O CONTRASTE ENTRE A LIBERDADE BRITÂNICA E A LIBERDADE FRANCESA

O contraste, embora nos tempos que corram pouca seja a diferença. Mas o paradoxo é consistente: é a manutenção da tradição reconhecendo o progresso e confiando à Coroa a missão de salvaguarda da liberdade, contra a loucura demolidora e sanguinária da Revolução que em nome da igualdade e da liberdade apenas soube projectar a tirania. É a preservação das realidades locais e comunitárias contra a centralização. Embora o Reino Unido tenha nas suas estruturas muita da maleita "revolucionária" que soube domesticar internamente, nem de longe se compara à monstruosidade produzida pelas "Luzes" de Paris (um banho de sangue inconsequente). Os ingleses reformaram a religião e alargaram os despojos do poder à burguesia mercantil, antecipando até o regicídio que os franceses apenas souberam copiar na demanda pela universalidade absoluta das abstracções ideológicas.

No final os britânicos deduziram o sistema e concluíram pelo "meio termo", uma espécie de "república com um rei" (como Locke mais ou menos dizia, por outras palavras; e em Portugal, já no século XIX, Oliveira Martins não deixava de reparar) onde a democracia pode encontrar um diálogo com a monarquia. Um sistema representativo, constitucional, que respeita as liberdades e os direitos, preservando a monarquia como o "fiel da balança", mais do que um poder moderador, o Rei é uma autoridade que em si espelha a tradição e os valores da comunidade. Mas se era verdade em 1793 este contraste pouco se poderá dizer nos dias de hoje.

Daniel Sousa