soberano, expressando em nome da mesma República o seu maior agradecimento, com a confissão de dever-se à nossa esquadra a vitória que se alcançara dos Turcos. A seis de Novembro do mesmo ano, chegou a Lisboa a nossa vitoriosa esquadra, com todos os navios de que se compunha, e foram os seus Cabos muito bem recebidos e premiados da nossa Côrte.

Pe. Francisco de Santa Maria in «Ano Histórico, Diário Português: Notícia Abreviada de pessoas grandes e coisas notáveis de Portugal», 1744.

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